Nas últimas décadas do século 16, os médicos começaram a relatar surtos de uma nova doença infecciosa em todo o mundo.
Na Filadélfia (EUA), Porto Rico, Java (Indonésia) e no Cairo (Egito), as pessoas sofriam de uma doença caracterizada por febre e dores devastadoras em todo o corpo. Elas a chamavam de "febre quebra-ossos".
Cerca de 300 anos depois, em 1801, houve um surto na capital espanhola, Madri. E a rainha da Espanha da época, María Luisa de Parma, contraiu a doença.
Ela escreveu uma carta enquanto se recuperava, descrevendo alguns dos seus sintomas – e se referiu à doença com um nome muito familiar para nós, hoje em dia: dengue."Estou melhor, porque foi o resfriado da moda, que eles chamam de dengue", escreveu a rainha. "Desde ontem, tenho um pouco de sangue, que é o que está me deixando incomodada e, depois de falar por algum tempo, a garganta dói."
Sabemos hoje em dia que a dengue é causada por quatro vírus com relação próxima entre si, de um grupo conhecido como flavivírus.
Eles são transmitidos por determinadas espécies de mosquitos, chamados Aedes aegypti e Aedes albopictus, nas regiões tropicais e subtropicais do planeta. Os surtos podem ocorrer em qualquer lugar onde esses insetos são encontrados naturalmente e podem afetar grande quantidade de pessoas.
Nos quatro primeiros meses de 2024, foram relatados à Organização Mundial da Saúde (OMS) mais de 7,6 milhões de casos de dengue, com 3 mil mortes. O número é superior aos 6,5 milhões de casos relatados em todo o ano de 2023.
No início de julho de 2024, o sistema global de vigilância da dengue mantido pela OMS já havia registrado 9,6 milhões de casos – a maior incidência já registrada, com 5.366 mortes em todo o mundo. Em 2023, foram relatadas à OMS 7,3 mil mortes por dengue.
O Brasil registrou mais de 2,3 milhões de casos prováveis de dengue entre janeiro e março de 2024.
A incidência da doença aumentou rapidamente nos últimos cinco anos. As mudanças climáticas e o fenômeno El Niño trouxeram condições mais quentes e úmidas, que permitiram que os insetos transmissores do vírus se espalhassem para novas regiões, amplificando a transmissão da doença.
Em 2024, o vírus foi encontrado em transmissão ativa em 90 países, com 31 deles relatando números acima do habitual. O maior aumento dos casos foi observado no continente americano.
Em junho de 2024, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) emitiram um alerta de saúde sobre o aumento do risco de infecções por dengue no país.
Mas a história de como a dengue recebeu seu nome oferece uma noção de como o batismo dos vírus é um mundo fascinante e, muitas vezes, aleatório.
Muitos vírus recebem seu nome devido aos sintomas, outros devido ao local e, ainda outros, devido ao animal em que foram encontrados pela primeira vez. Em outros casos, sua etimologia foi perdida nas névoas do tempo.
À medida que as poderosas técnicas de análise facilitam cada vez mais a identificação dos vírus, a lista de vírus conhecidos vem crescendo rapidamente. Em resposta, os cientistas tentam estabelecer alguma espécie de ordem em meio a esse caos, desenvolvendo sistemas de denominação que facilitem a identificação e classificação dos novos vírus, à medida que são descobertos.
'Espírito maligno'
Existem atualmente 14.690 espécies conhecidas de vírus oficialmente classificadas, mas os cientistas não têm uma noção clara de quantos vírus diferentes existem no mundo.
Estima-se, por exemplo, que somente os mamíferos abriguem 320 mil vírus, enquanto outro estudo recente do intestino humano descobriu 140 mil bacteriófagos – um tipo de vírus que infecta as células bacterianas.
São conhecidos cerca de 270 vírus que infectam os seres humanos, mas esta lista também cresce a todo momento, com o surgimento de novas doenças infecciosas causadas por vírus como o Sars-CoV-2, o vírus zika e o Mpox.
A origem exata do nome dengue é um tanto incerta, mas está relacionada aos seus sintomas. As pessoas infectadas sentem que seus ossos e músculos estão paralisando, fazendo com que seus movimentos sejam dolorosos e desajeitados.
Uma teoria afirma que a palavra "dengue" pode ser derivada da versão espanhola do nome da doença em suaíli – ki denga pepo, que significa "súbita tomada por um espírito maligno".
Outra possibilidade é que a palavra tenha derivado da forma como as pessoas pronunciavam "dandy" (nome em inglês da doença) nas Antilhas, onde a dengue é mais comum – ou do equivalente em espanhol "dengeruo", em referência aos movimentos rígidos e descoordenados das pessoas que contraíram a doença.
Esta última possibilidade parece uma forma um tanto jovial de descrever uma doença bastante incômoda.
O vírus da dengue pertence a um grupo de vírus denominados vírus da febre hemorrágica. Muitos deles são transmitidos por picadas de mosquitos, outros por carrapatos e alguns podem chegar às pessoas através de outros mamíferos, como os morcegos.
Existem vírus da febre hemorrágica que podem até ser transmitidos de uma pessoa para outra, por contato direto com o sangue e outros fluidos do corpo.
Todos esses vírus causam sintomas que incluem alta temperatura corporal, fortes dores de cabeça, dores nas juntas e nos músculos, diarreia e vômitos, além de sangramento e confusão mental em lugares aleatórios de todo o corpo.
Nem todas as pessoas terão sintomas visíveis, mas as febres hemorrágicas virais podem ser muito incômodas. Elas incluem os vírus ebola, nipah e marburg, que são doenças excepcionalmente desagradáveis, com alta taxa de mortalidade.
Mas a forma em que as febres hemorrágicas virais ganharam seus nomes é fascinante. Alguns deles vêm de um conjunto de sintomas, como a dengue.
Existe outra febre hemorrágica viral transmitida por mosquitos que prejudica o fígado e causa icterícia nos pacientes. Não surpreende que as pessoas tenham decidido chamá-la de febre amarela.
Mas usar os sintomas como a base para o nome de um vírus traz um problema: outras infecções, muitas vezes, podem ter sintomas parecidos. No caso da febre amarela, muitas infecções do fígado podem causar icterícia e dar coloração amarela ao branco dos olhos, à urina e, às vezes, à pele.
Os vírus da hepatite A, B, C, D e E são bons exemplos, mas o vírus Epstein-Barr causa febre glandular e danos ao fígado, o que pode gerar icterícia. Ele recebeu o nome de dois dos cientistas que o descobriram – o patologista britânico Michael Epstein (1921-2024) e a virologista irlandesa Yvonne Barr (1932-2016).
Já o vírus da rubéola, que causa o sarampo alemão, é outro caso de nome baseado nos sintomas. Ele é derivado do nome em latim para "vermelhinho", devido à irritação que ele causa às pessoas afetadas. E também se descobriu que a rubéola causa problemas hepáticos em casos raros, particularmente em recém-nascidos.
'Aquele que verga'
Mesmo alguns dos vírus com nomes mais interessantes podem ter suas denominações derivadas dos sintomas que eles causam.
O vírus chikungunya é transmitido por mosquitos e causa febre e fortes dores nas juntas. Seu nome pode ser traduzido como "aquele que verga", em língua maconde – o idioma local da região da Tanzânia onde a doença foi reconhecida pela primeira vez. O termo é uma referência à postura agonizante adotada por muitos pacientes infectados pelo vírus.
Outro vírus relacionado que causa sintomas quase idênticos ao chikungunya chama-se o'nyong'nyong. Em dialeto acholi, do norte de Uganda, a palavra significa "enfraquecimento muito doloroso das juntas".
Existem também os vírus que indicam o local onde eles foram identificados pela primeira vez.
O vírus associado à febre hemorrágica boliviana, por exemplo, é chamado de vírus machupo. Este é o nome de um rio em San Joaquin, no norte da Bolívia, perto do local onde foi identificado o primeiro surto da doença, em 1959.
Mas alguns vírus já receberam nomes de dois lugares diferentes, a milhares de quilômetros de distância entre si.
No início de 1967, uma equipe de médicos e cientistas, no local que hoje é conhecido como a República Democrática do Congo, relatou os detalhes de um vírus responsável por surtos de uma febre hemorrágica viral misteriosa que atingia a região desde os anos 1950.
Também em 1967, o virologista russo Mikhail Petrovich Chumakov (1909-1993) publicou as características de identificação de um vírus causador de uma febre hemorrágica transmitida por carrapatos que circulava entre os militares soviéticos na península da Crimeia, desde os anos 1940.
Mas um exame mais detalhado concluiu que os dois vírus eram idênticos, o que levou ao nome combinado de febre hemorrágica da Crimeia-Congo.
Um grande surto de infecções deste vírus no Iraque, no primeiro semestre de 2022, causou 212 casos da febre hemorrágica da Crimeia-Congo, com 27 mortes.
Existem temores de que essa doença possa surgir em novas regiões, já que as mudanças climáticas permitem que os carrapatos transmissores do vírus passem a ser também encontrados mais ao norte. Com isso, eles poderão atingir partes da Europa, como a França, Itália, Espanha e os Bálcãs.
Às vezes, os nomes dados aos vírus recém-descobertos podem ser imprecisos.
Mpox é uma doença dos animais transmitida para os seres humanos. Este tipo de doença é chamado de zoonose.
A doença ficou conhecida como varíola dos macacos até 2022, quando a OMS recomendou a alteração do seu nome para mpox. A intenção foi tentar eliminar o racismo e a estigmatização que acompanhavam o antigo nome.
O nome "varíola dos macacos" surgiu porque a doença foi observada pela primeira vez em macacos enviados da África Central para a Europa, para fins de pesquisa. Mas os macacos eram hospedeiros acidentais. Os principais hospedeiros naturais do vírus são roedores, como o esquilo-listrado-africano.
O vírus é da mesma família da varíola (Orthopoxvirus), mas nem todos os vírus com "pox" no nome estão relacionados.
Um exemplo é o vírus da catapora ("chickenpox", em inglês), mais formalmente chamado de vírus varicela-zóster. Na verdade, ele é relacionado ao vírus herpes simplex, que causa afta e verrugas genitais.
E a catapora também não tem nada a ver com galinhas ("chickens"). Na verdade, o nome comum em inglês vem das bolhas causadas pela doença, talvez pela sua semelhança com grãos-de-bico – ou "chickpeas", em inglês.
Outra teoria sugere que o nome em inglês foi dado porque as crianças infectadas parecem ter sido bicadas por galinhas em todo o corpo.
Já o nome formal do vírus, "varicela", vem do nome em latim para "pontos" (as pústulas grandes da catapora, cheias de fluido e vírus, espalhadas por todo o corpo durante a infecção).
"Zóster" significa "cinto", em referência às faixas definidas de pontos exibidas pelas pessoas com herpes-zóster.
Mas, nos últimos 40 anos, a identificação formal continuou a ser aprimorada. E o nome oficial do vírus, agora, soa levemente estranho: Varicellovirus humanalpha3.
Tudo isso demonstra a transformação que atingiu a definição de nomes para os vírus nos últimos anos.
Colocando ordem no caos
Dar aos vírus nomes de sintomas ou lugares pode ter um estranho apelo romântico. Mas, como sistema de classificação de vírus, este costume não tem a lógica e a ordem necessária para os virologistas.
Os cientistas precisam compreender as relações biológicas para ajudá-los a criar exames de diagnóstico e desenvolver tratamentos antivirais. Eles podem ajudar a prever o comportamento dos vírus emergentes e auxiliar no desenvolvimento de vacinas.
Por isso, os cientistas do Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV, na sigla em inglês) – o órgão que mantém a lista de vírus com nomes aprovados – passaram a buscar melhores formas de organizar essa classificação.
Os avanços da tecnologia de sequenciamento genético deixaram os cientistas muito mais bem equipados para identificar se dois vírus são relacionados entre si ou não.
Alguns vírus que causam sintomas similares, na verdade, podem ser completamente diferentes. As febres hemorrágicas virais, por exemplo, podem ser causadas por quatro famílias de vírus diferentes.
A forma de agrupar os vírus depende da sua composição genética.
Talvez você conheça as fitas de DNA entrelaçadas que são encontradas nos nossos corpos – a famosa hélice dupla – e em todos os outros animais vivos, das bactérias até as plantas e os animais.
No mundo dos vírus, tudo fica muito mais complicado. Alguns deles não têm essas duas fitas de DNA, enquanto outros podem ter apenas uma.
Muitos vírus, incluindo aqueles que causam doenças desagradáveis como as febres hemorrágicas virais, o covid-19 e os vírus da gripe, usam um material genético diferente, chamado de RNA.
Alguns têm duas fitas de RNA, enquanto outros têm apenas uma.
Estas distinções genéticas de alto nível podem ser muito úteis para entender as relações entre os vírus.
Elas são a base de um sistema de classificação projetado pelo virologista David Baltimore, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech, na sigla em inglês), nos Estados Unidos.
Neste sistema, os vírus são classificados em um dentre sete grupos, baseados no tipo de material genético que eles carregam.
Para os vírus que usam DNA para o seu genoma, o sistema é bastante direto. O Grupo 1 é formado pelos vírus com fita dupla de DNA e os do Grupo 2 têm DNA de fita simples. Já o Grupo 3 é formado pelos vírus de RNA de fita dupla.
Alguns vírus possuem uma única fita de RNA, que pode sequestrar diretamente as ferramentas celulares que traduzem o material genético em proteínas nas células infectadas. Estes são conhecidos como vírus de RNA com sentido positivo e formam o Grupo 4.
Para os demais, o código de RNA precisa de processamento adicional na célula antes de poder ser traduzido. Estes são conhecidos como vírus de RNA de sentido negativo e formam o Grupo 5.
Por fim, foram criadas duas categorias adicionais para vírus complexos que não se enquadram em nenhum desses grupos principais.
O Grupo 6 compreende vírus de RNA cujo material genético é transformado em DNA como parte fundamental do seu ciclo de vida, como o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
E os vírus do Grupo 7 usam DNA de fita dupla, mas com uma das fitas incompleta, de forma que um pedaço de RNA precisa ser elaborado pelo caminho. Um exemplo é o vírus da hepatite B.
Gêneros e espécies
A classificação dos vírus não termina por aqui. Vamos observar dois vírus que produzem sintomas parecidos nas pessoas infectadas.
O vírus da dengue é um vírus de RNA com sentido positivo, como o chikungunya. Mas, se examinarmos mais de perto os detalhes do seu código genético, fica claro que eles são consideravelmente divergentes.
Ao tentar identificar um vírus – em uma amostra de paciente, por exemplo –, os virologistas procuram as diferenças, não as similaridades.
O grupo que inclui todos os vírus de RNA de fita simples com sentido positivo é útil, mas é amplo demais. Por isso, outro sistema de classificação complementar emprega princípios similares a um sistema que foi desenvolvido para classificar todos os organismos biológicos. Ele é conhecido como sistema de Lineu – em homenagem ao biólogo sueco Carl Linnaeus (1707-1778).
É neste esquema taxonômico que entra o ICTV. O organismo classifica os vírus em domínios, ordens e famílias.
Neste sistema, o vírus da dengue é da família Flaviviridae e do gênero Flavivirus, o mesmo do vírus da febre amarela. Já o chikungunya se enquadra na família Togaviridae e no gênero Alphavirus, junto com o o'nyong'nyong.
Os comitês de especialistas do ICTV deliberam e determinam o agrupamento dos vírus à medida que surgem novos conhecimentos científicos. Eles, então, alteram a taxonomia conforme o necessário.
O ICTV pode também resolver disputas sobre os nomes dos vírus. Um bom exemplo ocorreu em meados dos anos 1980, quando foi identificado um novo vírus, causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).
Havia dois possíveis nomes: vírus linfotrópico de células T humano III (HTLV-III) e vírus da linfadenopatia (LAV). Estas denominações foram propostas pelas principais equipes de pesquisa envolvidas no isolamento e na caracterização do vírus, mas elas não conseguiam chegar a um acordo e ninguém concordava em fazer concessões.
Por isso, o ICTV decidiu pelo nome Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, na sigla em inglês), utilizado universalmente desde então.
Mas este é um trabalho árduo. Novas gerações de tecnologias de sequenciamento genético estão fazendo com que o número de vírus conhecidos aumente rapidamente.
Cinco anos atrás, havia cerca de 800 espécies de vírus conhecidas, segundo o professor de virologia Peter Simmonds, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Ele preside um dos subcomitês do ICTV que discute o agrupamento dos vírus.
Agora, o número de vírus relacionados no catálogo do ICTV já se aproxima de 15 mil.
A maioria dos vírus conhecidos, até onde sabemos, não causa doenças. Mas os vírus nocivos costumam receber nomes reconhecíveis, além das designações oficiais alocadas pela taxonomia do ICTV.
O papel do ICTV "está na forma em que eles são classificados, embora exista alguma coincidência entre os virologistas que fazem a denominação e a classificação", explica Simmonds.
Ele destaca que foi "um grupo de estudos do ICTV que criou o nome Sars-CoV-2" para o novo coronavírus, em 2019.
Com a velocidade das descobertas científicas, o número de vírus que precisam ser agrupados na taxonomia do ICTV poderá em breve atingir 100 mil, segundo Simmonds.
E esta estimativa pode até soar conservadora para Jens Kuhn, virologista-chefe da Unidade de Pesquisa Integrada do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, na sigla em inglês) em Fort Detrick, no Estado americano de Maryland. Kuhn é especialista no vírus ebola (outra febre hemorrágica viral) e presidente de um dos subcomitês do ICTV que discutem o agrupamento dos vírus.
"Os vírus são maravilhosos, do ponto de vista científico", afirma ele.
Kuhn preside outro subcomitê do ICTV, dedicado a organizar os imensos números de vírus sendo descobertos atualmente. "Com cada novo vírus descoberto, tudo vai ficando mais complicado."
Estas descobertas levaram recentemente o ICTV a rever a classificação de todos os vírus, para descrevê-los em termos de gêneros e espécies, como se faz no restante da biologia.
"Quando todas as espécies receberam novos nomes, muitos virologistas ficaram muito surpresos", ele conta.
Mas estes nomes oficiais são importantes para garantir que os cientistas possam se comunicar de forma eficiente, com a colaboração cada vez maior entre os colegas de todo o mundo, como explica Kuhn.
A pandemia de covid-19 presenciou colaboração científica internacional em escala sem precedentes. Os pesquisadores compartilharam seus dados, trabalhando em conjunto para enfrentar a ameaça global representada pelo vírus Sars-CoV-2.
"Os nomes das espécies são escritos da mesma forma em todas as partes do mundo", afirma Kuhn. "Eles são latinizados e usam o alfabeto latino." Isso significa que não pode haver dúvida sobre qual vírus está sendo indicado em um ambiente formal.
Mas ele admite que, como seres humanos, precisamos rotular as coisas e o nome precisa ser memorizável. "Nós homenageamos a diversidade dos vírus com a diversidade da linguagem", afirma ele.
Um exemplo é o ebola. "Seu som é fascinante e, por isso, ele tem ressonância." Já o nome oficial do ICTV, Orthoebolavirus zairense, tem menos probabilidade de despertar a imaginação das pessoas.
E quanto ao vírus da dengue? Ele também recebeu uma nova denominação do ICTV, em 2022. Agora, ele atende por um nome muito menos chamativo: orthoflavivirus denguei.
Certamente mais estruturado, mas muito mais difícil de decorar. A própria rainha da Espanha precisaria de um tempo para pensar antes de escrever.
Como os vírus são diagnosticados
A primeira metade do século 20 presenciou avanços significativos da microscopia, que aumentaram nossa capacidade de detectar e identificar os vírus.
Os vírus, em sua maioria, são pequenos demais para serem observados em um microscópio óptico normal, por mais poderosa que seja a sua resolução.
Mas o advento do microscópio eletrônico permitiu a detecção e caracterização de muitos vírus importantes. Foi assim que o vírus da hepatite B, por exemplo, foi descoberto em 1970.
A virologia do século 21 tem ainda mais ferramentas à sua disposição, incluindo o sequenciamento rápido do material genético dos vírus.
Poderosas tecnologias de sequenciamento de genomas completos também permitem aos cientistas encontrar todo o material genético de uma amostra e, com a ajuda de computadores, compará-lo com os vírus conhecidos.
E a tecnologia também pode ajudar a identificar sequências virais desconhecidas. Foi o que aconteceu quando os cientistas de Wuhan, na China, identificaram o novo coronavírus, Sars-CoV-2, em 2019.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.