Segundo Ministério da Saúde, no Brasil,1,2 milhão de pessoas vivem com algum tipo de demência. No mundo, são 50 milhões -  (crédito: Freepik)

Segundo Ministério da Saúde, no Brasil,1,2 milhão de pessoas vivem com algum tipo de demência. No mundo, são 50 milhões

crédito: Freepik

A atualização de 2024 da Lancet Commission sobre demência destacou novas pesquisas promissoras na prevenção, intervenção e tratamento da doença. Apesar da diminuição da incidência de demência por idade em países de alta renda, o número total de casos continua a crescer devido ao aumento da longevidade da população.

 

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O relatório, que foi publicado em 31 de julho na The Lancet, reforça a importância de abordagens preventivas desde a infância, enfatizando que quase metade das demências poderiam ser prevenidas pela eliminação de 14 fatores de risco identificados. Dentre eles, a perda auditiva, depressão, tabagismo, obesidade, hipertensão, diabetes, consumo excessivo de álcool, lesão cerebral traumática, poluição do ar, isolamento social, além de novos fatores como perda de visão não tratada e alto colesterol LDL.

 

 

Há destaque também para a importância de abordagens ao longo da vida, indicando que nunca é muito cedo ou tarde para começar a reduzir o risco de demência. As evidências sugerem que tais abordagens não só aumentam a qualidade de vida, mas também reduzem o custo dos cuidados de saúde e são economicamente vantajosas, inclusive para pessoas com predisposição genética à demência.

 

As novas evidências identificam a perda de visão e o colesterol alto como fatores de risco modificáveis para a demência, adicionando-se aos 12 já reconhecidos pela Comissão Lancet de 2020. Para enfrentar os desafios do envelhecimento cognitivo e a prevenção da demência, é fundamental adotar uma abordagem multidisciplinar e baseada em evidências científicas.

 

Estratégias práticas para a implementação dessas mudanças:

 

1. Educação de qualidade e atividades cognitivas: a educação continuada e o engajamento em atividades cognitivas, como leitura e aprendizado de novas habilidades, são essenciais para fortalecer as conexões neurais e retardar o declínio cognitivo

 

2. Acessibilidade a aparelhos auditivos e proteção contra ruídos: tornar aparelhos auditivos acessíveis e educar sobre a proteção auditiva são medidas cruciais para prevenir a perda auditiva, associada ao aumento do risco de demência

 

3. Tratamento eficaz da depressão: promover o acesso a tratamentos psicológicos e medicamentosos eficazes para depressão pode ajudar a prevenir sua progressão para demência.

 

4. Uso de capacetes e proteção para a cabeça: incentivar o uso de capacetes em esportes de contato e ciclismo pode prevenir lesões cerebrais traumáticas, um fator de risco significativo para demência

 

5. Promoção do exercício físico: estimular a prática regular de exercícios físicos contribui para a saúde vascular e pode diminuir o risco de demência. Políticas públicas devem facilitar o acesso a espaços para a prática de atividades físicas

 

6. Redução do tabagismo: medidas como aumento de preços e proibição de fumar em locais públicos são eficazes na redução do tabagismo, diretamente ligado ao risco de demência

 

 

7. Controle da hipertensão: manter a pressão arterial controlada é fundamental. Campanhas de saúde e monitoramento regular podem ajudar na prevenção da hipertensão, um fator modificável de risco para demência

 

8. Tratamento do colesterol alto: detectar e tratar níveis elevados de LDL previne complicações vasculares que podem levar à demência

 

9. Gestão do peso e prevenção da obesidade: manter um peso saudável previne várias condições associadas ao risco de demência, como o diabetes

 

10. Redução do consumo excessivo de álcool: promover campanhas sobre os riscos do consumo excessivo de álcool e controlar seu preço ajudam na prevenção da demência

 

11. Comunidades amigáveis para todas as idades e redução do isolamento social: promover ambientes que incentivem a interação social pode reduzir o isolamento, um fator de risco conhecido para a demência

 

12. Acessibilidade ao tratamento de perda de visão: garantir o acesso ao rastreio e tratamento de problemas visuais ajuda a manter a independência e qualidade de vida, reduzindo o risco de isolamento e declínio cognitivo

 

13. Redução da exposição à poluição do ar: implementar políticas que reduzam a poluição do ar, como melhorias no transporte público e restrições a emissões industriais, é vital, visto que há correlação entre poluição e aumento do risco de demência

 

Segundo o médico neurocirurgião membro da sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Felipe Mendes, os fatores de risco para demência incluem uma variedade de elementos modificáveis e não modificáveis que podem influenciar o desenvolvimento da doença.

 

“É crucial controlá-los para reduzir a incidência e a progressão da demência. Entre os principais fatores de risco modificáveis estão a hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia, obesidade, consumo de açúcar, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool, baixo nível educacional e falta de estímulo cognitivo, além de depressão e isolamento social, como mencionados na publicação.”

 

Com relação aos não modificáveis, de acordo com o neurocirurgião, destacam-se a idade, que aumenta significativamente o risco de demência, além do histórico familiar - ter parentes de primeiro grau com demência eleva a predisposição para a condição. Algumas mutações genéticas, como o gene APOE 4, estão associadas a um risco maior.

 

Controlar os fatores de risco modificáveis é, para Felipe, essencial para reduzir a incidência de demência em uma população, retardar o início e a progressão dos sintomas, melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, além dos custos associados ao cuidado de longo prazo e às intervenções médicas complexas. “A promoção de um estilo de vida saudável tem um impacto significativo na saúde cerebral e isso ajuda na prevenção não só da demência, mas de uma série de outras doenças”, indica.