Ilustração de um feto se formando no útero -  (crédito: Janey Costa/EM/D.A Press)

Ilustração de um feto se formando no útero

crédito: Janey Costa/EM/D.A Press



Durante a gestação, o crescimento do bebê é uma das principais preocupações dos futuros pais. Nos exames de ultrassom, é comum que surjam dúvidas sobre o peso do bebê e se o desenvolvimento está dentro do esperado para a fase gestacional. Mas como é realizada, na prática, a avaliação do crescimento fetal?

 

 


 

A principal forma de acompanhar o crescimento do bebê durante a gestação é analisando o percentil de peso, que é obtido através das medidas feitas no ultrassom. O percentil é uma maneira de comparar o peso de um bebê com o de outros bebês da mesma idade gestacional, usando uma curva de crescimento padrão. Essa curva é desenvolvida a partir de dados coletados de muitos fetos saudáveis ao longo do tempo. Com o percentil, portanto, podemos entender se o peso do bebê está dentro do esperado para a fase da gravidez em que ele se encontra.

 

O percentil é uma medida que varia de 0 a 100, sendo que o percentil 50 representa a média. Ou seja, no contexto da avaliação de crescimento do feto, isso significa que metade dos bebês pesa mais e a outra metade pesa menos. Então o percentil 50 seria considerado o “ideal” para todos os bebês, certo?

 

 

Marcela Xavier, especialista em medicina fetal, esclarece que nem sempre estar neste "percentil ideal" é o mais importante. " Muitas gestantes acreditam que o bebê deve estar no percentil 50 para ter um crescimento adequado, mas isso é um mito", afirma.

 

Ela explica que é perfeitamente normal que bebês saudáveis estejam acima ou abaixo dessa marca pois cada bebê possui o seu próprio ritmo de crescimento, que é determinado fundamentalmente pela genética. Como a medicina ainda não dispõe de ferramentas para determinar com precisão o potencial genético de crescimento de cada bebê, as características físicas e a origem étnica dos pais são usadas para fazer uma estimativa desse potencial. Portanto, é natural esperar que o peso de um bebê de uma gestante de 1,80 m de altura seja diferente do peso de um bebê de uma mãe com 1,50 m.

Segundo a especialista, a principal preocupação não deve ser se o bebê está exatamente na média, mas sim se ele se encontra nos extremos da curva de crescimento. "O que realmente pode gerar preocupação é quando o peso do bebê está em percentis muito baixos, como abaixo do percentil 10, ou muito altos, como acima do percentil 90", explica a especialista. Esses extremos podem indicar questões de saúde que precisam ser monitoradas de perto.

"Percentis muito baixos podem indicar restrição de crescimento intrauterino, condição que pode sinalizar problemas como a insuficiência placentária ou má nutrição. Já percentis muito altos podem estar relacionados a fatores como o diabetes gestacional, que requer um acompanhamento e controle clínico mais aprofundado", detalha Marcela.

No Brasil, a restrição de crescimento intrauterino afeta cerca de 8% a 15% dos fetos, sendo mais prevalente em áreas de menor acesso aos serviços de saúde. Já o diabetes gestacional afeta aproximadamente 7% a 18% das gestantes brasileiras, dependendo da população estudada e dos critérios diagnósticos utilizados. Essa condição pode levar ao crescimento fetal excessivo, conhecido como macrossomia, que é representado pelo aumento significado do percentil de peso do bebê.

Além de estar nos extremos da curva, outra questão que deve ser monitorada de perto é a variação brusca no percentil ao longo da gestação. "Mudanças extremas no percentil de uma ultrassonografia para outra podem ser um sinal de alerta. É esperado que o crescimento do bebê siga uma curva relativamente constante ao longo da gestação, sem grandes saltos ou quedas", ressalta a médica.

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 98% das gestantes realizam pelo menos uma ultrassonografia durante a gravidez, sendo o peso fetal uma das principais preocupações durante esses exames. Os dados obtidos pelo ultrassom são registrados nas carteiras de pré-natal, amplamente utilizadas pelos serviços de saúde em todo o Brasil. Essa padronização é essencial para garantir que qualquer alteração nos percentis seja identificada e o tratamento para a condição que esteja causando essa variação seja estabelecido, reduzindo riscos tanto para o bebê quanto para a mãe.

"É essencial que as futuras mães entendam que cada bebê tem seu próprio ritmo de crescimento, e que nem todos vão seguir exatamente o mesmo padrão. O acompanhamento com um especialista garante que qualquer alteração significativa será detectada e tratada precocemente, garantindo a saúde da mãe e do bebê", completa.