Mulheres na menopausa devem fazer o possível para privilegiar um sono de boa qualidade. Essa recomendação de um estudo recente ainda estabelece que há riscos em não seguir essa diretriz: a má qualidade do sono de uma mulher na perimenopausa e durante o período pode interferir no risco projetado de doenças cardíacas e derrames. “No geral, mulheres na pré, peri e pós-menopausa podem ter alterações no padrão de sono e esses distúrbios tiveram pior pontuação em medidas-chave de saúde cardiovascular, aumentando o risco de doenças no órgão”, explica a endocrinologista, com pós-graduação em endocrinologia e metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ), Deborah Beranger. “As mulheres que estão passando pela menopausa definitivamente deveriam ficar de olho em seus hábitos de sono e levar isso a sério, procurando ajuda ao notar mudanças de padrão”, acrescenta.
Estudos anteriores mostram que cerca de metade das mulheres que passam pela menopausa relatam problemas para dormir, particularmente dificuldade em permanecer no sono ou em acordar muito cedo. “O risco de apneia do sono, que pode estar relacionado a alterações hormonais e ganho de peso, também aumenta nesse período da vida da mulher. A apneia obstrutiva do sono, o tipo mais comum, ocorre quando as vias aéreas bloqueadas fazem com que a respiração pare e comece, impedindo que o corpo receba oxigênio suficiente para se sentir descansado”, diz a endocrinologista.
Numerosos estudos encontraram uma ligação entre sono deficiente ou insuficiente e um risco aumentado de doenças cardíacas e derrames. Em 2022, a American Heart Association adicionou a duração do sono como uma das oito principais medidas de saúde cardiovascular, recomendando que os adultos durmam de sete a nove horas por noite. Os outros componentes incluem: não fumar, manter um peso saudável, permanecer fisicamente ativo, seguir uma dieta saudável e manter a pressão arterial, os níveis de glicose no sangue e de colesterol dentro da faixa normal.
A nova análise incluiu dados de 291 mulheres na pré, peri e pós-menopausa com idades entre 45 e 55 anos. Metade das mulheres no estudo dormiam menos de sete horas por noite, 79% relataram má qualidade do sono, 51% relataram ter insônia, 12% se consideravam notívagos (com hábitos noturnos) e um terço foi considerado de alto risco para apneia do sono. A má qualidade do sono foi mais prevalente em mulheres que iniciaram ou terminaram a menopausa do que naquelas que ainda não haviam entrado na menopausa. “A qualidade do sono, a insônia, o risco de apneia do sono e ser notívago tiveram impacto na saúde cardiovascular geral, segundo o estudo. Mulheres com má qualidade de sono tinham três vezes mais probabilidade de apresentar escores gerais de saúde cardiovascular ruins. Elas também eram mais propensas a ter uma pontuação baixa no componente da dieta”, explica a endocrinologista.
Segundo Deborah, as mulheres que eram notívagas e com alto risco de apneia do sono tinham um risco três vezes maior de escores gerais de saúde cardiovascular ruins. Estar em alto risco de apneia do sono também foi associado a pontuações baixas de pressão arterial, glicemia e peso. A insônia também foi associada a pontuações baixas de peso. “Para as mulheres nesta faixa etária, existe uma vulnerabilidade tanto a problemas de saúde cardíaca como a problemas de sono. É fundamental buscar ajuda médica para equalizar isso”, esclarece.
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Como as mulheres muitas vezes enfrentam múltiplos desafios nesta fase da vida, como estar no topo da carreira e, ao mesmo tempo, cuidar de pais e adolescentes, elas podem simplesmente presumir que esses problemas de sono se devem ao estresse. “Precisamos desmitificar isso para que elas entendam a importância de buscar ajuda médica”, diz a endocrinologista. “As mulheres não deveriam deixar ninguém lhes dizer que é apenas fadiga ou que faz parte por estar nesta faixa etária. É um sinal de que pode haver algo que vale a pena consertar. Se elas estão tendo dificuldades para dormir e isso está afetando seu dia, isso pode ter um impacto na saúde do coração, e existem soluções por aí que podem reduzir esses riscos."
O primeiro passo é consultar um profissional de saúde ou especialista em sono para identificar o problema. “Muitos problemas de sono podem ser prevenidos ou melhorados através da adoção de boas práticas de sono, tais como: permitir-se tempo suficiente para relaxar durante a noite, criar um ambiente escuro e favorável ao sono, reduzir o estresse, a cafeína, a nicotina e o álcool, aumentar a exposição à luz e a atividade física somente durante o dia e definir horários regulares para dormir e acordar. Para problemas mais graves, como insônia, a terapia cognitivo-comportamental ou, se necessário, a medicação pode ajudar”, comenta a médica.
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A apneia do sono também pode ser tratada por meio de mudanças saudáveis no estilo de vida, como perda de peso e aumento da atividade física, ou pelo uso de um dispositivo respiratório. “A menopausa é uma janela precoce para a prevenção de doenças cardiovasculares. Este é realmente um período crítico na vida de uma mulher e há muito que pode ser feito para reduzir os riscos cardiovasculares para que as mulheres possam viver uma vida mais longa e saudável”, indica a endocrinologista.