Com a chegada do mês de outubro, marcado pela campanha de prevenção ao câncer de mama, considerado o tumor feminino mais incidente entre as mulheres em todo o mundo, inclusive no Brasil, um alerta chama atenção: a mamografia, principal método para rastrear a doença, registrou queda de 58% em 2023, na rede pública de saúde de Minas Gerais, na comparação com o ano anterior.

 

Segundo levantamento do Sistema de Informações de Câncer (Siscan), compartilhado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), as 14 macrorregiões de saúde espalhadas por Minas, somaram 176.966 procedimentos em 2023 ante 423.333 computados em 2022. Analisadas, individualmente, todas tiveram reduções de mais de 50% na procura pelo exame. A situação mais crítica é notada no nordeste mineiro, que no período analisado teve uma baixa de 63% no total de mamografias realizadas. 

 

 



 

A oncologista Aline Costa afirma que o cenário é extremamente preocupante, haja vista que a realização da mamografia de forma periódica é fundamental para aumentar as chances de diagnosticar um eventual tumor ainda em fase precoce. “Hoje, infelizmente, muitas pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) chegam aos consultórios com doenças mais avançadas e isso acontece não só por dificuldade de informação, mas também por dificuldade de acesso. Essa situação é preocupante, pois a detecção precoce pode salvar vidas”, pontua.

 

Ainda de acordo com a especialista, que faz parte da equipe da Cetus Oncologia, quando se fala em prevenção, o autoexame das mamas já não é mais considerado um método altamente eficaz como era propagado no passado. “É óbvio que ele é um importante passo para a mulher conhecer o próprio corpo, mas infelizmente não é capaz de detectar nódulos minúsculos que ainda não são palpáveis, mas somente vistos por meio das modernas tecnologias dos mamógrafos”, destaca acrescentando que o Ministério da Saúde recomenda o rastreamento bianual dos 50 anos aos 69 anos. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia, em conjunto com outras entidades, indica uma avaliação anual em mulheres a partir dos 40.

 

 

 

Assim, Aline reforça que independentemente da presença de um nódulo, a mulher deve fazer consultas regulares com um mastologista pois, às vezes, embora o tumor ainda não seja perceptível, o câncer já pode estar instalado. “Aquelas com alto risco para câncer de mama (a depender da história pessoal e/ou familiar), são orientadas, inclusive, a iniciar o rastreamento de forma mais precoce em comparação à população geral”.

 

Dados do Siscan revelam que as 14 macrorregiões de saúde espalhadas pelo estado, somaram 176.966 exames em 2023 ante 423.333 computados em 2022

Siscan/ Reprodução

 

Sinais que devem ser investigados

 

A presença de nódulos nas axilas ou na região acima/abaixo da clavícula, lesão ulcerada na pele das mamas, presença de líquido na aréola – a pele mais escura do mamilo - são sinais de alerta para que a mulher busque ajuda médica especializada. “É importante também se atentar a sintomas que já indicam uma doença em fase mais avançada, entre eles perda de peso inexplicada, falta de ar, dor nos ossos, pele amarelada, confusão mental, disfunção neurológica etc”.

 

A oncologista informa ainda que apesar de o câncer de mama ser associado a fatores hereditários, hábitos comportamentais, também aumentam as chances de um diagnóstico positivo. A obesidade, por exemplo, é fator de risco não só para o tumor de mama, mas para outras neoplasias.

 

Quanto aos tratamentos, Aline enfatiza que não há formas homogêneas para todos os cenários. “As intervenções para barrar o câncer de mama são ultra individualizadas, tanto pelos subtipos moleculares quanto pelo estadiamento da enfermidade, ou seja, o nível de progressão da neoplasia. Devemos levar em consideração ainda se a paciente tem condições clínicas para se submeter ao tratamento, bem como seus desejos/valores”.

 

 

Nesse sentido, vale até mesmo o médico conversar com a mulher – principalmente as mais jovens - para saber, por exemplo, se ela tem o desejo de ser mãe no futuro. Isso porque o tratamento, conforme revela Aline, pode provocar infertilidade.“A quimioterapia pode causar uma falência ovariana, [perda da capacidade reprodutiva da mulher em idade fértil], transitória ou não. Por isso é importante que ela [a paciente] seja consultada sobre sua vontade de ter filhos para assim definirmos a criopreservação como uma possibilidade antes do início das terapias quando esta possibilidade é viável.

 

A técnica consiste em congelar material biológico, como células e tecidos, para que possam ser utilizados futuramente. “Isso não só permite que as pacientes com o desejo de serem mães não tenham o sonho interrompido e, ao mesmo tempo, garantir a humanização e individualização do tratamento". 

 

É possível prevenir?


Ao invés de usar a palavra prevenção contra o câncer de mama, Aline prefere falar sobre minimização dos riscos. Para isso ela sugere que as mulheres foquem, principalmente, nos fatores comportamentais que podem causar a doença, como obesidade, sedentarismo e etilismo (alcoolismo). “Nesse sentido, o melhor caminho é ter uma vida ativa, do ponto de vista da atividade física, e saudável. Vale lembrar ainda que muitas [mulheres], durante a menopausa, podem ter a necessidade de fazer uma terapia de reposição hormonal. Essa prática, infelizmente, também acaba aumentando o risco para a neoplasia, portanto, os casos com indicação devem ser adequadamente individualizados”.

 

 

Sobre o risco hereditário, a oncologista afirma que ao saber de sua existência, por meio do acompanhamento com o oncologista e/ou geneticista, são realizadas orientações personalizadas a depender da síndrome e da idade da paciente. No caso da síndrome mama-ovário, associada à mutação dos genes de suscetibilidade ao câncer de mama tipo 1 ou 2 ( BRCA1/2 ), por exemplo, além da orientação de rastreamentos mais precoces, a depender do subtipo da mutação e da idade, podem ser indicadas cirurgias redutoras de risco, como mastectomia bilateral e/ou à salpingooforectomia bilateral (retirada das trompas de Falópio e dos ovários).

 

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