Nas redes sociais, a ginasta brasileira Rebeca Andrade publicou um banho frio em um sessão de crioterapia -  (crédito: Reprodução/Redes Sociais)

Nas redes sociais, a ginasta brasileira Rebeca Andrade publicou um banho frio em um sessão de crioterapia

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Osteopatia, crioterapia, adesivos para dor. Os Jogos Olímpicos são uma vitrine privilegiada de um grande número de terapias ou produtos de eficácia cientificamente não comprovada, oferta que já prolifera há algum tempo no universo do esporte de alto nível. 

 

 

"No esporte há uma grande propaganda de todas as medicinas alternativas: há muita procura por parte dos atletas", explica à AFP o neurologista DiLeiadier Bouhassira, renomado especialista em dor. 

Melhorar o desempenho, combater a dor e o cansaço Os motivos são variados para explicar esta tendência, que volta a ganhar destaque a cada edição dos Jogos Olímpicos.

Há oito anos, nos Jogos do Rio, a técnica da terapia com ventosas, ou "cupping", ganhou grande relevância midiática após ser elogiada pelo nadador Michael Phelps, apesar da falta de homologação científica. 

Em 2024 outra terapia desperta a adesão de muitos: a crioterapia, que promete ajudar atletas na recuperação por meio do frio e cuja aplicação mais simples é o banho de água fria.

 

 600 toneladas de gelo

 

Diferentes federações solicitaram um total de mais de 1.500 toneladas de gelo, segundo um artigo do British Journal of Sports Medicine, uma quantidade muito superior à oferta disponível, portanto terão que se contentar com 600 toneladas, o que de todo modo é dez vezes mais do que nos Jogos de Tóquio em 2021. 

No entanto, embora os banhos de água fria tenham demonstrado ser benéficos em casos específicos, como na recuperação de insolação, "o gelo é frequentemente usado com a ideia de obter benefícios que não foram comprovados", diz o artigo.

Os autores, que criticam o uso rotineiro da crioterapia entre diversas sessões de exercícios, apontam o impacto ambiental da produção e preservação de tais quantidades de gelo. 

Mas, entre os atletas, a rainha das terapias alternativas continua sendo a osteopatia. Onipresentes nas equipes técnicas das federações, os osteopatas também estão integrados nos quadros dos serviços médicos oficiais dos Jogos, para o acompanhamento diário dos atletas.

 

 

Críticas à indústria farmacêutica

 

 

Mas a osteopatia, que promete solucionar uma vasta gama de disfunções do organismo graças às manipulações corporais, carece de base científica e muitos especialistas questionam a sua eficácia. 

Um estudo, publicado em 2021 na JAMA Internal Medicine, e realizado em pacientes com dores nas costas, comparou a osteopatia com técnicas extravagantes que serviam como placebo. A diferença "não foi provavelmente significativa no plano clínico". 

Os osteopatas oferecem aos atletas, acima de tudo, "bem-estar sem propriedades curativas", explicou à AFP Pascale Mathieu, presidente do grêmio de cinesiologistas, enquanto inúmeros profissionais ocupam os cargos de osteopatas e cinesiologistas.

"O que vou lutar mesmo é para evitar que a osteopatia chegue aos hospitais", afirmou.

 

 Propaganda, não ciência

 

Mas qual é o problema de promover práticas de eficácia duvidosa, que ainda assim respondem às exigências dos atletas e lhes dão tranquilidade em meio ao estresse da competição? 

As posições variam dentro da comunidade médica, com críticas mais fortes quando se trata de um importante ator de saúde que mantém um discurso clinicamente discutível. 

A gigante farmacêutica Sanofi foi criticada por ter elogiado os benefícios de um adesivo para a dor, denominado Initiv, antes dos Jogos Olímpicos.

A Sanofi garantiu à AFP que um estudo clínico sobre este adesivo foi "recebido de forma favorável pela comunidade científica", mas este trabalho, realizado sem comparação com um placebo, não convenceu o doutor Bouhassira. 

"Um produto é elogiado como um milagre, mas estamos diante de pura propaganda e muito distantes da ciência", lamentou o neurologista.