Desenhar passa a ser para a criança uma representação do seu mundo interno projetado no papel -  (crédito: Ida Rizkha/Pexels)

Desenhar passa a ser para a criança uma representação do seu mundo interno projetado no papel

crédito: Ida Rizkha/Pexels

As representações gráficas infantis são uma manifestação espontânea do próprio funcionamento psicológico da criança. Assim, esses desenhos servem como instrumentos de comunicação, pois expressam as fantasias e conflitos inconscientes, os medos, alegrias, tensões e impulsos agressivos. O desenho é uma produção, uma brincadeira muito expressiva, que nos permite observar como a criança se relaciona com o mundo. Na psicanálise com adultos, há a associação livre, ou seja, o “fale livremente”. Com a criança, o desenho seria um espaço intermediário entre o brincar e a verbalização, o que equivale à associação livre do adulto.

 

 

Existem diversos manejos de interpretação dos gráficos infantis que cabem ao psicólogo. Uma interpretação equivocada pode atrapalhar mais do que ajudar. “É preciso entender a linguagem gráfica da criança e decodificar. O adulto pode perguntar a ela sobre o desenho, mas é fundamental ter cuidado para não misturar as próprias angústias e fantasias àquela expressão da criança. Por isso, uma boa dica é aproveitar o desenho para estimular um diálogo, sabendo que é uma oportunidade para abrir o mundo da imaginação por meio dessa conversa”, explica a psicanalista Renata Bento, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ).

 

Desenhar passa a ser para a criança uma representação do seu mundo interno projetado no papel. Além de se expressar desenhando, ela mobiliza recursos cognitivos - mentais e emocionais - para buscar resolver conflitos e diminuir angústias. O mundo infantil fica representado nos traços, nas cores e nas formas do desenho. "Portanto, além de ser um instrumento que pode facilitar o entendimento de como a criança se sente diante das exigências da sua vida, o desenho é a expressão do inconsciente, como se fosse um sonho. A criança revela seu funcionamento a partir do desenho”, ressalta Renata.


O desenho, como atividade expressiva, impulsiona o desenvolvimento mental, trabalha a expressão de sentimentos e pensamentos, e contribui para um melhor entendimento da complexidade do mundo interno infantil.

 

 


Assim como algo se revela a partir de traços corporais, o que vai fornecer algumas pistas são os aspectos estruturais do desenho, como o tamanho, as cores, a forma, a pressão, a perspectiva, a simetria, as correções, retoques, entre outros. “A interpretação desses dados somada à observação clínica pode nos dizer como essa criança se percebe e como ela lida com seus conflitos”, explica a psicanalista. 


Partindo do pressuposto de que aspectos da realidade estão sendo representados n a folha de papel, como a criança se experimenta? Ela ocupa todo o espaço da folha? Seu desenho é grande ou pequeno? Utiliza cores, quais? Restringe-se a um único espaço da folha? Seu desenho é empobrecido, apagado ou rico? O que é sentido pelo profissional quando observa esse desenho? A criança diz algo sobre o desenho?

 

 

O desenho pode ser uma porta de entrada para a construção de muitas narrativas e isso facilitará o conhecimento sobre os sentimentos da criança. No trabalho com crianças é importante que a arte surja livremente sem interferências e solicitações por parte do analista. Os desenhos, assim como os recursos utilizados, devem ser avaliados de acordo com a idade da criança. É importante deixar claro que a interpretação dos desenhos infantis deve ser realizada por profissional qualificado.

 

CANTINHO DO DESENHO


Desenhar em casa pode ser terapêutico. Os pais podem ter em casa um lugar criativo onde possam disponibilizar para a criança materiais para desenhar e pintar, como forma de ajudar a se expressar, e não para ser interpretado. Não há necessidade de forçá-la a essa atividade, é preciso partir dela.” Como dito, uma boa conversa sobre os desenhos pode abrir espaço de diálogo e facilitar a entrada no mundo da imaginação da criança. Essa interação passa a ser algo lúdico e facilitador de intimidade e conectividade entre pais e filhos”, alerta Renata Bento.