O diagnóstico precoce do câncer de mama aumenta as chances de sucesso do tratamento (Imagem: Blueastro | Shutterstock)  -  (crédito: EdiCase)

O projeto tem como objetivo resgatar a autoestima, contribuindo no bem-estar e qualidade de vida da mulher, por meio da reconstrução do complexo aréolo-mamilar

crédito: EdiCase

Para recuperar a autoestima de pacientes submetidas à mastectomia (retirada total ou parcial da mama) durante o tratamento do câncer de mama, a Fundação Hospitalar São Francisco de Assis (FHSFA), em parceria com as tatuadoras Violetta Tatto, Nilda Durães e Lucinea Vertello, promove o 8º Mutirão de Reconstrução do Complexo Aréolo-mamilar Pós-tratamento de Câncer de Mama com tatuagem 3D. O mutirão acontece no próximo sábado (19), em Belo Horizonte.

 


Durante o mutirão, as tatuagens serão realizadas das 8 às 15 horas. A previsão é que 25 pacientes sejam beneficiadas durante o dia de atendimento. Uma das pacientes beneficiadas é a professora Valéria Araújo, de 57 anos. Em 2019, aos 52 anos, ela estava tratando de uma alergia no mamilo da mama esquerda, quando descobriu o câncer. 

 



A professora conta que começou com uma coceira muito grande. “Coçava tanto, que chegou a ferir”, explica. Moradora de Rodrigo Silva, distrito de Ouro Preto, na região Central de Minas Gerais, Valéria, que já havia passado por um câncer de útero, iniciou logo o tratamento. Segundo ela, “graças a Deus” , a doença tinha sido detectada no início.



Beneficiada com o mutirão, Valéria sobreviveu ao câncer e ainda resolveu ajudar outras mulheres com o projeto CorAção, que fornece para a FHSFA e mulheres da região dos Inconfidentes, almofadas em forma de coração e bolsinha para dreno. A superintendente de Serviços Hospitalares da FHSFA, Adriana Melo, explica que a solidariedade é o foco principal da iniciativa. A parceria entre a Fundação e as tatuadoras garante o atendimento gratuito de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).



Para se inscrever no mutirão, as pacientes preencheram o formulário de manifestação de interesse em participar do projeto disponível na internet. O questionário é bem simples. A pessoa interessada tem que colocar o nome completo, data de nascimento, endereço e três telefones para contato.



Além dessas perguntas tem que responder se já realizou algum tipo de cirurgia mamária e, caso tenha realizado algum tratamento de câncer de mama, qual foi o tratamento, quando e onde ele ocorreu. Deve indicar também se atualmente realiza algum tipo de tratamento. Em caso positivo, deve colocar qual o tratamento que está fazendo e onde o realiza. Adriana Melo explica que, após a inscrição, todas as respostas são analisadas pela equipe da Clínica de Mastologia da FHSFA e a interessada recebe o retorno a respeito da possibilidade de participação no mutirão.



A Presidente da Comissão de Humanização da unidade Concórdia, Graciele Simões, explica que a FHSFA está realizando o mutirão pelo sexto ano consecutivo. Nesta edição, segundo ela, as pacientes vão ter acesso a massagens e roda de conversa. O projeto tem como objetivo resgatar a autoestima, contribuindo no bem-estar e qualidade de vida da mulher, por meio da reconstrução do complexo aréolo-mamilar, sob técnica de tatuagem tridimensional exclusiva, em pacientes submetidas à mastectomia na Fundação e em outras instituições também.



Para a gerente assistencial da Fundação, Maria Cecilia Costa Andrade, a reconstrução da aréola mamária por tatuagem 3D é um presente para a autoestima das mulheres. “Essa técnica delicada e artística restaura a beleza natural e proporciona um novo capítulo de esperança e positividade. Além de restaurar a aparência física, a reconstrução da aréola mamária tem um profundo impacto emocional. Ao recuperar uma parte tão significativa de si mesma, as mulheres sentem-se mais completas e confiantes, fortalecendo sua jornada”, destaca.



Solidariedade

 

A ação faz parte da programação do Outubro Rosa da FHSFA e permite o refinamento da plástica em pacientes do SUS que venceram a luta contra o câncer e tiveram a mama reconstruída. Segundo a Mastologista e Coordenadora do Serviço de Mastologia do Hospital, Lucia Aiko Homma, cerca de 70 pacientes já foram beneficiadas com os mutirões realizados pela Fundação.



A mastologista Lucia Aiko explica que, com a conquista do direito da mulher com câncer de mama de reconstruir a mama pós sua retirada pelo SUS, foi observado que naquelas em que não havia a possibilidade de preservar o mamilo e aréola demandava a necessidade de reconstruí-los também. “Essa reconstrução poderia ser feita com intervenção cirúrgica ou com a dermo pigmentação (tatuagem). Escolhemos a segunda opção por ser um método mais rápido sem internação hospitalar e sem riscos de complicações”, ressalta.

 



Segundo Lucia Aiko, a Fundação “iniciou também cursos de capacitação para realização da técnica de reconstrução do mamilo e aréola em 3D e, durante esse treinamento, pude conhecer o mundo da tatuagem”. Lucia Aiko conta que, para sua surpresa, encontrou pessoas dispostas a fazer as reconstruções para as pacientes sem qualquer ônus, empresas doando materiais, diretoria disposta a abraçar a causa nos incentivando, funcionários também disponíveis.



A mastologista garante que “todo esforço valeu a pena. Ver as pacientes satisfeitas com o resultado nos emocionam. E mais uma vez conseguimos aquela sensação de estar contribuindo com o principal objetivo do hospital que é cuidar do amor de alguém, proteger a vida se concretiza”.



As tatuagens são feitas em menos de 40 minutos. A técnica em 3D garante uma reconstrução mais harmoniosa esteticamente, o que permite que as pacientes possam recuperar a autoestima. Os atendimentos das pacientes serão realizados dentro dos consultórios, apenas com a presença da paciente e da tatuadora e com horários pré-definidos, para evitar aglomerações.



Tratamento e retirada da mama

 

Durante o câncer de mama, Valéria Araújo passou pelos tratamentos cirúrgico e com hormônio terapia, foram realizados na Fundação Hospitalar São Francisco de Assis e no Hospital de Itabirito, onde foi feita uma cirurgia. Nesse procedimento, ela entrou em coma e foi transferida para um hospital particular em Belo Horizonte, ficando quatro dias no CTI.



Para ela, a parte mais difícil do tratamento foi a retirada da mama esquerda. “Eu fiquei três anos com o expansor para conseguir fazer a reconstituição. Para mim, que já tinha tido um câncer de útero, a retirada da mama foi muito difícil. Todos achavam que eu estava superbem. Sempre sorria para todos e não deixava transparecer a dor que estava sentindo. Sempre fui muito vaidosa e quando me vi sem a mama de um lado, foi muito difícil. Por mais que sabemos da importância da vida acima de tudo, foi muito doido. Passar pelo câncer e pela pandemia da COVID-19 juntos foi missão quase impossível”, conta.



Valéria Araújo terminou o tratamento do câncer de mama, mas como retirou este ano de um nódulo e a biópsia deu inconclusiva, segue rigorosamente as orientações da mastologista Lúcia Aiko, que achou melhor acompanha-la de perto novamente. “Voltei a ir às consultas de seis em seis meses e se precisar posso marcar antes”, explica Valéria. A expectativa dela com a tatuagem é grande. No ano passado, segundo Valéria, já poderia ter feito, mas na última hora não teve coragem.



“Esse ano estou bem entusiasmada. Após a reconstituição senti falta da aparência igual de ambas as mamas. Já estou ansiosa para chegar o dia e ver o resultado. Com certeza vou ficar bem feliz após a tatuagem do mamilo. Só tenho a agradecer a Fundação Hospitalar São Francisco de Assis, Lúcia Aiko e todos da Oncologia. Não posso esquecer do rapaz da recepção. Como aquele rapaz é educado, gentil e compreensivo com todos e de uma bondade incrível. Enfim, gratidão a todos e se Deus quiser daqui a pouco só irei anualmente”, ressalta contando os quatros dias que restam para acontecer o mutirão.

 

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