Considerado um dos maiores ídolos do vôlei brasileiro, André Felippe Falbo Ferreira, conhecido como Pampa, morreu aos 59 anos, nesta sexta-feira (7), vítima de linfoma de Hodgkin, tipo de câncer que afeta o sistema linfático. O campeão olímpico nos Jogos de Barcelona 1992 estava em tratamento desde janeiro deste ano e, após complicações pulmonares decorrentes de uma reação aos medicamentos quimioterápicos, precisou ser transferido de um hospital no Rio de Janeiro para um outro centro de saúde, na cidade de São Paulo, onde precisou ser entubado e permaneceu hospitalizado na UTI, em estado grave.
O caso do ex-atleta chama a atenção para a necessidade de ampliação de informações sobre o linfoma, um termo que nos últimos anos vem surgindo com cada vez mais frequência nas manchetes. E não é à toa que ouvir falar sobre esse tipo de câncer está mais comum: no Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que para cada ano do triênio 2023-2025 sejam diagnosticados 3.080 casos de linfoma de Hogdkin e 12.040 de linfoma não Hodgkin. Segundo a entidade, por motivos ainda desconhecidos, o número duplicou nos últimos 25 anos, principalmente entre pessoas com mais de 60 anos.
De acordo com uma pesquisa feita pelo Observatório de Oncologia, entre 2008 e 2017, o linfoma costuma ser diagnosticado tardiamente no Brasil. Cerca de 58% dos pacientes descobrem a doença em estágio avançado e 60% dos homens e 57% das mulheres têm um diagnóstico tardio.
Mas do que se trata esse tipo de tumor?
De forma simplificada, os linfomas podem ser classificados como Hodgkin, mais raro e que afeta em especial jovens entre 15 e 25 anos e, em menor escala, adultos na faixa etária de 50 a 60 anos, ou não Hodgkin, cujo grupo de risco é composto por pessoas na terceira idade (mais de 60 anos). Para Mariana Oliveira, oncohematologista da Oncoclínicas, apesar de não haver prevenção por desconhecimento do que leva ao surgimento da neoplasia, a chave para deter a evolução progressiva do tumor é o conhecimento. "A boa notícia é o fato de os linfomas terem alto potencial curativo. O diagnóstico precoce é fundamental para alcançar o êxito no processo terapêutico, por isso o esclarecimento à população é essencial", afirma.
Sintomas e tratamento
Os sintomas em geral são aumento dos gânglios linfáticos (linfonodos ou ínguas, em linguagem popular) nas axilas, na virilha e/ou no pescoço, dor abdominal, perda de peso, fadiga, coceira no corpo, febre e, eventualmente, pode acometer órgãos como baço, fígado, medula óssea, estômago, intestino, pele e cérebro.
"As duas categorias: Hodgkin e não Hodgkin apresentam outros subtipos específicos, com características clínicas diferentes entre si e prognósticos variáveis. Por isso, o tratamento não segue um padrão, mas usualmente consiste em quimioterapia, radioterapia ou a combinação de ambas as modalidades", explica Mariana.
Em certos casos, terapias alvo moleculares, que tem como meta de ataque uma molécula da superfície do linfócito doente, podem ser indicadas. "Essas proteínas feitas em laboratório atuam como se fosse um ‘míssil teleguiado’ - que reconhece e destrói a célula cancerosa do organismo", ressalta a especialista. Ainda, dependendo da extensão dos tumores e eficácia das medicações, pode haver a indicação de transplante de medula óssea.
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Diante dos desafios impostos pela crescente incidência da doença, novas alternativas terapêuticas vêm surgindo para combater os linfomas, especialmente para os que não respondem aos tratamentos convencionalmente indicados. "A medicina tem avançado nos últimos anos principalmente a partir da terapia celular", afirma a especialista.
Ela conta que o autotransplante, tratamento no qual é realizada uma quimioterapia mais intensa seguida pela infusão da medula do próprio paciente, é uma delas. A terapia com imunoterapia é outra. Com bons resultados apontados por estudos e pesquisas de referência global, o tratamento estimula o organismo do paciente a reconhecer e combater as células tumorais.
"De forma bastante simplificada, podemos dizer que os imunoterápicos desativam os receptores dos linfócitos e, assim, permite que as células doentes sejam reconhecidas. Isso faz com que o organismo volte a combater o tumor - e sem causar efeitos colaterais comuns a outras medicações habitualmente adotadas nos processos terapêuticos", diz Mariana.