Assim como o suor está para os seres humanos, a perda de água está para as plantas. Ambos têm mecanismos de resfriamento que, se superaquecidos, tornam-se ineficazes e podem causar danos ao organismo. 

 

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O corpo humano, quando exposto a condições extremas, passa por uma série de adaptações a fim de regular a temperatura interna e dissipar o calor através do suor. No caso da planta, a situação é semelhante. 

 

Ela também precisa perder água para suportar o calor e ficar menos quente. Mas com temperaturas muito altas, a perda pode ser tão forte que passa a ser maior do que a quantidade que a raiz consegue absorver. 


“A planta precisa que entre o CO2 para que a fotossíntese aconteça, mas ela só abre quando tem luz e sempre que tem luz, tem calor. Dessa forma, para não aquecer, ela perde água em forma de vapor pelo estômato”, explica Alexandre Aparecido Duarte, doutor em biologia vegetal pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

 

A planta, então, acaba fechando o estômato – “uma estrutura que funciona como os nossos poros, que abrem e fecham a medida em que ela está hidratada ou não". Com isso, a planta murcha e suas folhas enrolam, principalmente as cumpridas.

 

 

As folhas murcham justamente por causa dessa perda de água, para evitar que fique com uma grande área exposta ao sol, assim, ela enrola. “Em alguns momentos menos extremos, quando o sol diminui e as pessoas jogam água, ela fica toda aberta e desenrola”, explica Alexandre.


Ele diz que esse processo de perda de água é natural, mas em um ambiente seco e quente a velocidade é maior, assim como os danos. Há também, ele comenta, a degradação de algumas enzimas. 


Alexandre pontua que depende de planta para planta, algumas realmente precisam de locais com climas amenos e outras não. 


 

“20°c e 30°c são a temperatura normal de uma planta nos trópicos, mas com essa onda de calor elas podem chegar a 38°c”. Por isso, podem não aguentar e acabar morrendo.


O calor em níveis extremos pode fazer com que as bordas, tecido mais tênue e menos resistente, da folha queime. Duarte afirma que esse é um dos principais sinais de uma planta superaquecida.


“A folha, o broto e a flor caem pelo superaquecimento e sem flor não tem fruto, isso em relação às plantas frutíferas. Em um pé de manga, por exemplo, o fruto muda de cor e muda de gosto, ele ‘cozinha’”


De acordo com o biólogo, “a planta é igual a gente, todo ser vivo tem temperatura cardinal”.  Em uma temperatura mínima, nenhuma reação metabólica acontece, assim como na máxima. “A célula morre. Depende da origem da planta, mas isso pode levar, inclusive, à extinção de algumas espécies”.


Quais estratégias e cuidados são mais eficazes?


O professor de biologia reitera que se tratam de várias nuances e depende do estágio de desenvolvimento de cada planta, portanto, é difícil estabelecer uma “receita” geral. 


Ele sinaliza o uso do sombrite – material de tela que protege espaços maiores – como uma ótima maneira de diminuir a intensidade do sol. “Elas crescem melhor em lugares sombreados, apesar de precisar de luz, o sombrite minimiza parcela do calor. Plantas que vivem pouco sombreadas tem maior vantagem nessa época”


E, também, aguar a planta mais vezes ao dia. “É mito que não pode jogar água ao meio dia porque está muito quente, não vai cozinhar raiz nenhuma. Mas claro que existem plantas que não podem ser muito regadas, como as crassuláceas e os cactos, eles não aguentam”.


Em relação às plantas de dentro de casa, não precisa regar todo dia. Depende do tamanho do vaso e da capacidade de retenção de água, mas a orientação do biólogo é: colocar o dedo na terra e verificar se está úmido. Se sim, não precisa jogar água, se estiver seco, repõe.


“Outro cuidado eficaz é cobrir a terra com casca de árvore. Cobrir o solo com ela não deixa a terra esquentar tanto, age como uma camada isolante de temperatura, deixando o solo mais fresco e úmido por mais tempo”. 

 


Não é só sobre a planta 

 

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Belo Horizonte completa 144 dias sem chuva nesta terça-feira (10/9) e a cidade segue com o clima quente e seco.

 

Em um cenário como este, ondas de calor e temperaturas extremas, “a gente também morre”, Alexandre destaca e ainda enfatiza que o planeta superaquece como fruto de mudanças climáticas.

 

“Tudo isso atrapalha, inclusive, a produtividade. Essas mudanças atrapalham a comida que vai para a mesa. Com a onda de calor, os preços aumentam porque se produz menos. É muito mais energia, muito mais água utilizada para torcer pela possibilidade da planta não morrer com o calor. Seja milho, soja, sorgo, alface, couve, eles crescem menos e, além disso, é mais tempo para atingir a idade reprodutiva”, ele aponta.

 

Além das ornamentais, domésticas e plantios, o professor frisa que é preciso pensar nas plantas nativas. “Quanto mais desmatamento, maior a temperatura do ambiente natural. Reservas importantes em Minas Gerais, por exemplo, como a Serra do Cipó ou a Serra da Piedade, podem ser perdidas”, completa.

 

*Estagiária sob a supervisão do subeditor Humberto Santos

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