Mpox: Argentina põe em quarentena navio que deixou Brasil  -  (crédito: EBC - Saúde)

Em agosto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência de saúde internacional por conta do aumento de casos da mpox

crédito: EBC - Saúde

Em 14 de agosto de 2024, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência de saúde internacional por conta do aumento de casos da mpox, antes conhecida como varíola do macaco. Desde então, circula nas redes sociais um vídeo com mais de 20 mil interações do médico alemão Wolfgang Wodarg alegando que os sintomas da doença são os mesmos do herpes-zóster e uma reação das vacinas contra a COVID-19.

 

 

Contudo, especialistas afirmaram à AFP que o herpes-zóster e a mpox são causados por vírus diferentes. Além disso, não há evidências sobre um vínculo entre a mpox e os imunizantes anticovid. 


"O pneumologista e internista Alemão Dr. Wofgang Wodarg indicou: ‘O que nos vendem como MONKEYPOX é, na maioria dos casos, o chamado Herpes Zoster; um dos efeitos secundários mais frequentes da ‘vacina’ Covid", diz o texto com o vídeo compartilhado no Telegram, no X, no Instagram, no Facebook, no Threads e no Kwai. 

 

 

O conteúdo também circula em espanhol. De acordo com a tradução incluída na sequência viral, Wolfgang Wodarg afirma que os médicos atribuem qualquer bolha com dor intensa à mpox, doença antes conhecida como varíola do macaco, quando na realidade se trata de um quadro clínico típico de herpes-zóster. E acrescenta que a mpox é uma consequência das vacinas contra a COVID-19. 

 

O conteúdo começou a circular após a Organização Mundial da Saúde (OMS)declarar, em 14 de agosto de 2024, emergência de saúde internacional após o aumento de casos da mpox na África. 

 

A mpox é uma doença viral transmitida por animais que foi descoberta em colônias de macacos em 1958, mais de 60 anos antes do surgimento das vacinas contra a COVID-19. Identificou-se pela primeira vez em humanos em 1970 na República Democrática do Congo, e era considerada uma doença endêmica em alguns países africanos. 

 

Vídeo de 2022 

Algumas peças de desinformação circulam com a logomarca"AUF1"do lado direito do vídeo, que corresponde à emissora alemã AUF1 - Televisão Independente Alternativa, Canal 1.

 

O site do canal descreve que a programação informa sobre assuntos como "vacinação obrigatória", "transumanismo", "terror de gênero", "histeria climática" e outras teorias da conspiração como o "grande reinício". 

 

Também foi possível encontrar no site o vídeo original de onde foi recortada a sequência viral, publicado em 28 de junho de 2022. Na entrevista de 45 minutos, Wodarg relaciona a mpox com os efeitos secundários da vacina contra o COVID-19, segundo a descrição do AUF1.

 

Um jornalista da AFP de Berlim revisou as afirmações em alemão feitas pelo médico na entrevista e indicou que Wodarg disse que os sintomas atrelados à mpox são os mesmos do herpes-zóster e que a indústria farmacêutica busca assustar as pessoas, além de afirmar que os efeitos colaterais do coronavírus estão sendo usados para inventar novos negócios.

 

A AFP já verificou outra alegação falsa difundida pelo médico. 

 

Vírus diferentes

Contudo, diferentemente do que afirmam as publicações, não existe nenhuma relação entre a mpox e o herpes-zóster.

 

Embora alguns sintomas sejam similares, as doenças não são causadas pelo mesmo vírus, segundo informou Isaac Bogoch, professor da Faculdade de Medicina Temerty da Universidade de Toronto, à AFP em maio de 2022, ao ser consultado sobre afirmações semelhantes que circularam à época.

 

O herpes-zóster é causado pelo vírus da varicela zóster (VVC), um dos nove vírus de herpes conhecidos e o mesmo que transmite a catapora. Em contrapartida, a mpox é causada pelo orthopoxvirus, da família poxviridae, a mesma que causa varíola humana.

 

Os vírus pertencem a grupos distintos e, portanto, são impossíveis de confundir do ponto de vista morfológico, como assegurou Giliane Trindade, pesquisadora do Departamento de Microbiologia do Instituto da Universidade Federal de Minas Gerais, em junho de 2022, para a AFP.

 

"Se eles tivessem que ser visualizados em uma microscopia de alta resolução, eles têm partículas virais, têm formas absolutamente distintas. Do ponto de vista genético, são também muito distintos. É a mesma coisa de a gente comparar gato com cachorro",  afirmou Trindade. 

 

Adriana Morales, médica infectologista e membro da Sociedade Peruana de Doenças Infecciosas e Tropicais, afirmou à AFP que "o vírus da mpox gera febre, lesões papulares no rosto, nas palmas das mãos, nas plantas dos pés e nos genitais. Também pode causar pústulas e crostas, além de crescimento de gânglios".

 

 

Esses sintomas se diferenciam do herpes-zóster, que se manifesta através de "lesões do tipo pápulas menores, ampolas, que seguem um dermatoma, ou seja, que têm uma distribuição linear que pode ser no tórax, no rosto e, que, além disso,  gera uma dor intensa localizada muito característica". 

 

Efeito da vacina contra COVID-19?

A AFP já verificou anteriormente a alegação falsa de que a mpox é um efeito colateral das vacinas contra a COVID-19. À época, em junho de 2022, David Heymann, professor de epidemiologia de doenças infecciosas na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM, na sigla em inglês), afirmou que "não há nenhum motivo para afirmar que o surto da varíola do macaco esteja relacionado com as vacinas".

 

O infectologista Román Zucchi, do Sanatório Sagrado Coração da Cidade de Buenos Aires, disse à AFP também em junho de 2022 que não há "nenhum argumento biológico a favor" da alegação. "Não é nem provável, nem possível. É impossível", declarou.

 

O especialista explicou que as plataformas de vacinas atuais contra a COVID-19 não possuem capacidade de "gerar" vírus, ainda mais um tipo de vírus que não compartilha a mesma natureza que o SARS-CoV-2, pertencente à família dos coronaviridae.