Whindersson Nunes usou seu perfil no 'X', na noite do último domingo (3), para desabafar sobre os problemas de saúde mental que o levaram a tentar tirar a própria vida. O depoimento, segundo ele, serve para ajudar aqueles que estão na mesma situação em que ele esteve um dia. O humorista e influenciador digital não indicou quando ocorreu a tentativa, mas deixou claro que as ex dele, Luísa Sonza e Maria Lina, não tiveram responsabilidade. O depoimento serviu não apenas para revelar um episódio de sua vida, mas também para chamar a atenção para os números ligados à ideação suicida e autolesão - sendo que não é a primeira vez que Whindersson comenta sobre sua saúde mental.  

 

A terapeuta psicanalista Mariana Sellva, integrante do corpo clínico da Clínica do Renascer, conta que o cenário atual possibilita que as pessoas possam escolher o que vão expressar, qual persona os outros vão conhecer. Sendo que isso também vale para pessoas famosas. "Então, se existe uma liberdade para pessoas sem expressividade na mídia em abordar o tema? Sim, existe. Trata-se de um tema em comum ao indivíduo. Todos temos nossas alegrias e angústias, inclusive elas podem ser muito parecidas independentemente de sermos celebridades, sub-celebridades ou pessoas desconhecidas", diz. 

 



"No fatídico dia, para vocês saberem, eu não estava triste, não era dia de discussão em Twitter [atual 'X'], não era dia de desabafo, era um dia normal, mas eu estava indignado com uma notícia mesmo que vi aqui no Twitter, na época era esse nome ainda", disse o humorista. Sobre o relato, Mariana explica ainda que há uma ideia errônea de que a ideação suicida é proveniente de uma crise muito aguda, "de algo muito grave que todo mundo já vem percebendo". 

 

Ela destaca que o pensamentos suicidas podem ser algo que vem sendo construído, com pensamentos e ações que vão direcionando aquele indivíduo a acreditar em uma história que o leva a pensar que a tentativa de autoextermínio seria a solução para aquele sofrimento. "Não existe uma regra, em clínicas de internação acompanhamos pacientes que precisaram de um único momento de sofrimento para pensar no ato e outros que construíram a ideia por muitos anos. Alguns precisamos de uma lembrança, outros de um acontecimento específico, não tem uma fórmula que mostre quem é que vai ter ou não esse tipo de ideação. Mas, podemos dizer que sempre provém de um sofrimento, uma angústia que não foi dita e elaborado", afirma. 

 

A taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% ao ano no Brasil entre os anos de 2011 e 2022. Já as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 aumentaram 29% a cada ano nesse mesmo período. O número foi maior que na população em geral, cuja taxa de suicídio teve crescimento médio de 3,7% ao ano e a de autolesão 21% ao ano, neste mesmo período. Esses resultados foram encontrados na análise de um conjunto de quase um milhão de dados. O estudo recém-publicado na The Lancet Regional Health – Americas, foi desenvolvido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), em colaboração com pesquisadores de Harvard. 

 

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Encontre ajuda 

 

Ainda que os números choquem pelo crescimento de casos, o tema é delicado e pode até ser intratável no círculo em que a pessoa está inserida. No entanto, Mariana aconselha que as pessoas se mantenham alertas para sinais relacionados ao humor que podem indicar uma ideação suicida, bem como pensamentos, avisos, atitudes irresponsáveis e de desapego, mudanças drásticas na rotina e até a melhoras repentinas. Ela dá como exemplos: a pessoa ao aceitar que o suicídio é a melhor opção muda seu humor, passa a ficar muito bem, como se estivesse aceitado aquela condição. "Um sinal claro é a insistência em acreditar geralmente em uma realidade que a única via para resolução seria a morte. Seja insistindo em palavras, pensamentos ou ações. Às vezes o indivíduo não fala do assunto mas está sempre rodeado de ações que mostram que ele está direcionando sua vida a uma negação, ao não fazer, não sentir, não falar, uma anulação toda e qualquer sobre sua existência", destaca. 

 

"Minha mensagem pra você que, assim como eu, é um sobrevivente, é que depois que parei de pensar nas coisas daqui, e passei a pensar no outro plano, ficou mais fácil levar a vida, dinheiro não vai, casa, tênis, nada, muito menos o tempo que você perdeu em não usar seu talento para ajudar alguém", escreveu o humorista ao fim do post. 

 

Para a terapeuta psicanalista, a angústia e o sofrimento precisam ser ditos, como uma via de reconhecimento do indivíduo a sua própria dor e assim haver a chance de mudança. Sendo que todas as medidas que acolhem a escuta de pessoas em situação de doença mental serão importantes. "Na psicanálise sempre dizemos que precisamos iniciar com a fala. Entendendo que saúde mental precisa ser saúde integral". 


Para quem precisa de ajuda, o acolhimento inicial pode ser feito pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) , pelo telefone 188. O número gratuito e válido em todo o território nacional.

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.

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