No estágio inicial, a doença é silenciosa -  (crédito: Freepik)

No estágio inicial, a doença é silenciosa

crédito: Freepik

O mês de novembro, marcado pela campanha de conscientização sobre o câncer de próstata, é hora de falar sobre o segundo tipo de tumor que mais atinge homens no mundo, atrás apenas do de pele não melanoma. Minas Gerais ocupa a vice-liderança de um ranking que, infelizmente, não é motivo de comemoração: a cada ano do triênio 2023-2025, são esperados por aqui 7.970 novos casos da doença, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). O estado fica abaixo apenas de São Paulo, cuja estimativa é de 16.830 diagnósticos no mesmo período.

 

Ainda de acordo com o Inca, o envelhecimento populacional é um dos principais fatores relacionados aos novos diagnósticos. A análise da entidade de saúde é respaldada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em junho do ano passado: o grupo de mineiros com 65 anos ou mais passou a representar 10,9% do total da população do estado em 2022, ante 8% em 2012. “Mais do que qualquer outro tipo, o câncer de próstata é considerado um tumor da terceira idade, ou seja, quanto mais velho o paciente, maior é a chance de diagnóstico”, reforça o oncologista Alexandre Chiari.

 

 

 

Integrante da equipe da Cetus Oncologia, clínica especializada em tratamentos oncológicos com unidades em Belo Horizonte, Betim e Contagem, Alexandre explica que, geralmente, no estágio inicial, a doença é silenciosa. “Às vezes o paciente pode ter o que chamamos de disúria e polaciúria. A primeira é caracterizada por dor, queimação, ardência ou desconforto ao urinar, ou após o ato de urinar. Já a segunda refere-se ao aumento da frequência das micções, ou seja, micções com intervalos menores”. Em fases mais avançadas, emagrecimento repentino e dor óssea, indicando metástase – a disseminação da doença para outros órgãos - chamam atenção.

 

Para evitar a descoberta em fase tardia, o que dificulta as chances de cura, Alexandre afirma ser fundamental a adesão do homem ao exame urológico anual partir dos 50 anos de idade, conhecido como toque retal. Durante o método, o médico insere um dedo no ânus do paciente, utilizando luva e lubrificante, e analisa a região por cerca de 10 segundos.

 

 

“A textura da próstata, normalmente, é fibroelástica. Isso significa que áreas endurecidas apalpadas durante o exame podem sinalizar para a presença de doença neoplásica. Diante dessa suspeita o urologista solicita uma ultrassonografia transretal, seguida de biópsia para confirmar o diagnóstico”, detalha o especialista, acrescentando que aqueles considerados de alto risco, com pais ou irmãos com histórico da doença, além de afrodescendentes, devem iniciar a prevenção a partir dos 45 anos.

 

“Felizmente, o preconceito contra o toque retal tem diminuído significativamente nos últimos anos. Sou oncologista desde 1995. Na década de 1990 e no início dos anos 2000, falar deste exame era um assunto muito complexo, carregado de machismo e ignorância. Hoje, as pessoas estão mais conscientes de sua importância”.

 

 

A afirmação de Alexandre é reforçada por uma pesquisa inédita encomendada ao Instituto Datafolha pela plataforma Omens e pelo Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL). De acordo com o levantamento, 95% dos brasileiros reconhecem a importância do exame de toque retal para o diagnóstico precoce do câncer de próstata. Além disso, 88% avaliam que fazer o exame não interfere na masculinidade dos homens. “Além de identificar o tumor, o toque retal pode ainda encontrar outros sinais de doença na próstata, como prostatite (inflamação da próstata) e hiperplasia (aumento da próstata)”, completa.

 

Outra avaliação, segundo o oncologista, é o exame de PSA, teste feito a partir da coleta de amostra de sangue do paciente para medir a quantidade de uma proteína, o antígeno prostático específico (PSA), produzida pelas células epiteliais da próstata. “O valor de referência do PSA fica em torno de 2,5 nanogramas (ng) por mililitro (ml) de sangue. Ela pode estar um pouco aumentada em pacientes a partir dos 60 anos e não necessariamente significar doença. É um dado dentro de um conjunto de questões utilizadas para se chegar ao diagnóstico, mas isoladamente não é o principal parâmetro”, explica.

 

Tratamento em doença ainda precoce salva vidas

 

Alexandre destaca que, quanto mais precocemente for o diagnóstico, maior será o sucesso do tratamento. Nessas situações, intervenção cirúrgica será o caminho mais assertivo. Já em fase mais avançada, há hoje, segundo o especialista, uma série de terapias com antiandrogênicos bem poderosos que aumentam a sobrevida de forma significativa e controlam a enfermidade. “Eles, porém, não são curativos, mas paliativos”.

 

Para não chegar nesse cenário, no qual a cura fica impossível, o médico finaliza dizendo sobre a importância do rastreamento anual. “Os benefícios ao fazer o toque retal e todos os exames necessários e recomendados são infinitamente maiores e melhores. Quem ainda deixa de se prevenir por pura ignorância e preconceito, compromete a saúde e até mesmo a vida.”

 

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia