O empresário Henrique Silva Chagas, de 27 anos, morreu na tarde dessa segunda-feira (3/6) em uma clínica de estética na Rua Doutor Jesuíno Maciel, no Campo Belo, na zona sul de São Paulo, durante um procedimento conhecido como peeling de fenol.

 

A esteticista e influencer Natalia Fabiana de Freitas Antonio, conhecida nas redes sociais como Natalia Becker, é a dona da clínica e está sendo procurada pela Polícia Civil de São Paulo. Em um primeiro momento, o caso foi registrado como morte suspeita no 27º Distrito Policial (DP) de Campo Belo, e agora já está sendo considerado homicídio, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP) de São Paulo.

 



O que é o peeling de fenol

Apesar de ser utilizado desde o início do século 19, figurando entre os primeiros peelings químicos, o peeling de fenol tem, recentemente, ganhado popularidade entre os pacientes por seus resultados no rejuvenescimento da pele, principalmente em pessoas com maior grau de fotoenvelhecimento.


Trata-se de uma intervenção invasiva e com riscos consideráveis, de recuperação complicada, impossíveis de serem manejadas por profissionais sem a formação adequada (o pós peeling é extremamente delicado, um período durante o qual o paciente não deve se expor ao sol). A literatura médica mostra várias complicações relacionadas ao procedimento, entre essas, toxicidade cardíaca, o que, nas mãos de pessoas sem formação, pode evoluir mal, como o fato em São Paulo. É o que explica a dermatologista presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, regional Minas Gerais (SBD-MG), Gisele Viana de Oliveira.

 

É um tipo de peeling muito profundo, que age em todas as camadas da pele, indicado essencialmente para pessoas mais velhas com quadro de fotodano ou fotoenvelhecimento grande na pele. Gisele Viana observa com surpresa que o rapaz era muito jovem e, pelas fotos, não mostrava esses sinais. Então, para ela, a primeira questão diz respeito à indicação.

 

Ela frisa que integra trabalhos de pesquisa e com médicos dermatologistas que já aplicaram um número grande de peelings de fenol, sem complicações graves para os pacientes. Gisele lembra que, no episódio envolvendo a influencer, a primeira coisa que chama a atenção é justamente se havia indicação para o procedimento.

 

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"Toda vez que o médico recebe em seu consultório um paciente que procura algum procedimento, muitas vezes visto em redes sociais, é preciso ponderar. A indicação precisa ser considerada de acordo com uma necessidade real. Dermatologistas não são vendedores de procedimentos. Não vemos nossa profissão como um comércio", alerta.

 

A especialista reforça, dessa maneira, que o peeling de fenol não deve ser feito em ambientes que não estejam preparados para socorrer eventualidades. "Requer habilidades importantes para evitar sequelas permanentes e graves, como cicatrizes profundas e queimaduras. Precisa ser feito com a assistência de um profissional anestesista, em um local como um bloco cirúrgico ou clínica habilitada e por quem saiba socorrer uma intercorrência, como o que aconteceu", orienta.

 

De acordo com Gisele, o peeling de fenol é um procedimento caracterizado como cardiotóxico (é tóxico para o coração), nefrotóxico (tóxico para os rins) e hepatotóxico (tóxico para o fígado). "Casos de complicações graves geralmente estão relacionados a arritmia cardíaca, como o que provavelmente aconteceu com esse empresário", diz.

 

A comunidade médica, frisa Gisele, percebe com medo o número absurdo de complicações que aparecem rotineiramente depois de procedimentos feitos em clínicas estéticas. "A vigilância sanitária deveria fiscalizar e proibir a realização de procedimentos invasivos por pessoas que não são médicas",  pondera.

 

Ela chama de "sensacionalista a propaganda que divulga a panaceia do peeling de fenol para todas as idades", em suas palavras, vendido apesar dos riscos. Ao mesmo tempo, uma publicidade enganosa também dos profissionais não médicos que se colocam nas redes sociais como doutores, dando a impressão a quem os procura de serem especialistas de fato. "O paciente vê o perfil e não sabe que não é um médico. Temos relatos, por exemplo, de mais de 20 casos de micobacteriose atípica em pessoas que receberam injeção de enzimas na papada por uma única profissional dentista", aponta.

 

O que aconteceu

 

A vítima teria saído do interior rumo à capital paulista para fazer o procedimento, indicado para o tratamento de rugas e flacidez, mas também usado para tratar melasma e marcas de acne. Segundo a Polícia Militar, o jovem sofreu uma parada cardiorrespiratória enquanto era submetido a uma sessão.

 

O empresário passou por uma limpeza de pele anterior à aplicação do fenol e, depois, recebeu um anestésico. O procedimento levou aproximadamente uma hora e, depois, Henrique começou a passar mal. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado, mas a morte do jovem foi constatada ainda no local.

 

Natália, responsável pelo procedimento, teve um mal-estar e precisou de socorro médico, ainda segundo informações do boletim de ocorrência. A influencer contabiliza 232 mil seguidores no Instagram, no perfil em que divulga os resultados, em outros pacientes, do tratamento em questão.

 

Tome cuidado

 

De acordo com a dermatologista, sócia efetiva da Sociedade Brasileira de Dermatologia e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, Mônica Aribi, para aqueles que desejam um rejuvenescimento poderoso, o peeling de fenol pode ser realizado com segurança, basta adotar alguns cuidados. “O profissional deve estar devidamente registrado junto ao Conselho Federal de Medicina e contar com RQE de dermatologista, que é o registro de qualificação de especialidade”, aconselha.

 

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Antes do procedimento, o médico deve realizar uma avaliação para verificar se o paciente está apto a passar pelo peeling, visto que não é indicado em todos os casos. “Além de verificar a qualificação do profissional, é importante também entender se a formulação do peeling utilizado é realmente confiável e se certificar de que o ambiente onde o procedimento será realizado esteja devidamente equipado para amparar o paciente em casos de complicações”, acrescenta.

 

O mais importante, sugere Mônica, é que médico e paciente discutam as diferentes opções entre os procedimentos disponíveis para decidirem juntos o que é melhor para cada caso. “Não hesite em questionar ao profissional sobre vantagens e desvantagens de cada técnica, assim como sobre sua qualificação. Em caso de dúvida, busque uma segunda opinião. E, independentemente do procedimento escolhido, tome muito cuidado com preços muito abaixo do mercado, pois pode ser indício de um profissional desqualificado, uma formulação alterada ou um ambiente despreparado. Nada importa mais que sua saúde e segurança”, recomenda. (com Folhapress)

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