A empresária Viviane Lira Monte, de 24 anos, morreu na última quinta-feira (26) após fazer seis cirurgias plásticas, em uma clínica particular na cidade de Sobral, no interior do Ceará. Os procedimentos, feitos ao mesmo tempo, foram mamoplastia redutora (redução de mama); lipoaspiração no abdômen, nos braços; nas costas; e no pescoço; e lipoenxertia glútea.  


De acordo com os parentes da vítima, os procedimentos foram feitos no dia 31 de agosto e Viviane já foi liberada em 1º de setembro. Dias depois a empresária precisou ir para a UTI, e seu estado evoluiu para um quadro grave. Viviane morreu um dia antes do aniversário, quando completaria 25 anos.




 

Familiares acusam a clínica de negligência médica já que outros profissionais recusaram realizar as cirurgias de uma só vez na empresária. Todas as cirurgias e despesas hospitalares custaram cerca de R$ 40 mil, dinheiro que ela juntou por vários meses porque tinha o sonho do "corpo perfeito".


Entenda os riscos 


O cirurgião plástico Josué Montedonio explica que a realização de mais de um procedimento em uma única cirurgia prolonga o tempo de exposição do paciente à anestesia, o que pode acarretar complicações mais graves, como trombose, embolia pulmonar e problemas cardiorrespiratórios. “Submeter o corpo a múltiplos procedimentos cirúrgicos simultâneos aumenta consideravelmente os riscos”. 

 


Outro risco importante a ser considerado é o aumento da complexidade da recuperação. Segundo Josué, a recuperação de múltiplos procedimentos exige um acompanhamento mais rigoroso e, muitas vezes, o paciente subestima os cuidados necessários. "Quando realizamos cirurgias isoladas, o corpo tem uma capacidade maior de recuperação localizada. Ao realizar várias intervenções, o organismo é sobrecarregado, o que pode levar a complicações, como infecções e cicatrização inadequada."

 


O tempo que o paciente permanece na sala de cirurgia também é um fator crucial. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) recomenda que cirurgias com tempo superior a seis horas sejam evitadas sempre que possível, já que procedimentos longos não só aumentam o risco de complicações como sobrecarregam o corpo. " É fundamental que os pacientes sejam orientados a priorizar sua segurança acima da estética", destaca o cirurgião.

 

 


Josué Montedonio também aponta a importância da avaliação médica criteriosa antes de optar por cirurgias combinadas. "Cada caso precisa ser avaliado individualmente. Pacientes com condições pré-existentes, como hipertensão, diabetes e problemas cardíacos, podem não ser bons candidatos para esse tipo de intervenção, pois o risco de complicações aumenta consideravelmente", alerta.


Múltiplas cirurgias


Para aqueles que ainda optam por realizar múltiplas cirurgias em um único procedimento, o especialista ressalta a necessidade de cuidados pré e pós-operatórios. Antes da cirurgia, é imprescindível que o paciente passe por uma avaliação detalhada, incluindo:


  • Exames de sangue
  • Eletrocardiograma 
  • Consulta com o anestesista


"O planejamento cirúrgico deve ser detalhado e personalizado, visando reduzir os riscos de complicações e assegurar que o paciente esteja apto para suportar os procedimentos".



No pós-operatório, o cuidado precisa ser redobrado. O tempo de recuperação pode ser mais longo, e a necessidade de acompanhamento médico é essencial para prevenir complicações como trombose venosa profunda e infecções. "Pacientes devem seguir rigorosamente as orientações do cirurgião, incluindo repouso adequado, uso de malhas compressivas e movimentação para evitar a formação de coágulos", explica.

 

 


No Brasil, cerca de 1,5 milhão de cirurgias plásticas são realizadas anualmente, segundo dados da SBCP. Deste total, 40% são cirurgias estéticas, e um número crescente envolve combinações de procedimentos. Ainda assim, a conscientização sobre os riscos é baixa, e muitos pacientes tomam decisões baseadas mais em fatores estéticos do que em segurança.

 


O Brasil também é conhecido pela alta demanda por cirurgias estéticas em comparação com outros países, e essa busca por aperfeiçoamento rápido faz com que muitos recorram a múltiplas intervenções. Josué defende que o diálogo entre paciente e cirurgião é essencial para equilibrar expectativas estéticas e segurança: "A cirurgia plástica deve sempre primar pela segurança do paciente. Um bom resultado não vale a pena se a saúde estiver em risco."


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