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Myriam Chimen diz que os "resultados são emocionantes"

crédito: Universidade de Birmingham/Divulgação

Produzido naturalmente pelo organismo, um peptídeo natural chamado pepitem (sigla de inibidor peptídico da migração transendotelial) poderá "rejuvenescer" a imunidade em idosos, protegendo contra inflamações decorrentes do envelhecimento e associadas a doenças que vão do Alzheimer ao câncer. Em um artigo publicado na revista Npj Aging, pesquisadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, afirmaram que a pequena proteína poderá, no futuro, restaurar as defesas de adultos mais velhos, melhorando a saúde em geral.

O pepitem foi identificado por cientistas da universidade inglesa há nove anos e, depois, patenteado. Nesse período, diversos estudos da equipe demonstraram seu potencial na mediação de processos que envolvem leucócitos — um importante grupo de células responsáveis por combater infecções.

 

 

No ano passado, os pesquisadores publicaram um artigo na revista Clinical Experimental Immunolgy demonstrando que, em roedores, a proteína reduziu a inflamação associada à obesidade, abrindo caminho para futuras drogas para tratar excesso de peso, além de diabetes 2. Há dois meses, outro estudo da equipe demonstrou a ação do pepitem na restauração óssea no quadro de osteoporose. 

 

 

Agora, os cientistas, liderados por Myriam Chimen, Asif Iqbal e Helen McGettrick, observaram como o envelhecimento influencia negativamente a resposta inflamatória e de que forma o processo pode ser revertido pelo pepitem. O estudo foi realizado em roedores e em células humanas.  

 

 

Tráfego 

Segundo os autores, no sistema imunológico saudável, a cadeia de peptídeos regula o tráfego das células de defesa entre a corrente sanguínea e os tecidos do corpo. Assim, os "soldados" naturais do organismo combatem agentes estranhos sem exagero. Porém, muitas doenças imunomediadas, como artrite reumatoide, diabetes 1 e lúpus, são caracterizadas por um erro na resposta imunológica, que é exagerada, levando à inflamação crônica.

 "A inflamação é uma resposta imunológica do corpo que é, por si só, útil: nosso sistema imunológico a utiliza para combater patógenos ou remover células danificadas do tecido", esclarece Francesco Neri, pesquisador do Instituto de Envelhecimento Fritz Lipmann, na Alemanha. "Uma vez que o sistema imunológico fez o seu trabalho, a inflamação diminui: a infecção acabou, a ferida está curada. Diferentemente dessas inflamações agudas, a crônica relacionada com a idade não é local. O sistema imunológico aumenta sua atividade em geral, resultando em doenças crônicas", afirma. 

Na Universidade de Birmingham, os pesquisadores fizeram experimentos com ratos jovens e mais velhos, para avaliar até que ponto o pepitem influencia o tráfego dos leucócitos nos dois grupos. No caso dos animais idosos, a resposta imunológica exagerada foi reduzida quando os cientistas administraram o peptídeo em quantidade superior à que o corpo produz. "Isso indica um declínio na atividade da via pepitem com a idade", destaca Myriam Chimen.

 

Hormônio

Depois, os cientistas investigaram a causa potencial do declínio da produção da proteína com a idade. Para isso, usaram células B, um tipo de leucócito, de doadores humanos mais jovens (menos de 45 anos) e mais velhos (acima dos 60). "O pepitem se origina de uma proteína maior secretada pelas células B, e a produção é desencadeada por um hormônio circulante chamado adiponectina", explica Chimen. "Na corrente sanguínea, a proteína atua nos receptores das células que revestem as paredes dos vasos sanguíneos."

No estudo, descobriu-se que as células B de adultos mais velhos eram deficitárias no sinal enviado pelo hormônio para que o pepitem seja produzido. "Demonstramos que isso influencia o tráfego das células T, como visto na inflamação", diz a cientista. "Esses resultados verdadeiramente emocionantes levantam a possibilidade de desenvolver um agente protetor que não apenas reduz a inflamação excessiva na velhice, mas também garante uma boa função imunológica em pessoas idosas."

Músculo-esqueléticas

Os pesquisadores da Universidade de Birmingham também estão otimistas com o potencial do pepitem como intervenção clínica para reverter o impacto das doenças músculo-esqueléticas relacionadas com a idade. Em um artigo na revista Cell, uma equipe de cientistas da instituição relatou que a proteína melhora a mineralização e a formação de osso, além de reverter a perda óssea em modelos animais de osteoporose.  

Inflamação crônica

Helen McGettrick, pesquisadora líder do estudo, esclarece que, ao longo da vida, o osso é constantemente formado e remodelado. Até 10% do tecido é substituído por meio da interação entre dois grupos celulares: osteoblastos e osteoclastos. Perturbações nesse processo são responsáveis por características de doenças como a osteoporose e a artrite reumatoide, que apresentam degradação óssea excessiva, ou espondilite anquilosante, onde ocorre crescimento anormal do osso. Em um estudo em modelo animal de menopausa, os cientistas notaram que o pepitem regula a remodelação óssea, aumentando a força e a densidade do tecido, atuando da mesma forma que o organismo mais jovem. Outra pesquisa do grupo, em animais com artrite, mostrou que a erosão no osso foi significativamente reduzida.

À medida que o organismo envelhece, o sistema imunológico desencadeia uma inflamação constante e de baixo nível, mesmo quando não há nada de errado internamente. Nos últimos anos, os pesquisadores cunharam um termo para esta inflamação contínua de baixo grau na idade avançada: inflammaging (combinação das palavras inglesas inflammation e aging, que significa envelhecimento). Quando a inflamação persiste a longo prazo, tem o potencial de levar a vários problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, hipertensão e câncer. 

A inflammaging pode afetar muitos aspectos da saúde, contribuindo para uma variedade de doenças relacionadas à idade. Existem medidas que ajudam a retardar o processo, promovendo a saúde e o bem-estar geral. Entre elas, dormir ao menos sete horas por noite e fazer exercícios físicos regulares que elevem a frequência cardíaca, além de evitar cigarro e bebidas alcoólicas.

Fonte: Universidade da Flórida