A obesidade é uma condição crescente que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, e sua compreensão requer uma análise profunda de múltiplos fatores. No Brasil, dados indicam que, em 2023, aproximadamente 60% da população adulta foi classificada como obesa ou com sobrepeso, conforme a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). Além disso, a obesidade infantil é uma preocupação crescente: segundo o Ministério da Saúde, cerca de 16,6% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos estão acima do peso, o que representa um aumento alarmante em comparação com anos anteriores.
Segundo René Berindoague, diretor técnico da Bhariátrica Instituto de Obesidade e Cirurgia, as questões hormonais, comportamentais, nutricionais e psicológicas influenciam intimamente o ganho de peso, além do papel do tratamento medicamentoso e também da possibilidade de cirurgia bariátrica como solução viável para muitos.
“A relação entre hormônios e obesidade é complexa. Hormônios como a insulina, grelina e leptina desempenham papéis críticos na regulação do apetite e do metabolismo. Por exemplo, a resistência à insulina pode levar ao acúmulo de gordura, enquanto a leptina, que sinaliza a saciedade, pode não funcionar adequadamente em pessoas obesas. Assim, o entendimento dessas interações hormonais é essencial para abordar a obesidade de forma eficaz”, explica.
A nutrição também é um fator determinante. O especialista cita as dietas ricas em açúcares e gorduras saturadas, aliadas a um estilo de vida sedentário, como impulsionadoras para o ganho de peso. “A educação nutricional é fundamental para ajudar os indivíduos a fazerem escolhas alimentares mais saudáveis e sustentáveis”, diz.
ASPECTOS PSICOLÓGICOS
Além das questões biológicas, o aspecto psicológico é um componente crucial no tratamento da obesidade. Muitas pessoas obesas enfrentam problemas como depressão, ansiedade e baixa autoestima, que podem resultar em comportamentos alimentares desordenados. “O suporte psicológico é vital para ajudar as pessoas a superar barreiras emocionais, promovendo uma relação mais saudável com a comida e incentivando a prática de atividades físicas.”
MEDICAMENTOS
Quanto ao uso da semaglutida e da liraglutida, ele afirma que esses medicamentos têm ganhado popularidade no tratamento da obesidade, pois ajudam no controle do apetite e na regulação de insulina. No Brasil, em 2023, aproximadamente 1,8 milhão de pessoas fizeram uso desses medicamentos, que são especialmente úteis para pacientes com sobrepeso ou obesidade leve a moderada.
Estudos mostram que pacientes que usam uma ou outra substância perdem entre 10% a 15% do peso corporal após seis a 12 meses de tratamento. “Os medicamentos controlam a fome e facilitam a adesão a dietas restritivas. Além da perda de peso, eles ajudam a reduzir a glicemia, a controlar o diabetes tipo 2 e melhorar o perfil lipídico. Entretanto, aproximadamente 30% dos usuários relatam efeitos gastrointestinais como náuseas, vômitos e diarreia, além do elevado custo”, acrescenta.
CIRURGIA
Para aqueles que não conseguem alcançar resultados satisfatórios com intervenções tradicionais, a cirurgia bariátrica pode ser uma opção transformadora. Para René Berindoague, esse procedimento não só promove uma perda significativa de peso, mas também tem demonstrado efeitos positivos em comorbidades, como diabetes tipo 2 e hipertensão. “Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica indicam que até 80% dos pacientes com diabetes tipo 2 apresentam remissão após a cirurgia.”
Entretanto, ele alerta: “A cirurgia bariátrica não é uma solução mágica. O sucesso a longo prazo depende de um comprometimento contínuo com mudanças no estilo de vida, incluindo dieta balanceada e atividade física regular. Além disso, o acompanhamento psicológico é fundamental para garantir que os pacientes lidem adequadamente com as mudanças físicas e emocionais que ocorrem após o procedimento”.
A obesidade é uma condição multifatorial que requer uma abordagem integrada. A combinação de intervenções comportamentais, hormonais, nutricionais e psicológicas, juntamente com opções cirúrgicas, pode oferecer uma perspectiva de melhora significativa para aqueles que lutam contra essa condição.
No mercado de trabalho, “esse distúrbio pode afetar negativamente a atividade laboral do funcionário ao reduzir sua produtividade, aumentar o absenteísmo e o presenteísmo, elevar o risco de problemas de saúde como doenças cardiovasculares e musculoesqueléticas, e dificultar a mobilidade e disposição física. Esses fatores podem comprometer o desempenho e gerar custos adicionais para a empresa. Por isso, é tão importante promover a conscientização e o suporte adequado é essencial para ajudar os indivíduos a alcançarem uma vida mais saudável e equilibrada”.