“A mulher aprendeu a doar, aprendeu a cuidar, e, muitas vezes, não consegue ver essas qualidades no seu companheiro. Para o homem, é difícil lidar com uma mulher que recebeu o diagnóstico e também fez o tratamento, pois lhe é comum a ideia de perda do símbolo da feminilidade, comumente associado ao cabelo e ao seio da mulher. É um processo delicado, que precisa ser dialogado dentro dos relacionamentos. Entretanto, o câncer de mama, para várias relações, será a ponta do iceberg, diante de um relacionamento que já não tem um bom funcionamento”, a fala da psicóloga Kamilla Santana, diretora de RH da ASPRECAM, aborda uma triste realidade: 70% das mulheres em tratamento oncológico são abandonadas por seus parceiros, de acordo com estudo divulgado pela Sociedade Brasileira de Mastologia.
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Para a psicóloga Kamilla, tudo passa pela educação. O homem saber ou não saber lidar com uma doença está, por vezes, na base da educação que não o preparou para lidar com a exposição a um cenário difícil, por longo período. Psicologicamente falando, o diagnóstico de câncer, somado ao fim de um relacionamento, pode desencadear um quadro depressivo, e isso exige da mulher ter seu cuidado redobrado. “O que temos, de forma geral, são mulheres que ficam "até que a morte nos separe" com o marido, e homens que abandonam as mulheres diante de um momento delicado. Por isso, mais uma vez, a rede de apoio se torna fundamental para que a mulher consiga, além de lidar com o tratamento do câncer de mama, também passar pelo abandono do seu companheiro”.
“O homem, culturalmente, tem a tomada de decisão rápida e ações imediatas, tem na sua "força" as respostas para os problemas. O câncer de mama, melhor dizendo, a mulher em tratamento, não precisa da força do homem, ela precisa do amor e do afeto desse homem. O fato de o homem não saber lidar com a doença é um reflexo da nossa cultura, que exige da mulher o aprendizado no aspecto socioemocional muito mais do que a necessidade de o homem também se implicar nesse processo de desenvolvimento. Vale salientar que os homens também têm câncer de mama e eles precisam aprender a lidar com esse diagnóstico, que pode ser vivido por ele também”, observa Kamilla.
Rede de Apoio
Com 40 anos de existência, a Associação de Prevenção do Câncer na Mulher (ASPRECAM) desenvolve um intenso trabalho em favor das mulheres com câncer de mama. A atuação da entidade tem se voltado para diversos programas e projetos que procuram amenizar o impacto negativo da doença na vida das pacientes, levando-lhes informações seguras, orientando-as sobre o autocuidado e a prevenção. Além disso, a associação procura construir uma rede de apoio onde as mulheres possam sentir-se acolhidas e abraçadas em laços de afeto. Neste sábado (26/10), a ASPRECAM, em parceria com a Casa da Orla de Lagoa Santa – local de eventos que apoia ações sócioculturais –, será todo dedicado à conscientização do câncer de mama com palestras sobre autocuidado e acolhimento, exposição fotográfica, meditação, yoga e biodança.
Para a psicóloga Kamilla, o diagnóstico de câncer de mama impacta a paciente e todas as pessoas à sua volta, portanto, elas deverão ter uma atuação cuidadosa e respeitosa pelo momento de vida dessa paciente. “Quando mencionamos rede de apoio, podemos associar as nossas conexões, os nossos vínculos afetivos que servem, para além de um lugar de cuidado, também, de ação para com outro. A rede de apoio pode ser as pessoas da família, os amigos, juntamente com as instituições que fornecem serviços em favor dessa paciente oncológica”, orienta.
A rede de apoio se torna fundamental, principalmente, para aquilo que é de ordem prática das situações que estão envolvidas em um tratamento de câncer. Kamilla Santana esclarece a importância de ter alguém que possa ajudar o paciente que passa por um processo de fragilidade física e mental: “Por isso, ajudar a paciente, por exemplo, a ter uma pasta com todos os documentos que ela vai precisar levar durante a jornada dela do tratamento. Acompanhar nas consultas e ser solícito quanto a preparar um lanche, a oferecer algum suporte dentro da rotina dessa pessoa, que estará voltada para o seu tratamento e os seus outros afazeres precisam ser reorganizados, inclusive o cuidado com as tarefas domésticas”.
É primordial que o diálogo seja estabelecido dentro dessa rede de apoio, para que não haja uma ação que invada a privacidade dessa mulher sem autorização. Dialogar possibilita que as pessoas sejam fontes de cuidado, de amor e que nutra o paciente oncológico e faça com que ele não se sinta só, de que ele possui pessoas ao seu redor que se importam e que desejam cuidar, amparar. A rede de apoio, muitas vezes, estará em um processo de transformação juntamente com a paciente, claro, dentro da realidade de cada contexto familiar e de tratamento.
‘Quem procura acha e quem acha se cura’
O estigma de que o câncer de mama é uma sentença de morte está no imaginário sociodiscursivo das pessoas, em decorrência de vários fatores, como o desconhecimento do que era o câncer há décadas. Apesar dos avanços científicos, esse estigma ficou enraizado. Desconstruir esse tabu é um processo que demanda vários esforços. “Um caminho para isso é ter a incorporação da prevenção em nossa cultura por meio da promoção de campanhas de conscientização, como esta que estamos vivenciando, o Outubro Rosa”, comenta Kamilla Santana.
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Segundo a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, receber o diagnóstico do câncer de mama pode ser muito assustador, mas a chance de cura é de mais de 90% quando detectado precocemente. Diagnósticos precoces tornam o tratamento, muitas vezes, menos invasivo para o paciente oncológico. Para Kamilla, o estigma da sentença de morte precisa acabar, para que mais mulheres consigam ter o diagnóstico precoce: “Há um ditado que diz que ‘Quem procura acha e quem acha se cura’. É melhor que essa mulher chegue ao diagnóstico precoce do câncer de mama do que sofrer as consequências de um diagnóstico tardio, porque não é o fato de ela não querer receber o diagnóstico que ele não virá, isso está para além do que se controla na vida. É importante esclarecer que o câncer de mama não é uma doença que mata, entretanto o fato de não utilizarmos o autocuidado como uma ferramenta para os diagnósticos acontecerem precocemente, impossibilita que o tratamento seja menos invasivo. Se mudarmos a nossa cultura para a prevenção, teremos, então, a diminuição da taxa de mortalidade e de morbidade por câncer de mama’, completa.
Programação do Sábado Rosa - Estação Primavera
A Cada da Orla, espaço sociocultural em Lagoa Santa, abraça as ações do Outubro Rosa e vai dedicar, ao longo de todo o dia de sábado ( 26/10), uma programação dedicada à conscientização do câncer de mama com palestra da psicóloga Kamilla Santana sobre autocuidado e acolhimento, além da abertura da exposição fotográfica “Um Outro Olhar Sobre o Câncer de Mama”.
No local, terá também prática de meditação sahaja yoga, com Valéria Ferreira e biodança, com a psicóloga Daniela Carvalho. A programação inclui momentos de acolhimento, informação, tudo para promover saúde e bem-estar:
9h30 - Distribuição de água aos participantes da ‘Caminhada Movimente-se’
10h00 - Abertura da exposição fotográfica: “Um Outro Olhar Sobre o Câncer de Mama”
13h00 - Boas-vindas com show de Pollyanna Rodrigues
15h00 - Palestra Mamamiga com a psicóloga Kamilla Martins
15h30 - Sahaja Yoga com Valéria Ferreira
16h30 - Biodanza com Daniela Carvalho
17h30 - Chá de confraternização e sorteio de brindes
Local: Casa da Orla, Lagoa Santa - Avenida Getúlio Vargas, 1732, Bairro Joana d’Arc
Mais informações: (31) 991084111
Instagram: @casadaorlamg
Mamamiga pela vida
A Associação de Prevenção do Câncer na Mulher (ASPRECAM) é uma Organização de Sociedade Civil, certificada como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Foi fundada em 30 de outubro de 1984, visando colocar em ação um projeto de prevenção, diagnóstico e tratamento precoce do câncer de mama. Desde sua criação, a ASPRECAM trabalha para agregar valor e somar ações juntamente com os serviços de saúde pública voltados para a mulher no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, visando consolidar de forma exitosa uma tecnologia social de ponta.
A rede é constituída pela instalação em locais públicos dos modelos didáticos Mamamiga – simulador da glândula mamária feminina para o exame clínico e autoexame das mamas – instrumentalizando o aprendizado e facilitando a identificação das possíveis alterações nos seios e nas axilas, por meio do exame com as mãos. Estimula, ainda, a prática do autocuidado, do exame clínico e da mamografia.
Contatos
(31) 3241-3238
(31) 97199-2515
Instagram: @mamamigapelavida