Nos últimos três anos, cerca de 700 pessoas procuraram atendimento anualmente no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, por intoxicação por paracetamol, a primeira causa de atendimentos no departamento de toxicologia na unidade. O médico coordenador da toxicologia do hospital, Adebal de Andrade Filho, explica que o paracetamol, em si, não é tóxico, tanto que é um medicamento aprovado e de amplo uso em todo mundo. O problema, justamente, é a superdosagem.
Um dos metabólitos do remédio, como se chama o produto do metabolismo de uma determinada molécula ou substância, nesse caso pela ingestão do paracetamol, quando não em dose terapêutica, pode ser tóxico, esclarece Adebal.
"Quando em quantidade maior, esse metabólito não é neutralizado, e começa a ter toxicidade, agindo principalmente no fígado. A dose excessiva, em adultos, é acima de 4 gramas e, em crianças, acima de 200 miligramas. Como diria o médico suíço-alemão Paracelso, que viveu entre os séculos 15 e 16, a diferença entre o veneno e o remédio é a dose", cita.
A intoxicação por medicamentos pode acontecer, segundo Adebal, com diferentes substâncias, com mecanismos distintos ao que ocorre com o paracetamol. Altas dosagens de aspirina, dipirona e ibuprofeno, por exemplo, também podem causar problemas.
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Conforme o especialista, a superdosagem pode ser consequência de algumas situações. "Remédios com sabor, como framboesa, chocolate, podem ser atrativos para crianças. Pode acontecer também da pessoa, na hora de administrar um remédio, confundir o frasco. Ou alguém que está com uma dor forte e se auto medica, ingerindo uma quantidade maior pensando que assim vai melhorar. Em ocasiões extremas, as tentativas de auto extermínio", diz. Uma situação que pode se agravar quanto a medicamentos que são de fácil acesso, encontrados em farmácias e até supermercados, complementa.
Quando se trata do paracetamol, um fato a se ter atenção, segundo Adebal, é que, com poucos comprimidos, se atinge a dose tóxica. Para a versão pediátrica em gotas, a maneira de administrar é colocar o remédio em uma colher ou copinho para dar para a criança, nunca administrando o remédio diretamente do frasco pela boca. "A dose certa é sempre a prescrita pelo médico, variando com a idade e o peso, por exemplo", indica Adebal.
Quando acontece, a intoxicação, que se manifesta de forma distinta em crianças, adultos e idosos, se dá em quatro fases, elucida o especialista. Inicialmente, a partir da ingestão até as seguintes 24 horas, são poucas manifestações, a princípio uma dor de estômago.
Depois, entre 24 horas a 48 horas após tomar o remédio, a dor se intensifica, no flanco direito do fígado, com alterações das enzimas no órgão, caracterizando uma intoxicação mais grave. "Na terceira fase há um comprometimento renal. Na última fase, se a pessoa não é tratada em tempo hábil, acontece a insuficiência hepática, o principal mecanismo de óbito para pacientes não tratados", alerta.
Se houver a ingestão em excesso, a procura pelo pronto atendimento deve ser imediata. "A equipe médica vai avaliar se aconteceu a intoxicação ou não. O tratamento se dá pelo suporte clínico, e existe um antídoto indicado nesses casos", explica Adebal.
Ele reforça que o paracetamol é uma droga segura, desde que usada de forma correta. Ainda assim, é um medicamento que não deve ser estocado em casa e, na presença de crianças, sempre ser acondicionado em locais fechados, e administrado com acompanhamento de um adulto.
A Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde (ACESSA) se posicionou sobre o assunto, por meio de nota. A associação promove o uso seguro e consciente de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs), e fala sobre a responsabilidade de contribuir no trabalho de letramento da população sobre as dosagens certas desse tipo de medicamento.
Veja a nota:
A Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde (ACESSA) reitera sua missão de promover o autocuidado e a saúde responsável. Reconhecemos que o paracetamol é uma ferramenta importante para o alívio de sintomas leves e autolimitados, quando utilizado de forma adequada e conforme as orientações médicas.
É essencial ressaltar que, apesar de sua ampla disponibilidade como Medicamento Isento de Prescrição (MIP), o paracetamol, como qualquer medicamento, requer um uso responsável. Encorajamos todos os consumidores a lerem atentamente as informações contidas na bula e nos rótulos dos produtos, seguindo estritamente as dosagens recomendadas e as orientações de uso.
Além disso, reforçamos a importância de buscar orientação médica em caso de dúvidas ou persistência dos sintomas. Os profissionais de saúde estão preparados para oferecer o suporte necessário e garantir que cada indivíduo receba o tratamento adequado para sua condição.
A ACESSA também incentiva a comunicação de quaisquer efeitos adversos associados ao uso de MIPs, como o paracetamol, às autoridades regulatórias e profissionais de saúde. Essa prática é fundamental para a identificação precoce de problemas e para o contínuo aprimoramento da segurança dos medicamentos.
Neste momento, renovamos nosso compromisso com a promoção da conscientização sobre a saúde e a segurança dos produtos para o autocuidado. O uso responsável do paracetamol e de outros MIPs é fundamental para garantir que esses recursos permaneçam como opções seguras e eficazes para o tratamento de condições leves de saúde.
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