Mais de 50% dos adolescentes, entre 12 e 17 anos, que consomem alimentos ultraprocessados (AUP), apresentam duração inadequada do sono (menos de 8 horas e mais de 10 horas por dia). O levantamento, realizado pelo Grupo de Estudo, Pesquisa e Práticas em Ambiente Alimentar e Saúde (Geppaas) da Escola de Enfermagem da UFMG, com 66.791 adolescentes, ainda destaca que os ultraprocessados são responsáveis por 28% do consumo de energia dos adolescentes. 


O objetivo do estudo nacional foi verificar a associação entre a duração do sono e o consumo de alimentos ultraprocessados nos adolescentes brasileiros de cidades com mais de 100 mil habitantes, participantes do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica).


Os alimentos ultraprocessados mais consumidos por esses adolescentes têm alto teor de carboidratos: pães embalados produzidos em massa; macarrão instantâneo; bolos e misturas para bolo; produtos prontos para aquecer, incluindo tortas pré-preparadas, massas, pratos de pizza, bolo e pão; biscoitos embalados; refrigerantes; salsichas, hambúrgueres, cachorros-quentes e outros produtos de carne reconstituída.

 



 

A coordenadora da pesquisa, a professora Larissa Loures Mendes, do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem, ressalta que “o aumento no consumo de alimentos ultraprocessados entre aqueles com duração inadequada do sono pode estar relacionado ao aumento da prevalência de obesidade, resistência à insulina e hipertensão arterial nessa faixa etária”, destaca. 


Larissa ainda aponta que os AUP têm alta energia e baixa densidade de nutrientes, alta palatabilidade e grandes quantidades de açúcares, gorduras saturadas e sódio. “Seu alto consumo tem sido associado a distúrbios de humor, início de sintomas depressivos, flutuações de saciedade, perturbações do sono e alterações de apetite”, alerta.


A duração do sono pode impactar na qualidade de vida, pois o tempo adequado é essencial para o pleno desenvolvimento dos adolescentes. “Caso contrário, observam-se danos à saúde psicossocial, afetando o desempenho escolar e até promovendo o desenvolvimento de comportamentos de risco, como uso de álcool e tabaco em adolescentes com duração inadequada do sono”, relata a professora.



Método


Durante o estudo, o nível de consumo desses alimentos foi obtido por meio do registro diário alimentar de 24 horas. A duração do sono foi obtida por meio de questionário, estratificada em duração de sono recomendada (oito a 10 horas por dia) e duração de sono inadequada (menos de oito horas e mais de 10 horas por dia).


A professora explica que o questionário aplicado aos adolescentes foi composto por 105 questões divididas em 11 blocos, abrangendo as seguintes áreas: situação socioeconômica, trabalho, tabagismo, consumo de álcool, atividade física, histórico médico e de saúde, horas de sono, comportamento alimentar, saúde bucal, transtornos mentais comuns e problemas reprodutivos.



Qualidade de vida 


Dos adolescentes que participaram do estudo, 50,21% eram do sexo masculino e 49,79% do sexo feminino; 48,83% de cor parda, 40,05% brancos, 8,31% pretos, 2,12% de descendência do Leste Asiático e 2,12% indígenas; 35,1% com idade entre 12 e 13 anos, 34,99% entre 14 e 15 anos e 29,9% entre 16 e 17 anos; 73,97%, com nível socioeconômico médio, 23,6% nível alto e 2,42% baixo. 



Os adolescentes do sexo masculino com idade de 14 e 15 anos e com alto nível socioeconômico apresentaram maior consumo médio de ultraprocessados. Adolescentes que se autodeclaram brancos apresentam maior consumo médio de AUP quando cumprem a recomendação de sono em comparação aos adolescentes que se autodeclaram pardos.



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Entre aqueles com duração de sono inadequada, os adolescentes que se autodeclaram pretos ou brancos apresentam consumo médio de ultraprocessados maior do que aqueles que se autodeclaram pardos e indígenas.


Larissa pontua que o consumo alimentar é multifatorial, as intervenções para reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados devem incluir múltiplos componentes, considerando mudanças políticas, ambientais e individuais. “Essas medidas devem ter como objetivo reduzir a disponibilidade desses alimentos nos ambientes escolares e domésticos por meio da regulamentação da venda em ambientes escolares, bem como da publicidade e exibição, além da tributação e rotulagem apropriadas”.


Além disso, em nível individual, a professora ressalta que é fundamental implementar atividades de educação alimentar e nutricional com o intuito de promover a sensibilização para hábitos de vida saudáveis entre os jovens e alertá-los sobre os malefícios causados pelo consumo excessivo de AUP. 


“É necessário também desenvolver ações e estratégias que promovam a higiene do sono, como construir uma rotina diária, evitar consumir produtos com cafeína e usar aparelhos eletrônicos antes de dormir e ajustar a temperatura do local para proporcionar um ambiente mais confortável”, recomenda.

 

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.

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