SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O plástico está em toda parte, mas você sabia que ele também está dentro de você?

 

Partículas minúsculas de plástico já foram localizadas no sangue, no coração, no fígado, nos intestinos, na placenta, no leite materno, no cérebro e até nos testículos humanos.

 



Esse é o resultado tanto do descarte inadequado do lixo plástico como do aumento exponencial da presença desse material na vida contemporânea. Estima-se que estejam acumulados nos oceanos entre 75 e 200 milhões de toneladas de lixo plástico.

 

 

Os animais marinhos confundem pedaços de plástico com suas presas e ingerem esses resíduos -às vezes em tamanha quantidade que seu trato digestivo fica entupido e eles morrem de inanição.

 

 

Quem não se sensibiliza com o sofrimento animal, agora tem outro motivo para se preocupar com o lixo plástico nos mares: é que ele pode acabar no seu prato.

 

Isso porque o plástico sofre um processo permanente de degradação e de fragmentação que gera os chamados microplásticos, partículas com menos de 5 milímetros de diâmetro encontradas em toda parte. No mar, também estão dentro de ostras, mariscos e peixes comuns ao consumo humano.

 

Existe ainda um subgrupo do microplástico chamado de nanoplástico. São partículas que medem menos de 1000 nanômetros, ou um centésimo de milímetro -70 vezes menor do que a espessura de um fio de cabelo.

 

Os microplásticos encontrados no corpo derivam de diferentes tipos de polímeros: o polipropileno da embalagem de sorvete, o politereftalado de etileno, também conhecido como PET, o poliuretano das espumas e esponjas. E eles não vêm só do mar.

 

Pesquisas já apontaram que eles entram no nosso organismo pelas vias oral, respiratória e dérmica (pela pele).

 

Via oral é um caminho não só pelo consumo de frutos do mar, mas também da água da torneira, água mineral engarrafada em plástico e até da cerveja, além do sal marinho, iogurte, arroz, frutas e vegetais.

 

Um estudo britânico estimou que ao longo de uma semana o ser humano ingere, em média, 5 gramas de microplásticos durante a alimentação, o que equivale ao peso de um cartão de crédito.

 

Já a via respiratória é uma porta de entrada permanente de microplásticos. As partículas são desprendidas de tecidos sintéticos, plásticos e pneus, e ficam dispersas no ar a ponto de já terem sido encontradas em regiões remotas dos alpes italianos, onde produtos embalados em plástico praticamente não chegam.

 

Em Paris, por exemplo, um projeto mensurou a quantidade de microplástico dispersa na atmosfera. Os resultados mostraram que , numa pancada de chuva, caíam mais de cem quilos de plástico junto com a água na capital francesa.

 

Estudos que mediram a quantidade de microplástico em ambientes abertos apontaram que a concentração dessas partículas é até 45 vezes maior dentro das casas, onde a concentração de plástico tende a ser maior: estofados, tapetes, roupas, sacolas embalagens, eletroeletrônicos... a lista é extensa.

 

Por último, a via dérmica, que é a menos estudada, e que pode ter como fonte tanto os ticos do ar como aqueles contidos em maquiagens, cremes e outros cosméticos.

 

Por qualquer uma das vias de entrada, cientistas acreditam que as menores partículas de microplástico penetrem na corrente sanguínea e se instalem em diferentes órgãos do corpo.

 

Enquanto defensores do plástico afirmam que essas partículas podem ser inertes, pesquisas apontam na direção contrária e já associaram a presença de microplásticos a doenças cardiovasculares.

 

Além disso, alguns materiais contêm certos tipos de aditivos que já foram identificados como cancerígenos ou disruptores endócrinos, o que quer dizer que eles geram desequilíbrios hormonais, como puberdade precoce, por exemplo. Mas esses efeitos ainda estão em estudo.

 

Medidas para reduzir a exposição a eles inclui privilegiar roupas de tecidos naturais, beber água filtrada, evitar recipientes plásticos para alimentos e nunca levá-los ao microondas.

 

Há quem defenda que o único caminho é a redução da presença deste material apenas aos itens essenciais à vida. Também há pesquisas em busca de soluções em fungos e bactérias que parecem ser capazes de digerir micropartículas de plástico.

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