Muito tem se falado sobre os microplásticos, minúsculas partículas de plástico, menores que um fio de cabelo, que, segundo evidências crescentes, têm penetrado no organismo por diversas vias, como pela água e pelos alimentos. O impacto exato desses microplásticos na saúde ainda não está claro, mas cada vez mais estudos têm se debruçado sobre o assunto para entender que tipos de consequências esses materiais podem causar.
Por exemplo, um estudo publicado em maio no periódico Toxicological Sciences apontou a presença de microplásticos nos testículos, que, de acordo com os pesquisadores, pode desempenhar um papel na infertilidade masculina. “50% dos casos de infertilidade em um casal estão relacionados com um fator masculino, seja de maneira exclusiva (30%) ou associada a um fator feminino (20%). E, apesar da maioria dos quadros de infertilidade masculina ter causa desconhecida, sabemos que hábitos de vida e fatores ambientais desempenham um papel importante. Então, é possível que os microplásticos estejam envolvidos, podendo ser um dos motivadores por trás da queda mundial na fertilidade masculina que temos observado nos últimos anos”, explica o especialista em reprodução humana, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita, Fernando Prado.
No estudo, os pesquisadores analisaram testículos de 47 cachorros e 23 humanos, nos quais identificaram 12 tipos de microplásticos, sendo que a quantidade de partículas encontradas nos testículos humanos foi três vezes maior do que no sistema reprodutivo dos cachorros: 330 microgramas por grama de tecido contra 123. Em ambas as amostras, o polietileno foi o microplástico mais comum, seguido do policloreto de vinila, mais conhecido como PVC. “O polietileno é o tipo de plástico mais produzido, usados desde embalagens de alimentos e sacolas plásticas até brinquedos. Então, não é à toa que esse foi o tipo de microplástico mais encontrado nos testículos. Isso reforça a importância da produção e descarte consciente dos plásticos utilizados no dia a dia, pois, de acordo com as evidências, existe grande chance de acabarem em nossos organismos”, alerta o especialista.
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Como os testículos humanos estavam preservados, pois foram coletados postumamente, os pesquisadores não puderam entender como os microplásticos afetaram, por exemplo, os espermatozoides. Mas isso foi possível por meio dos testículos de cachorros, obtidos de veterinários após procedimentos de castração. “Os resultados sugeriram que os microplásticos podem estar relacionados com uma redução no peso testicular e na contagem de espermatozoides. E uma baixa concentração de espermatozoides no sêmen, condição conhecida como oligospermia, impacta severamente nas chances de gravidez, uma vez que dificulta a fertilização natural do óvulo”, explica o médico.
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Vale ressaltar que mais pesquisas sobre o tema ainda são necessárias, pois o estudo possui limitações, como a amostra limitada e a falta de refinamento do método de análise dos tecidos, que pode ter levado a perda de certas partículas. “Infelizmente, não há muito o que pode ser feito para diminuirmos nossa exposição aos microplásticos, já que evidências sugerem que eles estão em múltiplos lugares, desde a garrafa de água até o ar. Mas descobertas como essa são fundamentais para alertar sobre o risco dessa exposição, cujo impacto é especialmente preocupante nas gerações mais novas, visto que há uma maior quantidade de resíduos plásticos no mundo atualmente. Então, é importante que sejam adotadas medidas para diminuir a poluição do meio ambiente por esses componentes”, aponta Fernando Prado.