O número de pessoas que usam cigarro eletrônico no Brasil quadruplicou em quatro anos. Dos 500 mil usuários, em 2018, o IPEC registrou um salto para 2,2 milhões em 2022. Apesar de proibidos pela Anvisa, os vaporizadores, “pods” ou “vapes”, como são conhecidos, continuam populares no Brasil, especialmente entre os mais jovens - segundo pesquisas, uma em cada cinco pessoas com idade entre 18 e 24 anos já fez uso dos aparelhos.

“Seja pelos sabores aparentemente inofensivos, design atraente ou pela facilidade de uso, os vaporizadores passam uma falsa sensação de segurança, mas entregam nicotina em maior concentração”, explica a médica brasileira especialista em cannabis medicinal, à frente da farmacêutica canadense Thronus Medical, Mariana Maciel. “Por seu apelo entre os mais jovens, causam dependência precoce e intensa. É nesse cenário que o sistema endocanabinoide vem ganhando importância”, conta.



 

A cannabis medicinal é uma das alternativas cada vez mais adotadas pelos especialistas no tratamento contra o vício, que geralmente combina o uso de medicamentos e terapia. O canabidiol (CBD), uma das substâncias encontradas na planta cannabis sativa, promove a regulação do sistema endocanabinoide, que se relaciona diretamente com sintomas como ansiedade e estresse, comuns durante crises de abstinência da nicotina - receptores canabinoides atuam nos mecanismos de recompensa e na dependência do corpo.

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“O canabidiol age justamente no córtex pré-frontal e frontal e colabora na liberação da dopamina, neurotransmissor que tem o papel essencial na regulação de experiências agradáveis do nosso cérebro, como prazer ou saciedade. Essas sensações ajudam muito a resistir aos sintomas causados pela abstinência do vape”, diz Mariana. “O curioso é que, no início, muito se disse que vaporizadores seriam aliados na diminuição do tabaco, mas não há qualquer evidência que ratifique isso. Pelo contrário, pode trazer aumento de consumo, já que, com o tempo, é preciso fumar mais para ter a mesma sensação de recompensa”, completa.

Sistema canabinoide contra o vício

Um estudo piloto, randomizado e controlado por placebo duplo cego, avaliou o impacto do uso de canabidiol em fumantes interessados em parar de fumar. Vinte e quatro fumantes foram aleatorizados para receber inalação de CBD ou placebo por uma semana e instruídos a usar o inalador quando sentissem vontade de fumar. Durante a semana de tratamento, os fumantes  tratados com placebo não mostraram diferenças no número de cigarros fumados. Enquanto isso, aqueles tratados com CBD reduziram em 40% o número de cigarros fumados durante o tratamento. Os resultados também indicaram alguma manutenção deste efeito no acompanhamento a médio e longo prazo.

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Estes dados preliminares, somados à forte fundamentação pré-clínica para o uso deste composto, sugerem que o CBD é um tratamento potencial para vício de nicotina. “Os efeitos ansiolíticos, antipsicóticos e reguladores do sono do CBD auxiliam também no alívio de sintomas de pacientes em tratamento de abuso de drogas lícitas e ilícitas”, destaca a especialista, que lembra que qualquer tratamento do tipo só pode ser adotado com anuência de um médico prescritor de cannabis medicinal. “Em casos de tratamento para o vício é fundamental o profissional também para acompanhamento contínuo do caso”.

Qualidade de vida melhora sem tabaco

Quem se livra do tabaco percebe uma melhora importante no ritmo cardíaco e no fôlego logo nas primeiras 72 horas sem fumar, período em que o corpo consegue expelir definitivamente a nicotina. “Em duas semanas ocorre a normalização da circulação”, explica Mariana. Além de adotar o canabidiol, é importante criar outros mecanismos de recompensa. “Se o paciente não faz exercícios físicos, é recomendável que comece alguma atividade, como caminhar ou meditar. Manter-se hidratado e não deixar que possíveis recaídas coloquem tudo a perder são importantes. É preciso estar, acima de tudo, informado sobre os malefícios do tabaco”, recomenda a médica.

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