No mês de conscientização sobre a doação de órgãos, com a data oficial em 27 de setembro, histórias descobertas em meios aos corredores de hospitais conscientizam e sensibilizam a população sobre a importância da doação de órgãos e medula óssea. Apesar da vontade do doador, a decisão final sobre a doação de órgãos é da família da pessoa falecida, conforme legislação brasileira. Portanto, a conversa e manifestação desse desejo aos familiares é a parte mais importante no processo, uma vez que a lei brasileira exige o consentimento da família para a retirada para transplante.

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Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), em Minas, em 2021, foram 199 doadores desse tipo; em 2022, esse número subiu para 244 e, em 2023, cresceu ainda mais, totalizando 296 doadores. Soma-se a isso o fato de que a taxa de recusa familiar, que era de 38,4% em 2022, caiu para 31,4% no ano passado.

 



 

Considerando o atual cenário em Minas Gerais, com 727 transplantes de órgãos realizados até agosto e o número recorde do ano passado (1.067) – o melhor desempenho em dez anos – é possível que 2024 mantenha ou supere a performance de 2023, que teve uma média de 89 transplantes de órgãos por mês. Este ano, até agora, a média é de 90 cirurgias mensais, conforme dados publicados pela Agência Minas.

O coordenador médico da Unidade de Transplante de Órgãos Sólidos da Rede Mater Dei, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Marcus Martins, destaca a importância da conscientização e divulgação de informações sobre a doação de órgãos, especialmente à medida que se observa um aumento nas doações e diminuição na taxa de recusa familiar. “Nos hospitais da rede, temos observado um aumento no volume de doações, mas ainda é muito inferior à demanda de receptores”, diz o médico. Segundo o Ministério da Saúde, em 2023, 3 mil pessoas morreram antes de conseguir um doador.

O transplante renal lidera a lista de espera no Brasil. A lista de espera por transplantes em Minas tinha quase 8 mil nomes até agosto deste ano (7.811). Desse total, 3.846 aguardavam por órgão e os outros 3.965 por córnea. A maioria espera por rim (3.679), seguido por fígado (80) e coração (22), segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), em Minas.

E são muitas as histórias de quem busca por um novo rim no dia a dia dos hospitais da rede. Por se tratar de uma linha de cuidados integral, geralmente a jornada de atendimento a esses pacientes passa por diversos setores do hospital, desde os consultórios médicos, centro de hemodiálise, CTI adulto, unidade de internação, centro cirúrgico e pronto atendimento também. Por onde passam, os pacientes marcam com suas histórias de esperança e realização.

 

É o caso de Wanuza Dayse Chaves Costa, que conviveu com doença renal crônica e esteve na lista de espera por quase cinco anos. Enquanto esperava, ela realizava hemodiálise quatro vezes por semana no Centro de Hemodiálise, onde os pacientes receptores realizam a diálise enquanto aguardam o transplante de rim. Ao longo do tempo, sempre compartilhou sua esperança com médicos e enfermeiros. No dia 17 de julho, a espera acabou e ela recebeu transplante de rim de um doador falecido.

 

A espera foi bem menor para Alex Sander Souza. O paciente, portador de doença renal crônica não dialítica por 13 anos, recebeu um rim de sua esposa, viva, graças à compatibilidade, e foi transplantado em junho deste ano, após apenas seis dias na lista de espera. Considerado um transplante de sucesso, até o pós-cirúrgico foi rápido. Foram apenas sete dias de internação. “Estou me sentindo uma nova pessoa, graças a Deus e a equipe que nos atendeu, aos médicos que fizeram a cirurgia. Minha vida já melhorou em tão pouco tempo. Estou me sentindo melhor do que quando estava mais novo, com os rins bons. Se eu estava em 220 volts, agora estou a 440 volts”, comemorou.

A esperança também faz parte da vida de Vanessa Pinheiro Amorim, 44 anos, paciente com doença renal crônica que faz hemodiálise há sete anos no Hospital Mater Dei Contorno, três vezes por semana. Cadastrada no Sistema Nacional de Transplante, aguarda pela doação há pouco mais de um ano, desde agosto de 2023. “Tem altos e baixos do tratamento. A rotina de hemodiálise sobrecarrega e toma muito tempo. Tem dias em que eu chego muito bem, eu consigo fazer as coisas, consigo trabalhar. Mas tem dias que chego da hemodiálise e preciso descansar. A pressão fica muito baixa, dá enjoo, o corpo fica cansado”, conta.

 

Pedagoga, ela precisou parar de dar aula, mudou de profissão e passou a fazer artesanato em casa. “Estou aguardando um transplante. Demorei um pouco a entrar na fila, para ser bem sincera, porque estava esperando alguma compatibilidade familiar, mas infelizmente isso não aconteceu. Então, hoje eu espero um rim de doador falecido. É uma espera angustiante. Também é angustiante pensar que é a tristeza de uma família que vai te proporcionar uma alegria muito grande. Peço sempre que essa doação aconteça, que toque o coração da família que vai doar e também que seja na hora certa. Tenho na minha religião um apoio muito forte, porque eu sou umbandista, então tenho um apoio espiritual grande. Creio muito na espiritualidade. Eu aguardo esse telefonema para poder ir para o hospital, para poder receber o meu presente, o transplante”, relata.

 

Ela acredita que, depois do transplante, a vida vai mudar. “Eu vou ter a minha vida de volta. Não que eu deixe de viver, mas muita coisa eu deixei de fazer para poder dedicar ao tratamento. Então, eu pretendo voltar a dar aula, a exercer minha profissão, ter uma qualidade de vida melhor, porque os altos e baixos do tratamento deixam a gente muito vulnerável. É uma segunda chance de viver, trabalhar, fazer minhas coisas, viajar, curtir minha família, ter uma liberdade de vida que infelizmente a hemodiálise me restringe hoje em fazer”.

A Rede Mater Dei é autorizada a realizar transplante de córnea, fígado, rim, pele, tecidos musculoesqueléticos e medula óssea.

Como ser um doador

 

Neste ano, foi regulamentada a Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (Aedo). De forma eletrônica e gratuita, é possível que a pessoa autorize a doação dos órgãos, tecidos e partes do corpo. O objetivo é facilitar e desburocratizar a manifestação de vontade de ser um doador de órgãos. Basta acessar o site do Conselho Nacional de Justiça - www.cnj.jus.br - ou preencher um formulário pelo aplicativo de celular “e-notariado” ou ainda no site www.aedo.org.br. As pessoas que desejam doar seus órgãos poderão manifestar e formalizar a vontade também por meio de um documento oficial, feito digitalmente, válido em qualquer um dos 8.344 cartórios de notas do Brasil.

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