O congelamento de óvulos se tornou uma opção para quem pretende engravidar depois dos 35 anos -  (crédito: Getty Images  Letícia Naísa  De VivaBem, em São Paulo  27/06/2022 04h00  Maternidade é quase sempre um assunto presente em rodas de conversas entre mulheres. Entre as novas gerações, adiar o momento de ser mãe tem sido cada vez mais frequente. Por isso, a troca de experiências, informações e curiosidades sobre o congelamento de óvulos também é um tema que desperta interesse.  O procedimento é indicado não apenas para quem quer adiar a maternidade por questões sociais e profissionais, mas também para mulheres jovens que recebem diagnóstico de câncer ou que enfrentam menopausa precoce, e se tornou muito popular nos últimos anos —apesar de ainda ter valores salgados.  Relacionadas Congelamento de óvulo: tem idade melhor? Quanto tempo dura? Convênio cobre? Viviane Araújo quer congelar óvulos aos 44 anos; existe idade ideal? Ela engravidou naturalmente aos 45: 'Pelos médicos, desistiria desse sonho'  Um levantamento feito pela revista Time em 2021 mostrou um aumento de 50% do número de procedimentos nos Estados Unidos desde 2019. No Brasil, é difícil mensurar essa procura. Existem 183 centros de reprodução humana assistida no país, sendo que a maioria está concentrada na região Sudeste, segundo o último relatório do SisEmbrio (Sistema Nacional de Produção de Embriões).  O documento também mostrou que houve aumento de 11,6% no número de embriões congelados no Brasil entre 2018 e 2019. Por isso, a percepção dos especialistas é de que o congelamentos de óvulos também tem se tornado cada vez mais popular. Como é feito?  Antes de começar o procedimento, é preciso que o médico avalie a reserva ovariana da paciente para determinar quantos óvulos em média devem ser congelados.  Por meio de medicamentos, é estimulado o crescimento dos folículos ovarianos, onde ficam os óvulos. Os ovários vão crescendo de tamanho para produzir o máximo de óvulos que eles forem capazes. Quanto mais óvulos, maiores as chances de uma gravidez futura vingar.  Os remédios normalmente são aplicados pela própria paciente e de forma subcutânea, ou seja, devem ser injetados no abdome com uma seringa. A dosagem da medicação vai depender da idade e do histórico de saúde.  Normalmente, a medicação é aplicada por cerca de 10 a 12 dias, que é o tempo necessário para a liberação dos óvulos. A coleta é feita em uma clínica. É necessária aplicação de anestesia geral, mas o procedimento é rápido, dura cerca de 20 minutos. Os óvulos são colhidos com um transdutor com uma agulha. Qualquer pessoa pode fazer? Grávida gravidez segura sapatos sapatinhos de criança bebê - Andre Furtado/ Pexels - Andre Furtado/ Pexels Imagem: Andre Furtado/ Pexels  A princípio, sim. O ideal é que seja feito até os 35 anos de idade.

O congelamento de óvulos se tornou uma opção para quem pretende engravidar depois dos 35 anos

crédito: Getty Images Letícia Naísa De VivaBem, em São Paulo 27/06/2022 04h00 Maternidade é quase sempre um assunto presente em rodas de conversas entre mulheres. Entre as novas gerações, adiar o momento de ser mãe tem sido cada vez mais frequente. Por isso, a troca de experiências, informações e curiosidades sobre o congelamento de óvulos também é um tema que desperta interesse. O procedimento é indicado não apenas para quem quer adiar a maternidade por questões sociais e profissionais, mas também para mulheres jovens que recebem diagnóstico de câncer ou que enfrentam menopausa precoce, e se tornou muito popular nos últimos anos —apesar de ainda ter valores salgados. Relacionadas Congelamento de óvulo: tem idade melhor? Quanto tempo dura? Convênio cobre? Viviane Araújo quer congelar óvulos aos 44 anos; existe idade ideal? Ela engravidou naturalmente aos 45: 'Pelos médicos, desistiria desse sonho' Um levantamento feito pela revista Time em 2021 mostrou um aumento de 50% do número de procedimentos nos Estados Unidos desde 2019. No Brasil, é difícil mensurar essa procura. Existem 183 centros de reprodução humana assistida no país, sendo que a maioria está concentrada na região Sudeste, segundo o último relatório do SisEmbrio (Sistema Nacional de Produção de Embriões). O documento também mostrou que houve aumento de 11,6% no número de embriões congelados no Brasil entre 2018 e 2019. Por isso, a percepção dos especialistas é de que o congelamentos de óvulos também tem se tornado cada vez mais popular. Como é feito? Antes de começar o procedimento, é preciso que o médico avalie a reserva ovariana da paciente para determinar quantos óvulos em média devem ser congelados. Por meio de medicamentos, é estimulado o crescimento dos folículos ovarianos, onde ficam os óvulos. Os ovários vão crescendo de tamanho para produzir o máximo de óvulos que eles forem capazes. Quanto mais óvulos, maiores as chances de uma gravidez futura vingar. Os remédios normalmente são aplicados pela própria paciente e de forma subcutânea, ou seja, devem ser injetados no abdome com uma seringa. A dosagem da medicação vai depender da idade e do histórico de saúde. Normalmente, a medicação é aplicada por cerca de 10 a 12 dias, que é o tempo necessário para a liberação dos óvulos. A coleta é feita em uma clínica. É necessária aplicação de anestesia geral, mas o procedimento é rápido, dura cerca de 20 minutos. Os óvulos são colhidos com um transdutor com uma agulha. Qualquer pessoa pode fazer? Grávida gravidez segura sapatos sapatinhos de criança bebê - Andre Furtado/ Pexels - Andre Furtado/ Pexels Imagem: Andre Furtado/ Pexels A princípio, sim. O ideal é que seja feito até os 35 anos de idade. "Até essa idade, a reserva ovariana está mantida", explica Aline Monteiro, ginecologista e especialista em reprodução humana, membro da SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida) e da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). "O ovário ainda tem uma quantidade boa de óvulos e também tem qualidade. Os óvulos mais saudáveis têm mais chances de serem fertilizados e gerar um bom embrião", completa. Ao longo do tempo, a qualidade dos óvulos vai diminuindo, e há risco deles não formarem um embrião saudável. Quanto mais velha a mulher, é melhor que congele mais óvulos para ter mais chances de uma gravidez de sucesso. O problema é que, quanto mais velha, menos óvulos ela tem para serem congelados —e pior fica a qualidade destes óvulos. Para cada faixa etária, é indicado congelar um certo número de óvulos: Até 34 anos, de 11 a 15 óvulos Dos 35 aos 38, de 16 a 20 A partir dos 38, de 21 a 30 Existe contraindicação? Não existe contraindicação para o congelamento de óvulos, mas existem algumas condições. "Não vale a pena fazer acima dos 40 anos, porque pode ser frustrante", afirma Andrea Nacul, ginecologista e membro da comissão especializada em endometriose da Febrasgo. "Às vezes, as pacientes chegam com 40, 43, 45 anos, para fazer congelamento ou mesmo fertilização in vitro, mas as taxas de sucesso são muito menores com o avanço da idade", diz. Também é preciso que a paciente esteja saudável. Entre pacientes obesas e hipertensas, o ideal é que elas percam um pouco de peso e mantenham a pressão estável antes do procedimento, até para que as doses necessárias de hormônio sejam menores. Mulheres fumantes também são aconselhadas a suspender o cigarro para poder congelar os óvulos. Quem toma pílula anticoncepcional também deve parar com o medicamento durante a aplicação dos remédios para estimulação ovariana. "Depois que é feita a coleta, a paciente está liberada para voltar a usar o anticoncepcional", diz Nacul. Já quem usa qualquer tipo de DIU pode passar pelo procedimento sem precisar retirar o dispositivo. Em casos oncológicos, o recomendado é que o congelamento seja feito antes do tratamento do câncer —que pode afetar a fertilidade. Se a paciente já passou pelo tratamento de quimioterapia, o ideal é esperar pelo menos seis meses para fazer o congelamento. Outro tipo de paciente que precisa de atenção na hora de optar pelo congelamento de óvulos são aquelas que têm diagnóstico de ovários policísticos. Entre essas, é preciso que o médico avalie a dosagem de medicamentos, já que elas têm uma reserva ovariana aumentada, mas com óvulos de menor qualidade, muitas vezes. Bomba de hormônio? Ovários - iStock - iStock Imagem: iStock Apesar de parecer que os hormônios podem causar mal, os especialistas consultados por VivaBem afirmam que os efeitos colaterais são toleráveis e raros. "Não é uma bomba de hormônios, são cerca de 10 dias de injeção —e tem gente que toma pílula por 20 anos", observa a ginecologista Aline Monteiro. "E não engorda!", brinca a médica Andrea Nacul. Existem riscos anestésicos e cirúrgicos, como em qualquer procedimento, mas é difícil acontecer alguma complicação. Pacientes com risco de desenvolver trombose também são casos raros, menos de 1% da população, segundo Monteiro. "O estado mais trombogênico que existe é a gravidez", afirma. As pacientes podem apresentar alguns dos efeitos colaterais durante a estimulação ovariana: Dor nas mamas Dor de cabeça TPM Os riscos são mínimos e complicações de congelamento de óvulos são muito raras de acontecer. "A tecnologia evoluiu muito, tudo é feito com muita segurança", afirma Claudio Leal, professor adjunto da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e ginecologista especialista em reprodução humana. "Antigamente, a gente fazia o congelamento só de embriões, porque eles são mais resistentes, mas nos últimos anos as técnicas de congelamento de óvulos melhoraram, 80% a 90% dos óvulos congelados podem ser aproveitados." Tem no SUS? Quanto custa? Existe a opção para pacientes que fazem tratamento de câncer pelo SUS de fazer o congelamento de óvulos de forma gratuita, mas são poucos hospitais públicos no país que oferecem o serviço. Na maioria das vezes, o procedimento é feito em clínicas particulares. Contando os custos de consultas, medicamentos e mão-de-obra dos profissionais envolvidos, pode sair por cerca de R$ 15 mil. Depois de feito o procedimento, é preciso pagar uma taxa anual de cerca de R$ 1.000 para manter os óvulos congelados em nitrogênio líquido —ou seja, "na geladeira". Publicidade Veja também Cobra naja apreendida em Brasília ganha perfil no Instagram e memes bombam Como foi o terremoto que destruiu Lisboa em 1755? Museu simula a tragédia Milagre? Entenda por que algumas doenças somem espontaneamente 1 Comentário


O congelamento de óvulos é uma técnica indicada, em especial, para mulheres que desejam postergar a maternidade por motivos pessoais, seja ele relacionado à carreira, ao planejamento familiar de longo prazo ou ainda por questões relacionadas à saúde. Há também aquelas que aguardam a chegada do parceiro ideal para, então, formar uma família. Isso é o que mostra, inclusive, um levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De acordo com o  IBGE, as mulheres têm engravidado cada vez mais tarde no Brasil. Para se ter ideia, nos últimos 10 anos, o aumento de gestação na faixa etária que vai dos 35 aos 39 anos foi de 63%, em contrapartida, a taxa de nascimentos entre mães com até 19 anos caiu 23% no mesmo período. Frente a esse cenário, o congelamento de óvulos se tornou uma opção para quem pretende engravidar depois dos 35 anos, conforme explica a médica Larissa Matsumoto, especialista em Reprodução Assistida da Vida Bem Vinda, unidade do FERTGROUP.

 

“Nós recomendamos que a consulta com um especialista em reprodução assistida entre no check-up da mulher até os 30 anos de idade, para que se faça uma avaliação da sua reserva ovariana e avaliar a possibilidade de congelamento dos óvulos, especialmente quando já possuem histórico na família de menopausa precoce, ou se possuem endometriose, por exemplo, que podem reduzir a reserva ovariana de forma mais acelerada. Porém, na maioria das vezes, as pacientes já chegam na clínica com mais de 35 anos, quando já houve uma perda muito acentuada de óvulos”.

 

Essa necessidade de atenção ao tempo, vale lembrar, é justificada na literatura médica, pois a fertilidade da mulher está intimamente relacionada à idade. “Isso porque as mulheres nascem com cerca de dois milhões de óvulos, que vão diminuindo ao longo do tempo. Sabemos que aos 37 anos, já perdemos 90% dos nossos óvulos. Os homens, que produzem espermatozoides a vida inteira, mas perdem em qualidade”, pontua Larissa Matsumoto.

 

 

Por esse motivo, mesmo que a gestação seja um plano futuro ou ainda inexistente, é importante que hajam alternativas posteriores, conforme o desejo da mulher. “Quando há muita espera na tomada de decisão da gestação, e não é realizado um planejamento, as chances de sucesso dos tratamentos de fertilidade podem ser menores, pois além da quantidade, a qualidade desses óvulos também, é afetada com o tempo. Perdemos a capacidade de produzirmos embriões com potencial de gerar a gravidez", alerta a médica.

Contudo, é importante ressaltar que, embora seja uma boa alternativa para não ficar presa ao relógio biológico, isto é, ter um prazo para engravidar, a técnica de congelamento exige um passo a passo cuidadoso, além de um bom acompanhamento médico.

“Hoje a quantidade de mulheres que congelam óvulos ainda é muito pequena, e nós precisamos melhorar esse cenário, tendo em vista que as chances de gravidez de forma natural, caem ao longo dos anos, e uma mulher com 40 anos, ao longo de um ano possui 20% de chances de engravidar naturalmente, antes dos 35, idade ideal para o congelamento, 85% das mulheres conseguem a gestação de forma natural”, argumenta a especialista.

Mas, afinal, como é feito o congelamento de óvulos? De acordo com Larissa Matsumoto, o procedimento é feito em algumas etapas:



Estimulação


O primeiro passo para realizar o procedimento é procurar uma boa clínica de reprodução assistida onde, inicialmente, os especialistas vão solicitar exames para avaliar a reserva ovariana e planejar o número de óvulos a serem congelados, para que ofereçam chances de gestação no futuro.

Depois, é feito um estímulo para que estes óvulos se tornem maduros. O estímulo ovariano, com medicações possibilitará a captação do número de óvulos que o ovário tenha naquele mês, avaliado pela reserva ovariana. Isso porque, normalmente, o organismo disponibiliza um lote de folículos por mês, mas o ovário só consegue amadurecer um óvulo por ciclo menstrual. A estimulação ovariana potencializa esse processo.

Nessa fase são aplicadas injeções hormonais de gonadotrofina na barriga por cerca de dez dias para estimular o crescimento dos folículos ovarianos, onde estão “guardados” os óvulos. A dosagem varia de acordo com a necessidade de cada paciente.

Esse procedimento pode ter efeitos colaterais como dores de cabeça, inchaço abdominal, alterações de humor, entre outros sintomas. Mas durante todo esse processo, que dura entre uma e duas semanas, a evolução da paciente é acompanhada através de ultrassonografias, até a definição da coleta dos óvulos.

Coleta

 

Após a estimulação, é hora de marcar o dia da coleta, que dura em média de 15 a 30 minutos, e ocorre com a paciente anestesiada. Lembrando que algumas mulheres não sentem nenhum desconforto após a coleta, enquanto outras podem ter cólicas por um ou dois dias. O procedimento é rápido, e de baixo risco.



Congelamento


Já no laboratório, cerca de duas horas após a coleta, os óvulos são avaliados, e apenas os maduros e saudáveis seguem para um processo de congelamento.

Durante essa fase, os óvulos são tratados com substâncias crioprotetoras e imersos em nitrogênio líquido a 196ºC negativos, processo conhecido como vitrificação. Isso é o que os protege e diminui a quantidade de líquido em seu interior, evitando a formação de cristais (responsáveis por danificá-los).

Por fim, eles são congelados em paletas identificadas e armazenadas em tanques por prazo indeterminado, ou seja, podem ser usados quando a paciente desejar. No entanto, vale dizer, o Conselho Federal de Medicina (CFM) orienta que a fertilização in vitro seja realizada até os 50 anos, pois, a partir dessa idade, há um aumento expressivo de complicações durante a gestação.



Descongelamento e fertilização


Quando a mulher decide que chegou a hora de engravidar basta procurar a clínica para dar andamento no procedimento, isto é, retirar os óvulos do nitrogênio líquido para serem fecundados junto ao espermatozóide do parceiro (ou de um doador anônimo), através da fertilização in vitro (FIV).

Depois, os embriões escolhidos são implantados no útero. “Não é 100% de certeza que a paciente vai conseguir engravidar, por isso, o ideal é congelar no mínimo 15 óvulos, para uma mulher de até 35 anos, e calculado de acordo com a idade, caso esta mulher deseje realizar o processo mais tardiamente, isso para que as chances de gravidez sejam altas”, conclui.