O número de césareas realizadas em hospitais privados teve uma redução de mais de 13% no país, revela levantamento divulgado na última quarta-feira (18/09). É um dos reflexos do programa Parto Adequado, promovido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que visa valorizar o parto normal e reduzir o percentual de cesarianas desnecessárias. O estudo foi realizado por pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Brasília (UnB), no período de 2015 a 2019. Para a coordenadora de pediatria do Grupo Conaes Brasil, Marcelle Bonomo, o parto natural tem uma melhor performance em termos de maturidade gestacional e sobrevivência neonatal.

A pesquisa também concluiu que os hospitais que não aderiram ao programa tiveram uma redução de somente 3,4% na realização de cesáreas. “O parto natural é  benéfico para a saúde da mãe e do bebê. Para o recém nascido há baixo risco para o desenvolvimento de problemas respiratórios, além de também ajudar o bebê a desenvolver a sua flora intestinal, tendo também um sistema imunológico mais ativo e saudável. Já entre os benefícios para mãe, estão a recuperação materna mais rápida, o menor tempo de internação hospitalar e a menor chance de ter infecções”, afirma Marcelle.



 

A redução mais significativa na proporção em hospitais que adotaram o programa ocorreu a partir de 2018, aponta o levantamento. Apesar disso, ainda em 2019, a taxa de realização de cesáreas foi de aproximadamente 72%, uma porcentagem acima da esperada pelos pesquisadores, que tinham a estimativa de 45%. Não à toa, de acordo os dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o Brasil está em segundo no lugar no ranking de países com maiores taxas de partos cirúrgicos, marcando uma média de 55%, atrás apenas da República Dominicana, que possui uma taxa de 58%. O alto índice vai contra as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda que a proporção de partos cesarianos seja somente de 15%.

 

 

"Em muitos casos, a cesárea é feita antes do prazo correto, ou seja, antes da 39ª e 40ª semana de gestação. Esse é o tempo mais indicado para que não ocorra riscos à saúde do bebê e da mãe, o que minimiza as chances de patologias, permitindo o desenvolvimento completo dos órgãos vitais da criança. A cesariana feita antes dessa data pode trazer problemas respiratórios crônicos para as crianças, além de outras séries de complicações, como distúrbios de crescimento, deficiências oculares e auditivas”, alerta a especialista.

Marcelle explica que a banalização da cesárea compromete o futuro do desenvolvimento do bebê. Isso porque crianças que nasceram antes do tempo correto, por exemplo, enfrentam um maior desafio na amamentação, necessitando muitas vezes de suporte adicional, associado a dificuldade no ganho de peso. “Há também uma maior chance de desenvolver icterícia por imaturidade do fígado, aumentam os riscos de infecções, podendo ocasionar em sepse neonatal e em problemas neurológicos”, reforça.

 

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