O cortisol, frequentemente chamado de "hormônio do estresse", é um esteroide vital produzido pelas glândulas adrenais em resposta ao desgaste emocional e a baixos níveis de glicocorticoides no sangue. Sua produção é estimulada pelo hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), secretado pela glândula hipófise. “Este hormônio desempenha um papel crucial em várias funções do corpo”, ressalta Elaine Dias JK, PhD em endocrinologia pela USP e metabologista.


Recentemente, vídeos no TikTok com a hashtag #cortisolface têm popularizado o conceito de 'rosto de cortisol', sugerindo que o inchaço facial seria causado por altos níveis de cortisol e, portanto, de estresse. “Este fenômeno é baseado em uma condição médica chamada síndrome de Cushing, que resulta de hipercortisolemia e pode causar uma face arredondada e inchada, conhecida como "face em lua cheia".

 

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No entanto, Elaine destaca que este sintoma é específico de condições patológicas graves e não se aplica aos níveis ligeiramente elevados de cortisol que ocorrem em resposta ao estresse cotidiano. "Portanto, a conexão entre o "rosto de cortisol" e estresse leve ou moderado não tem fundamento científico robusto”, explica.

  

Na opinião da endocrinologista, os conteúdos nas redes sociais simplificam ou distorcem informações científicas que podem levar a uma compreensão equivocada do papel do cortisol, sendo que a sua 'vilanização'  pode criar uma visão negativa e simplista, ignorando sua importância no equilíbrio fisiológico. “O cortisol é essencial para a sobrevivência e desempenha funções vitais no corpo. É crucial que a informação seja transmitida de forma precisa e contextualizada, para que as pessoas compreendam tanto os riscos do excesso de cortisol quanto os problemas de sua deficiência”. 

 



 

Ela explica que o esteroide tem o papel primordial para: 

 

  1. Regular o metabolismo de proteínas, gorduras e carboidratos - garantindo que o corpo tenha energia suficiente para funcionar corretamente
  2. Atua na modulação da resposta imunológica, ajudando a controlar inflamações e a resposta a infecções
  3. Ajuda a manter os níveis de glicose no sangue, essencial para fornecer energia ao corpo
  4. E, em situações de emergência, inflamações e traumas, o cortisol auxilia o corpo a lidar com o estresse, proporcionando um efeito anti-inflamatório

 

De acordo com Elaine, altos níveis de cortisol, uma condição conhecida como hipercortisolismo, podem ter diversos efeitos adversos no corpo. A intensidade e a gravidade dos sintomas dependem de fatores como idade, etiologia, duração e intensidade do hipercortisolismo.

 

 

Alguns dos efeitos incluem:

 

  • Redistribuição de gordura: caracterizada por obesidade centrípeta, com deposição de gordura na região abdominal, face (fácies em lua cheia), fossa supraclavicular e região dorso-cervical (giba de búfalo)
  • Alterações na pele: atrofia cutânea, equimoses (roxos) secundários a traumas mínimos e estrias violáceas largas, principalmente no abdômen, mama, nádegas e coxas
  • Atrofia muscular: pode levar a fraqueza muscular
  • Hipertensão arterial sistêmica: aumento da pressão arterial
  • Diabetes e edema: aumento dos níveis de açúcar no sangue e inchaço
  • Osteoporose: fragilidade óssea
  • Irregularidade menstrual e alterações de humor: podendo piorar o estresse
  • Infecções recorrentes: devido à modulação do sistema imunológico

 

Fatores que contribuem para o inchaço ou afinamento do rosto

 

Além dos níveis de cortisol, vários outros fatores podem contribuir para o inchaço ou afinamento do rosto, segundo Elaine. Tais como: 

  • Inchaço: pode ser causado por retenção de líquidos, alergias, inflamações, mudanças hormonais (como durante o ciclo menstrual e alterações no hormônio da tireoide), consumo excessivo de sal, alimentos ultraprocessados e privação do sono
  • Afinamento: pode resultar de emagrecimento, melhora na alimentação (evitando alimentos industrializados e ultraprocessados e ingerindo mais frutas, verduras, legumes e água), aumento da atividade física, melhora na qualidade do sono e melhor administração do estresse e ansiedade

*Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.

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