Acaba de chegar às farmácias do Brasil o eletrocardiograma de uso doméstico, que é o primeiro do tipo no país. O equipamento, batizado Complete, foi desenvolvido pela multinacional japonesa Omron Healthcare, e apresentado neste ano nos congressos americano, europeu e brasileiro de cardiologia. Nas drogarias Pague Menos, Sinete, Extrafarma, São Paulo e Pacheco, o aparelho é comercializado por aproximadamente R$ 1,5 mil.
Simples de manusear, a tecnologia realiza o eletrocardiograma e afere a pressão arterial ao mesmo tempo. O resultado é transmitido ao médico em cerca de 30 segundos, por um aplicativo específico que pode ser baixado.
O eletrocardiograma tradicional funciona pelo que se chama derivações: ondas, intervalos e variações que constam nos resultados dos exames e que devem ser interpretadas para diagnosticar doenças e eventos cardíacos. Cada espaço entre dois eletrodos permite a análise do coração a partir de um ângulo diferente. Essa informação, assim a denominada derivação, é registrada por software específico, que a transforma em um traçado.
O exame de 12 derivações é um dos exames de apoio ao diagnóstico mais solicitados por médicos em todo o país. Teste que serve para avaliar a saúde do coração, auxilia tanto na prevenção quanto na detecção e tratamento de doenças cardiovasculares.
"Derivação é como se chama a janela pela qual se vê o coração. No eletrocardiograma tradicional, conseguimos observar o coração em 360 graus", esclarece o cardiologista do Instituto de Hipertensão de Minas Gerais, Marcus Vinicius Bolivar Malachias. Ele explica que os produtos da Omron Healthcare são apresentados em dois modelos, que evidenciam essencialmente desequilíbrios no ritmo cardíaco.
O primeiro, descreve Marcus, tem apenas uma derivação, e realiza a identificação mais rápida de alterações cardíacas grosseiras, como já faz o o smartwatch, que tem entre as capacidades o monitoramento contínuo da frequência cardíaca, rastreando as batidas do coração em tempo real.
"Esse modelo identifica o ritmo do coração. O outro modelo, de seis derivações, é mais robusto, mas não completo. Faltam as derivações que são feitas, no exame convencional, com os eletrodos colados no corpo, os eletrodos precordiais", elucida o especialista, pontuando que a avaliação do equipamento de uso doméstico não substitui o exame tradicional e a interpretação médica.
O sistema funciona, explica Marcus, posicionando os dedos polegar e indicador, das duas mãos, sobre um pequeno eletrodo, uma peça metálica. "A avaliação central é sobre o ritmo cardíaco. É importante fazer contato com o fabricante, que pode encaminhar o exame para quem possa interpretá-lo, como um médico, de forma remota. Essa interpretação também pode ser feita por meio de inteligência artificial, mas está sujeita a erros. Conferir as informações com um médico é primordial", pondera o cardiologista.
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Marcus Vinicius reforça que o aparelho serve para quem tem indicação médica sobre algum problema, e não é possível saber do que se trata sem a interpretação adequada do resultado. Em sua opinião, é uma forma válida de diagnóstico, mas limitada. "Não adianta se não houver como analisar o dado e resolver o problema. Toda tecnologia ajuda, mas muitas vezes são outras necessidades. O serviço pode ser útil em alguma emergência, mas fazer contato com um médico é fundamental", aponta.
Fibrilação atrial
Uma das alterações mais identificadas pelo eletrocardiograma doméstico é a chamada fibrilação atrial, um tipo específico de arritmia nos átrios do coração, explica o cardiologista fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia, Evandro Guimarães de Souza. "É uma condição extremamente comum, principalmente entre pessoas com mais de 65 anos. Pode levar a embolias no cérebro e na perna, por exemplo. E no eletrocardiograma de consultório pode não ser detectado, em alguma situação em específico. Em casa, como temos um tempo maior de monitorização do eletrocardiograma, pode ser que a arritmia apareça com uma probabilidade maior. O modelo caseiro aumenta a sensibilidade do diagnóstico", diz.
Evandro está de volta do congresso europeu de cardiologia, que aconteceu em agosto, em Londres, onde o equipamento da Omrom foi apresentado e validado pela Sociedade Europeia de Cardiologia - já está em amplo uso na Europa. Para ele, a tecnologia serve como um auxílio para o cardiologista - diante de algum sintoma, ajuda a entender se há alguma alteração na função cardíaca ou não.
"É útil dentro do contexto do dia a dia de cada um, como quem usa aparelho de pressão, com a chamada monitorização residencial da pressão arterial. O eletrocardiograma caseiro muitas vezes identifica algo que passaria despercebido. Diante de algum sintoma, pode definir o tipo de arritmia, por exemplo, ou se não tem nenhum problema. É gerado um laudo e enviado em PDF para o médico. É uma informação segura, mas a avaliação é sempre do médico", salienta Evandro.
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