Há quem ainda associe a prática de atividade física à regularidade da presença em academias e centros de crossfit, por exemplo. Ledo engano: qualquer tempo dedicado a movimentar o corpo, independentemente da intensidade, trará benefícios à saúde, até mesmo na prevenção do câncer.
Dois estudos recentes, inclusive, publicados em dezembro de 2023 e janeiro deste ano, reforçam a afirmação acima. O primeiro, uma pesquisa sueca feita com cerca de 58 mil homens, com idade média de 41,4 anos, publicada no "British Journal of Sports Medicine", constatou que aqueles com maior capacidade cardiorrespiratória apresentam 35% menos risco de terem câncer de próstata quando comparados com os de aptidão reduzida.
Já em relação ao câncer de mama, um levantamento do Instituto de Pesquisa em Câncer do Reino Unido, publicado no "Journal of Clinical Oncology", concentrou-se em mulheres na pré-menopausa. Ao analisar dados dos relatos de pouco mais de 547 delas foi identificado que níveis mais altos de atividade física no lazer estavam associados à redução de 10% no risco da enfermidade.
A oncologista clínica Elisa Fontes reforça que quem se exercita, além de ganhar mais disposição, consegue, obviamente, controlar o peso, o que diminui as chances de obesidade, um dos principais fatores desencadeadores de grande parte das doenças oncológicas. “Já temos estudos que mostram que a prática [de atividade física regular] corrobora para um estilo de vida mais saudável, ou seja, aqueles que se preocupam em manter o hábito, tendem a se alimentar melhor, beber mais água, etc. Todo esse rol de cuidados previne uma série de doenças metabólicas, endócrinas, como diabetes e hipertensão, além dos tumores neoplásicos”.
A especialista, que faz parte da equipe da Cetus Oncologia, também pontua que apesar de todas as atividades serem importantes, as aeróbicas, muitas delas simples e fáceis de serem feitas no dia a dia, como subir escadas, caminhar no parque, além de utilizar a bicicleta para se deslocar, melhoram o condicionamento físico e promovem alterações hormonais capazes de prevenir doenças cardiovasculares. “Vale lembrar que a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é realizar pelo menos 150 minutos [de atividades físicas aeróbicas] por semana.”
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Questionada sobre qual o melhor momento da vida para incorporar a atividade física na rotina, Elisa é taxativa: a infância. Porém, segundo a oncologista, nunca é tarde para começar. Os próprios pacientes em tratamento oncológico devem se movimentar. “Pesquisas atuais, aliás, comprovam que o principal aliado para combater a fadiga causada tanto pela doença oncológica quanto pelo tratamento quimioterápico, é a atividade física. Muitos [pacientes], por sinal, acham essa informação contraditória e pensam que, pelo fato de estarem cansados, não podem se movimentar, o que é um grande equívoco: a atividade física aumenta a disposição, enrijece os músculos e, portanto, pode fortalecer o paciente durante o tratamento.”
Porém, que a rotina de atividades para quem está enfrentando a doença vai depender de cada quadro, por isso, o melhor caminho para o paciente é sempre conversar com o médico, acompanhado por um educador físico, alinhando os exercícios mais aptos para seu cenário e assim diminuir os riscos de lesão e excesso.
"O mais importante, contudo, é que ela [atividade física] será sempre a melhor escolha. Proporciona não só benefícios físicos e estéticos, mas também mentais. O paciente dorme melhor, se alimenta bem e, ao se exercitar, libera hormônios de prazer que contribuem para que ele enfrente o tratamento com mais otimismo. É um remédio importante e complementar para a quimioterapia. Não pode, jamais, ser negligenciado, muito menos ignorado”, alerta Elisa.