A sede do PCS Lab Saleme foi interditado pela Anvisa para investigação da infecção de pacientes transplantados pelo vírus HIV -  (crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)

A sede do PCS Lab Saleme foi interditado pela Anvisa para investigação da infecção de pacientes transplantados pelo vírus HIV

crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil

A Sociedade Paulista de Infectologia (SPI) divulgou nota oficial após seis pessoas testarem positivo para HIV após receberem órgãos transplantados no Rio de Janeiro. O caso é considerado sem precedentes pela Secretaria de Saúde. A investigação para apurar as responsabilidades já estão em andamento e o trabalho da perícia médica procede para esclarecer as causas e a extensão do dano por cada paciente.

 

O texto tem o objetivo de tranquilizar a população, em um momento em que muita gente pode ter receio sobre a segurança do transplante de órgãos, reiterando que a doação e recepção de sangue e órgãos são atos seguros e indispensáveis para a saúde pública, e que o caso no Rio de Janeiro é um fato isolado.

 


 

Veja a nota:

 

A Sociedade Paulista de Infectologia (SPI) vem a público tranquilizar a população quanto à segurança do sangue e dos órgãos utilizados em transplantes no Brasil, especialmente no estado de São Paulo.

 

Apesar dos eventos recentes no Rio de Janeiro, reforçamos que o país tem protocolos rigorosos que garantem a segurança do processo de doação, incluindo exames sorológicos não apenas do HIV, mas também hepatites, além de doenças bacterianas e virais. Esses protocolos seguem normas nacionais e internacionais, sendo continuamente atualizados com base nas melhores evidências científicas.
 

 

O caso relatado no Rio de Janeiro, inédito no Brasil, está sendo investigado pelos órgãos competentes, e o Ministério Público esclareceu que apurará possíveis irregularidades no processo de contratação do laboratório responsável pelos exames prévios à doação dos órgãos.
 

 

O fato nos preocupa pelo impacto que pode gerar na sociedade, especialmente em relação ao medo de doar ou receber sangue ou órgãos. Reiteramos que a doação e recepção de sangue e órgãos são atos seguros e indispensáveis para a saúde pública.
 

A SPI está à disposição para esclarecer dúvidas e colaborar com as autoridades de saúde, garantindo que a confiança nas doações seja mantida.
 

*Diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia

O que aconteceu

A transmissão do vírus por meio de transplantes, um processo que deveria ser seguro em razão dos rigorosos protocolos médicos para evitar a disseminação de doenças infecciosas, chocou o estado do Rio de Janeiro na última sexta-feira (11/10), após a notícia de que pacientes foram infectados pelo HIV depois de receberem órgãos contaminados.

De acordo com especialistas, o procedimento de doação de órgãos é regulamentado para garantir a segurança tanto do doador quanto do receptor. A avaliação criteriosa do estado de saúde do doador inclui testes laboratoriais precisos e análise de seu histórico médico, com o objetivo de detectar qualquer risco de infecção, como HIV e hepatites.

 

A médica especialista em medicina legal e perícia médica, pós-graduada em gestão da qualidade e segurança do paciente, Caroline Daitx, ressalta que a situação atual expõe falhas em alguma etapa desses procedimentos. "A transmissão de HIV em transplantes de órgãos aponta para falhas no processo, que pode incluir desde a janela imunológica — fase inicial da infecção em que o HIV pode não ser detectado — até falhas humanas e administrativas", afirma.

Em relação às vítimas, a perícia médica terá papel essencial para avaliar o impacto do erro médico em cada paciente. Caroline Daitx explica que "cada caso será tratado individualmente para determinar a extensão dos danos. No caso do paciente que recebeu um transplante hepático e faleceu, será necessário verificar se o HIV influenciou na causa da morte. Quanto aos pacientes que receberam transplantes renais, a análise incluirá as repercussões atuais da infecção e as possíveis consequências futuras."

Investigações detalhadas serão realizadas para verificar se houve falhas no diagnóstico laboratorial ou na interpretação dos resultados, assim como erros na coleta do histórico médico do doador. A cronologia dos eventos clínicos também será analisada para determinar se o HIV foi o fator determinante nas complicações de saúde ou no falecimento de um dos pacientes transplantados.

O impacto desse episódio pode ser devastador não só para as vítimas e familiares, mas também para a credibilidade do sistema de transplantes no país. "Esses tipos de incidentes expõem a importância de se seguir à risca os protocolos de segurança. A perícia vai apurar as responsabilidades, mas é imprescindível que o caso em questão sirva como alerta para evitar erros como esse voltem a ocorrer", reforça Caroline Daitx.