Durante os Jogos Olímpicos de Paris estamos vendo duas atletas do boxe serem alvo de questionamentos quanto ao gênero, se poderiam de fato competir como mulheres.  As boxeadoras Imane Khelif, da Argélia, e a duas vezes campeã do mundo, Lin Yun-Ting, de Taiwan, estão no centro dessa polêmica e foram alvos de agressões nas redes sociais.

 

Imane Khelif foi acusada de ser transsexual. A boxeadora e sua família declararam que ela é mulher. Fotos de Imane criança circularam nas redes sociais mostrando que ela sempre foi tratada como menina. Na Argélia, há leis contra a homossexualidade e a transexualidade, o que torna improvável que a atleta fosse selecionada para competir pelo país se não fosse uma mulher cisgênero.

 



 

Mas o que é cisgênero, transgênero, intersexo? Palavras que a gente ouviu com frequência nos últimos dias. Muita gente opinou sem saber do que se tratam e de como o assunto exige conhecimento e delicadeza para ser abordado.

 

De acordo com Glossário da Sexualidade Humana, da Associação Brasileira Intersexo (Abrai), cisgênero corresponde às pessoas que se identificam com o gênero que lhes foi determinado ao nascer. Por exemplo, uma pessoa que foi identificada como menina e se reconhece como do sexo feminino. O transgênero já é o oposto, alguém que foi identificado como menino ou menina ao nascer e não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído. 

 

Apesar da biologia ter consolidado o sexo como algo binário, homem ou mulher, ela também fala sobre uma variação entre essas duas formas de olhar o sexo biológico, que são os grupos dos intersexos, como explica Talita Fabiano, psicóloga da Abrai.


Talita avalia que a diversidade humana ainda precisa ser muito mais refletida e não pode se fechar nesse binarismo que, segundo ela, é socialmente imposto. Ela observa que algumas dessas características das pessoas intersexo podem não ser visíveis de imediato.

 

Segundo a psicóloga Talita Fabiano, há cerca de 150 variações intersexos. A discriminação contra essas pessoas é chamada intersexismo, de acordo com a Associação Brasileira Intersexo, e elas podem enfrentar esse preconceito em diversas áreas como na educação, emprego, saúde, esporte, com impacto na saúde mental e física e nos níveis de pobreza, inclusive como resultado de práticas médicas prejudiciais.

 

Mulheres com cromossomos XY

 

Geralmente, as mulheres nascem com um par de cromossomos XX e os homens com cromossomos XY. Contudo, "alguns homens nascem com XX (...) e algumas mulheres com XY devido a uma mutação do cromossomo Y", explica a Organização Mundial de Saúde (OMS).

 

As mulheres XY apresentam uma diferença de desenvolvimento sexual (DDS), da qual existem diversas formas. Entre elas, há as pessoas com déficit no 5-alfa-redutase 5-ARD, as quais não têm ovários, mas sim testículos localizados dentro do abdômen, de onde produzem testosterona. Mas podem ter órgãos genitais femininos.  


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Presente tanto em homens como em mulheres, a testosterona começa a fazer efeito no corpo humano a partir da puberdade para aumentar o tamanho dos ossos e músculos, além de aumentar a força e taxa de hemoglobina no sangue.

 

Na maioria das mulheres, a taxa de testosterona é de 0,06 a 1,68 nanomols por litro de sangue, distante das taxas observadas na maioria dos homens (entre 7,7 e 29,4 nmol/l). Nem todas as mulheres que apresentem taxas de testosterona elevada. Algumas mulheres com cromossomos XX podem ter uma taxa de testosterona alta devido a certos síndromes. 

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