Lesão de Rebeca Andrade está entre as mais sofridas por atletas. -  (crédito: Loic Venance/ AFP)

Lesão de Rebeca Andrade está entre as mais sofridas por atletas.

crédito: Loic Venance/ AFP

Nesta quinta-feira (1/8), a ginasta brasileira Rebeca Andrade, considerada uma das melhores do mundo, subiu ao pódio dos Jogos Olímpicos, em Paris, para receber a medalha de prata do individual geral da ginástica artística. Mas o caminho da atleta até o pódio foi marcado por desafios. Rebeca já precisou passar por três cirurgias devido a lesões do ligamento cruzado anterior (LCA), que é a principal causa de indicação cirúrgica entre atletas.

 

“O ligamento cruzado anterior (LCA) é responsável por estabilizar a articulação do joelho, principalmente em momentos de aceleração e desaceleração ou em movimentos de giro. Justamente por esse motivo a lesão dessa estrutura é tão comum em esportes que exigem mudanças frequentes de posição, como o futebol, ocorrendo devido à torção do joelho. O mecanismo do trauma geralmente envolve a movimentação do joelho para dentro ao mesmo tempo em que a tíbia é rotacionada para fora e o pé está preso ao chão”, explica o ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), Marcos Cortelazo.

 

Não são apenas atletas profissionais que estão suscetíveis a sofrer com esse tipo de lesão, que também pode afetar esportistas amadores e até mesmo não praticantes de atividades físicas, por exemplo, devido a quedas. “Obesidade, fraqueza muscular, sobrecarga de treinos, idade avançada, hipermobilidade articular, joelho valgo (para dentro) e lesões prévias do LCA são alguns dos fatores que podem favorecer a ocorrência desse tipo de trauma”, diz o especialista.

A lesão do ligamento cruzado anterior é geralmente acompanhada de um estalo seguido por uma dor súbita no joelho. “Após o momento do trauma, o paciente pode notar inchaço e sentir redução da mobilidade e instabilidade da região, com a sensação de joelho frouxo e falhando”, afirma o médico, que também alerta que a intensidade dos sintomas pode variar de acordo com a gravidade da lesão, com algumas pessoas conseguindo realizar atividades normalmente, enquanto outras sentem dores mesmo com o menor dos movimentos. “Na dúvida, o mais importante é sempre buscar auxílio médico ao suspeitar de uma possível lesão do LCA, tanto para confirmar o diagnóstico quanto para verificar a ocorrência de outras lesões comumente associadas, como lesões do menisco e das cartilagens”, esclarece o ortopedista.

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Segundo Marcos, aquecimento e alongamento adequados antes da atividade esportiva, prática de exercícios de fortalecimento muscular e equilíbrio e uso de calçados adequados para o exercício e terreno são alguns dos cuidados necessários para prevenir a lesão do LCA, além de evitar a sobrecarga nos treinos e prestar atenção à fadiga muscular.

No entanto, uma vez que a lesão tenha ocorrido, o ortopedista poderá indicar o tratamento adequado que, na grande maioria dos casos, exige intervenção cirúrgica. “Geralmente, o tratamento cirúrgico só não é indicado para pacientes idosos, sem lesões associadas, que não realizam atividade física e com a estabilidade do joelho preservada. Caso contrário, a cirurgia é recomendada para reconstruir o ligamento rompido, já que possui baixa capacidade de cicatrização por si só”, elucida o especialista, que explica que a cirurgia é pouco invasiva, por ser realizada por videoartroscopia, e utiliza enxertos de tecidos, como tendões, retirados do próprio paciente, para reconstrução do LCA.

 

“Mas tão importante quanto a cirurgia é o processo de reabilitação pós-operatória, que, se realizada de maneira inadequada, pode comprometer o sucesso do tratamento. Esse processo envolve, principalmente, sessões de fisioterapia, com foco, inicialmente, na recuperação dos movimentos e, depois, no fortalecimento do ligamento.”

A boa notícia é que, hoje, com os avanços nas técnicas de cirurgia e reabilitação, grande parte dos pacientes consegue retornar à prática esportiva no mesmo nível de intensidade e performance, o que não acontecia antes, quando muitas carreiras eram encerradas por esse tipo de lesão.

 

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“Para isso, é fundamental que o tratamento seja adequado e o retorno seja gradual, de acordo com a velocidade de reabilitação do paciente e sempre com liberação do médico. O tempo necessário para que o atleta retorne as atividades pode variar de acordo com cada caso, mas é importante que esse processo não seja apressado, pois retornar precocemente à prática esportiva pode aumentar significativamente o risco de lesões no joelho”, indica Marcos Cortelazo.