Recente levantamento produzido pelo Laboratório de Imunologia e Bioinformática da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e publicado pela revista da Academia Brasileira de Ciências, mostrou que o descarte de conteúdo vacinal que fica retido no “espaço morto” das seringas utilizadas após as aplicações de vacinas, chega a quase 15% no Brasil.
 
 
“Se levarmos em conta que o SUS aplicou, entre os anos de 2017 e 2021, um total de 527.903.302 milhões de doses de vacinas, o número estimado de doses desperdiçadas nesse período é de aproximadamente 32 milhões”, afirmou o autor correspondente da publicação professor Carlo José Freire de Oliveira.
 
 
O especialista alerta sobre o desperdício financeiro. “Levando em consideração que, além das vacinas, essas seringas são utilizadas para uma diversidade de utilidades nos diferentes espaços de saúde, incluindo UBSs, UPAs, hospitais, etc, estamos falando de milhões de reais jogados fora”, alerta.
 
 
 
Para o professor, algo poderia ser pensado para reduzir essas perdas e prejuízos, aumentando a população atendida e reduzindo os gastos. “O que fizemos foi quantificar o quanto que se desperdiça, transformei em doses perdidas, em milhões jogados fora por algo que ao nosso ver é possível de resolver com pouca pesquisa e pouco esforço”, considerou.
 
 
 
 

O que diz o Ministério da Saúde e Anvisa

 
 
As autoridades técnicas, responsáveis por regular os padrões de produção das seringas, têm conhecimento do elevado “espaço morto” presente nas seringas, responsável pelo volume residual desperdiçado, resultando em milhões de doses perdidas.
 
 
A RDC Nº 541 da ANVISA, de 30 de agosto de 2021, estabeleceu requisitos mínimos de identidade e qualidade para seringas hipodérmicas estéreis de uso comum na vacinação, conforme a ABNT NBR ISO 7886-1.
 
 
“Essa problemática ganhou destaque durante a pandemia, quando o Ministério da Saúde, por meio da NOTA TÉCNICA Nº 996/2021-CGPNI/DEIDT/SVS/MS, destacou que "o volume residual acumulado a cada dose aspirada não é administrado, contudo, é um excedente já contabilizado na graduação da seringa".
 
 
"Isso significa que há um entendimento técnico de que parte do conteúdo da vacina será desperdiçada”, disse o Professor Dr. Carlo.
 
 
Ainda conforme ele, a nota divulgada pelo Ministério da Saúde durante a pandemia complementa que "as farmacêuticas precisam prever no volume total envasado um pequeno excesso, o 'overfill', ou seja, além do volume recomendado para vacinação, deve-se incluir um excedente que será desperdiçado". “A grande questão apontada pelo estudo é que esse volume aceitável atualmente culmina no desperdício de milhões de doses. Isso, coloca de uma maneira propositiva das empresas aplicar esforços para descobrir formas de fazer seringas com menos desperdício; ficará implícito a obrigação delas de pensar numa solução sozinha ou em parceria com as instituições públicas”, finalizou Dr. Carlo.
 
 
 
A reportagem procurou a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde para um posicionamento atual, mas não obteve resposta. Assim que o posicionamento for enviado, a matéria será atualizada.
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