Não importa a idade ou o gênero, pesquisas apontam que o uso excessivo de smartphone estimula doenças emocionais e também físicas -  (crédito: Freepik)

Não importa a idade ou o gênero, pesquisas apontam que o uso excessivo de smartphone estimula doenças emocionais e também físicas

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SÃO PAULO (FOLHAPRESS) - O debate sobre o banimento do uso do celular por estudantes em todo o ambiente escolar se baseia em estudos que relacionam a explosão do uso dos smartphones à queda de aprendizado e ao aumento da depressão entre crianças e jovens.

 

 

O best-seller "A Geração Ansiosa", do psicólogo norte-americano Jonathan Haidt, elenca uma série deles. A depressão grave entre adolescentes, por exemplo, teve, a partir de 2010, quando os smartphones começaram a se disseminar, um aumento de 145% dentre as meninas e de 161% dentre os meninos nos Estados Unidos, de acordo com uma pesquisa nacional sobre o uso de drogas e saúde mental.

 

Entre estudantes universitários do país, o aumento da ansiedade nesse mesmo período foi de 134%, e o de depressão, de 106%. Houve também 72% de aumento do TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), entre outros problemas.

 

Foi também a partir dos anos de disseminação dos smartphones que a automutilação cresceu 188% entre meninos e 48% entre meninos dos EUA. A taxa de suicídio saltou 91% dentre os meninos e 167% dentre as meninas, sempre a partir de 2010.

 

Há dados semelhantes trazidos pelo livro sobre outros países, como Canadá, Inglaterra, Austrália e nos países nórdicos. O autor também cita estudos do Pisa, avaliação internacional organizada pela OCDE, que mostram consequências diretas nas escolas, de um modo global. Uma delas é o aumento da sensação de solidão no ambiente escolar. Após resultados estáveis entre 2000 e 2012, o relato de solidão aumentou dentre todos os países analisados, com exceção da Ásia.

 

Principal avaliação da educação no mundo, realizada com alunos de 15 anos de 81 países, o Pisa também mostrou uma queda nas notas a partir de 2010, inclusive nos países mais ricos e com os melhores desempenhos de educação. O Pisa também constatou o aumento de distração entre os estudantes durante as aulas. Em 2022, mostrou, por exemplo, que, dentre os estudantes brasileiros, 8 em cada 10 disseram que se distraem com celular nas aulas de matemática -a média geral foi de 6 em cada 10.

 

Desde que os smartphones ganharam espaço, houve também, de acordo com pesquisas mencionadas pelo livro de Haidt, um grande aumento do número de crianças e jovens que dormem menos de sete horas por dia, que não se sentem satisfeitos consigo mesmos, que se sentem solitários com frequência, além de uma redução drástica do tempo dedicado a encontros presenciais com amigos.

 

Uma pesquisa da Suécia apontou que o número de estudantes do terceiro ano do ensino médio que acessam pornografia diariamente explodiu também nesse período.

 

No Brasil, levantamento realizado pela Folha de S.Paulo mostrou que, pela primeira vez na história, os registros de ansiedade entre crianças e jovens atendidos pelo SUS superam os de adulto. A análise revelou uma explosão de casos a partir de 2013, e especialistas colocam o uso excessivo de celulares entre os motivos desse aumento.

 

Estudos da Fiocruz apontaram que, entre os jovens brasileiros, houve um aumento de 6% ao ano nos suicídios entre 2011 e 2022. Já as taxas de autolesão cresceram 29% ao ano nesse mesmo período, que coincide com a disseminação dos celulares.

 

DIFERENÇA NAS REGRAS DIFICULTA PESQUISAS

 

O banimento completo em escolas ainda é recente e, por isso, são poucas as pesquisas sobre o impacto da proibição. Mas há algumas, além de relatos de educadores, estudantes e famílias de melhora no aprendizado e na convivência escolar.

 

No Reino Unido, um estudo revelou que alunos de escolas que baniram o celular tiveram notas melhores no exame nacional do país, o GCSE (General Certificate of Secondary Education). De um total de 407 escolas que responderam à pesquisa, mais da metade afirmou que proíbe o celular durante todo o horário escolar.

 

Essas instituições, mostrou o levantamento, são mais de duas vezes mais propensas à classificação de "excelentes" pelo órgão de fiscalização de educação do Reino Unido (Ofsted) do que aquelas em que o uso do celular ainda não é vetado.

 

Haidt menciona o caso de uma escola do Colorado, nos EUA, a Mountain Middle School, que decidiu vetar o celular já em 2012, em meio ao grande número de suicídios de adolescente no estado, a mais alta taxa do país. O desempenho dos alunos melhorou e, em alguns anos, a escola se tornou a melhor do estado.

 

O que também dificulta a realização de pesquisas é o fato de as regras serem muito variadas. Há o banimento total, ou seja, em todo o ambiente escolar, nas aulas e nos recreios, e do ensino infantil ao médio. Há banimento em determinadas séries, por exemplo, só no infantil, até o 5º ano, até o 9º etc. Ou então há proibição nas aulas e liberação em todos os intervalos; proibição nas aulas e nos recreios mas com algum momento de liberação. E há a liberação nas aulas para uso pedagógico, liberação nos recreios em determinados dias da semana e a liberação total também.

 

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