Pais devem ficar alertas à febre do skincare
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Pais devem ficar alertas à febre do skincare

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As redes sociais estão repletas de influenciadores que exibem orgulhosos sua rotina de cuidados com a pele, o famoso skincare. Os vídeos são convidativos, as embalagens atraentes e o número de marcas que investem em produtos voltados para o público infantojuvenil é cada vez maior. Para algumas pessoas até pode parecer fofo ver uma menina tão jovem sendo vaidosa e cuidando da sua aparência, mas não imaginam que, na verdade, essas garotas estão se expondo a muitos riscos.

 


“Temos observado um movimento mercadológico voltado a crianças e pré-adolescentes, especialmente a turma com idade entre nove e 14 anos, que leva a um consumo inadequado de artigos de skincare, muitas vezes desencadeado por conteúdos online que divulgam produtos que não são adequados para esse público, colocando em risco sua saúde e seu bem-estar”, conta a dermatologista Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), da American Academy Of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD).

 


A dermatologista Barbara Miguel, do Hospital Israelita Albert Einstein, também nota essa tendência no seu consultório. “Recebo com frequência crianças entre oito e nove anos, acompanhadas por adultos, que têm mais informação sobre produtos cosméticos do que suas próprias mães”, relata. Segundo Miguel, elas querem saber o que podem usar, pois ficam perdidas com tanta informação. “Uma coisa que sempre falo para pais e filhos é que os pequenos terão a vida inteira para se preocupar com o uso desse tipo de produto e que essa não é a melhor hora para pensar sobre o assunto.”

 


Além de ser desnecessário incluir no cotidiano uma rotina tão extensa e complexa de cuidados com a pele nessa fase da vida, aplicar produtos inadequados pode trazer consequências sérias para os jovens. “Fórmulas destinadas à prevenção e ao combate de rugas, por exemplo, com ativos como ácidos, retinoides e até mesmo antioxidantes em grandes concentrações ou clareadores, podem machucar e fotossensibilizar o tecido, provocando manchas, queimaduras, vermelhidão, coceiras, fissuras e acne”, alerta a dermatologista da SBD, que tem educação médica continuada na Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

 


Isso acontece porque a pele das crianças é mais fina e sensível, pois sua barreira de proteção ainda não está completamente formada. “O tecido só se aproxima do de um adulto em termos de funcionamento por volta dos 12 anos. Quanto mais nova a pessoa for, maior é o grau de absorção de qualquer produto”, explica a médica do Einstein.

 


Daí porque os pequenos são mais predispostos à sensibilização, que pode ser desencadeada por algum ingrediente e que pode levar a reações alérgicas em curto, médio e longo prazo. E quanto mais cedo ocorre a exposição a esses componentes, maior é o risco de provocar uma reação ao longo dos anos.

 

Assim, além de todo o desconforto provocado pelo quadro alérgico, quando realmente chegar o momento de começar a fazer uso desse tipo de produto, a pessoa pode não conseguir. “E ainda vem sendo discutido nos últimos anos que isso pode levar à exposição dos chamados disruptores endócrinos, substâncias químicas que podem estar presentes em algumas fórmulas e mimetizar ou interferir na ação dos hormônios, afetando o equilíbrio hormonal do corpo”, alerta Barbara Miguel.


Quais cosméticos uma criança pode usar?


Os produtos que de fato devem fazer parte do nécessaire dos jovens a partir dos 10 anos, em média, é um sabonete, de preferência neutro e na forma de gel ou loção; uma loção tônica, que equilibra o pH e repõe os nutrientes do tecido, e um hidratante leve, que devem ser utilizados de manhã e à noite; além de um protetor solar.

 

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Existe uma grande variedade de produtos disponíveis para essa faixa etária, tanto de marcas industrializadas quanto em farmácias de manipulação. Por isso, é importante consultar um dermatologista para saber qual é a melhor opção para cada caso e, se for necessário, receitar fórmulas específicas para quadros como acne ou dermatite atópica.

 


Outro cuidado importante que os pais devem ter é fazer um monitoramento das meninas para que elas não utilizem produtos sem orientação, passando aquele que a amiga comprou, por exemplo. Também é essencial verificar se tanta preocupação com a aparência e os cuidados com a pele não podem ser sinal de alguma questão psicológica.

 


“É alarmante a possibilidade de que o uso contínuo de produtos anti-idade por crianças, adolescentes e jovens contribua para uma distorção da autoimagem e da percepção de beleza”, observa a dermatologista Claudia Marçal. “A pressão para prevenir sinais de envelhecimento, antes mesmo de eles surgirem, pode reforçar ideais inalcançáveis de perfeição estética e acaba impactando negativamente na autoestima e no desenvolvimento psicossocial.”