A criança com apraxia geralmente compreende o que falamos com ela, mas não consegue se expressar bem -  (crédito: Freepik)

A criança com apraxia geralmente compreende o que falamos com ela, mas não consegue se expressar bem

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Mesmo antes de pronunciar as primeiras palavras, o bebê começa o processo de desenvolvimento que vai culminar na fala. Durante essa fase, é essencial acompanhar desde cedo o progresso, bem como sinais que demonstrem algum transtorno. Por exemplo, a apraxia de fala na infância (AFI), um distúrbio neurológico que afeta a produção dos sons da fala e que atinge dois em cada mil crianças no país. A falta de visibilidade dessa condição clínica dificulta o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento.
 
De acordo com a fonoaudióloga infantil Elisabete Giusti, conselheira técnica da Associação Brasileira de Apraxia da Infância (Abrapraxia), os pais devem ficar atentos no caso de a criança apresentar atraso e/ou dificuldades para desenvolver a fala. “A apraxia atinge o planejamento e a programação das sequências de movimentos necessários para produzir a fala, pois o cérebro não envia os comandos adequados para os articuladores, dificultando a produção das palavras. É uma alteração funcional e que nem sempre é detectada em exames para o estudo do cérebro, como ressonância e tomografia", explica. 
 
 
O diagnóstico deve ser realizado por um fonoaudiólogo que possua experiência em transtornos de fala e de linguagem, incluindo os distúrbios motores de fala. O profissional será o responsável por avaliar, diagnosticar e determinar o melhor plano de tratamento. A condição pode acontecer em conjunto com outras comorbidades, por isso é fundamental que as crianças sejam acompanhadas por uma equipe multidisciplinar.
 
 
Elisabete Giusti listou dez tópicos que podem servir de alerta para as pessoas buscarem avaliações e tratamentos. É importante lembrar que ter um ou mais sintomas dessa lista não significa que a criança tenha AFI, por isso a importância do diagnóstico correto.
 
1. Bebês muito quietos, silenciosos ou com pouco balbucio de sons
2. Atraso no aparecimento das primeiras palavras
3. A criança com apraxia geralmente compreende o que falamos com ela, mas não consegue se expressar bem. Os pais notam uma discrepância entre a compreensão e a expressão
4. Produção inadequada da fala. Falam apenas as vogais ou as sílabas isoladas, como “pa” no lugar de papai, ou ainda conseguem falar os sons mais fáceis como o do “P” e do “M”
5. Apresenta dificuldade para falar todas as vogais (às vezes, o som do “É” sai como “A” ou “E”. Exemplo: “pa” se referindo a “pé”).
6. Os movimentos orais, como colocar a língua para fora ou encher as bochechas podem estar alterados. Os pais percebem que não há uma boa movimentação dessas estruturas orais. O sopro é fraco (ela tem dificuldade para encher bexigas, para soprar língua de sogra, etc).
 
 
7. Pode ter uma coordenação motora global não muito organizada. São crianças desajeitadas no correr, no pular. A coordenação motora fina também pode estar prejudicada (não consegue segurar o lápis adequadamente, tem dificuldade com jogos de encaixe para atividades manuais que exigem coordenação motora fina)
8. Pode falar corretamente uma palavra em um contexto e depois “perder” esta palavra. Tenta falar de novo e sai de um jeito diferente
9. Crianças com apraxia podem ter dificuldades escolares

10. A criança com apraxia também pode ter dificuldades emocionais. Os pais percebem que o (a) filho (a) até tenta falar, mas não consegue, o que pode causar frustração, baixo auto-estima. Algumas crianças ficam agressivas e irritadas

 

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.