A relação entre o vírus do papiloma humano (HPV) e o câncer de orofaringe é um tema de relevância na oncologia moderna, especialmente devido ao aumento da incidência desse tipo de câncer nos últimos anos.
A incidência de câncer de orofaringe associado ao HPV tem aumentado, especialmente nos países desenvolvidos, ao contrário do câncer de orofaringe relacionado ao tabagismo e ao álcool, que tem diminuído.
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O HPV é um grupo de mais de 200 tipos de vírus, alguns dos quais estão associados ao desenvolvimento de câncer. Os tipos de HPV são divididos em alto e baixo risco, dependendo de sua capacidade de causar câncer.
O HPV de alto risco
Os tipos HPV-16 e HPV-18 são os mais associados ao desenvolvimento de câncer, incluindo o câncer de orofaringe. O HPV-16 é o tipo mais comum relacionado ao câncer nesta região.
O câncer de orofaringe refere-se a tumores malignos que se desenvolvem nas células do tecido linfóide, principalmente nas amígdalas. O tipo histológico mais comum é o carcinoma de células escamosas.
De acordo com a médica cirurgiã de cabeça e pescoço Andressa Teruya Ramos, há uma relação estreita entre HPV e o câncer de orofaringe.
“O HPV-16, ao infectar células da mucosa da orofaringe, produz proteínas virais que inativam genes supressores de tumor que naturalmente atuam como protetores do organismo. Isso resulta em proliferação celular descontrolada e desenvolvimento de câncer. Essas proteínas virais também promovem a instabilidade genômica, facilitando a progressão para o câncer”, adverte a médica.
Perfil do paciente
Os pacientes com câncer de orofaringe positivo para HPV tendem a ser mais jovens e menos frequentemente fumantes ou consumidores de álcool em comparação com aqueles com câncer negativo para HPV. O histórico sexual, incluindo o número de parceiros sexuais orais, é um fator de risco significativo.
A prevalência do HPV-16 é de aproximadamente 60-70% dos casos de câncer de orofaringe positivos para o HPV, sendo o HPV-16 o tipo mais prevalente.
Segundo a especialista, entre os sintomas estão dor de garganta persistente, dificuldade para engolir, sangramentos, rouquidão ou mudança na voz, caroço no pescoço (íngua/linfonodo cervical aumentado) e até dor no ouvido.
Diagnóstico
Para a detecção do HPV, há o teste de p16 por imuno-histoquímica. A super expressão de p16 é um marcador indireto útil para identificar a infecção por HPV em cânceres de orofaringe. E, ainda, PCR para DNA do HPV. A reação em cadeia da polimerase (PCR) pode ser usada para detectar o DNA do HPV nas amostras tumorais.
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“Tumores positivos para HPV têm um prognóstico melhor em comparação com tumores negativos para HPV, com maiores taxas de resposta ao tratamento e sobrevida”, comenta Andressa.
Tratamentos
Podem abranger uma cirurgia para remover tumores primários pequenos em estágio inicial. A cirurgia robótica transoral (TORS) é uma abordagem minimamente invasiva e uma ótima ferramenta de tratamento. Além disso, a radioterapia, frequentemente combinada com quimioterapia, pode ser utilizada também como tratamento definitivo da doença.
"As duas modalidades de tratamento podem atingir a cura e sempre escolhemos aquela que irá gerar menos danos ao paciente. Quanto mais jovem o paciente, maior o tempo que ele terá para conviver com as sequelas do tratamento. Por isso é tão importante ser avaliado por um especialista que irá indicar o melhor tratamento de forma personalizada."
Há ainda a imunoterapia, uma droga que auxilia o próprio sistema imunológico a combater a doença. Hoje é utilizada em casos de tumores recorrentes ou metastáticos, com resultados promissores.
Prevenção
A vacinação contra o HPV é altamente eficaz na prevenção de infecções por HPV e, consequentemente, na redução do risco de câncer de orofaringe. A vacinação é recomendada para meninos e meninas antes do início da vida sexual, mas também pode ser benéfica para adultos jovens.
O uso de preservativos e a limitação do número de parceiros sexuais podem reduzir o risco de infecção por HPV.
“O câncer de orofaringe associado ao HPV representa uma mudança importante no panorama dos cânceres de cabeça e pescoço, com implicações significativas para a prevenção, diagnóstico e tratamento. A vacinação contra o HPV é uma estratégia preventiva eficaz, e o reconhecimento da relação entre HPV e câncer de orofaringe tem levado a melhores resultados de tratamento e sobrevida. A conscientização e a educação contínuas sobre a importância da prevenção e a detecção precoce são fundamentais para reduzir a incidência e o impacto desse tipo de câncer”, explica a médica.