No dia 7 de outubro de 1984, nascia Anna Paula Caldeira, o primeiro bebê concebido por fertilização in vitro (FIV) no Brasil. O procedimento, realizado seis anos após a primeira FIV mundial, no Reino Unido, marcou o início de uma revolução na medicina reprodutiva do país. Quatro décadas depois, os avanços tecnológicos têm transformado as perspectivas de infertilidade, ampliando o acesso e as possibilidades de sucesso do tratamento.

 

Segundo a médica convidada pela Organon, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, Paula Andrea Navarro, as mudanças são expressivas. “Desde o primeiro nascimento, houve avanços nas medicações para estimular a ovulação, nas técnicas de obtenção de óvulos e na cultura embrionária. Por exemplo, o procedimento original era realizado em ciclo natural, sem hormônios, permitindo a recuperação de apenas um óvulo. Hoje, com o uso de medicamentos, é possível obter mais óvulos, o que aumenta significativamente a taxa de nascidos vivos por tratamento", explica.

 



 

Outro marco importante foi a introdução da injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), em 1992, que revolucionou o tratamento para homens com infertilidade severa. "Antes dessa técnica, homens com graves problemas de fertilidade não tinham opções de tratamento. Hoje, a ICSI permite que um único espermatozoide seja injetado diretamente no óvulo, preservando a esperança da paternidade e permitindo que o sonho da maternidade se torne realidade", salienta Paula.

 

A evolução das técnicas de criopreservação de embriões e de gametas também foi crucial. De acordo com a especialista, a criopreservação de embriões e óvulos passou por melhorias, permitindo que óvulos congelados possibilitem taxas de nascidos vivos similares a de frescos, em grupos específicos de mulheres. No entanto, ela esclarece que o número de óvulos criopreservados e a idade da mulher quando realizou o procedimento influenciam bastante a taxa de sucesso gestacional utilizando estes gametas. “A criopreservação de óvulos possibilita que mulheres que desejam e/ou precisam adiar a maternidade, por qualquer motivo, possam preservar seus óvulos com segurança", afirma Paula.

 

Acesso à FIV no Brasil: um desafio contínuo

 

Apesar dos avanços, a acessibilidade aos tratamentos de FIV ainda é um desafio no Brasil. A médica ressalta que, atualmente, menos de 5% dos procedimentos são realizados em serviços públicos. "Infelizmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) não oferece uma política integral de atenção à reprodução assistida, o que limita o acesso a muitas famílias que necessitam desse tratamento", comenta.

 

“Instituir no SUS uma Política Nacional de Atenção Integral em Reprodução Humana Assistida deveria ser uma prioridade, considerando o quão devastador pode ser o impacto da infertilidade para a vida das pessoas, o quão prevalente é esta condição, que afeta uma em cada seis pessoas em idade reprodutiva, e que o custo elevado destas terapias impossibilita o seu acesso a grande maioria das pessoas”, salienta.

 

 

No entanto, a especialista pontua que o número de centros privados de reprodução assistida aumentou consideravelmente ao longo dos anos. "Há um número crescente de serviços privados que oferecem diversas modalidades de tratamento de reprodução assistida. Além disso, alguns destes centros têm oferecido tratamentos de reprodução assistida a valores mais acessíveis em comparação aos custos integrais dos tratamentos, ampliando as opções para aqueles que têm condições de acessar o setor privado".

 

Perspectivas futuras

 

Com a evolução rápida das novas tecnologias, o futuro da FIV parece promissor. A automação dos processos e o aprimoramento das técnicas de cultivo embrionário, aliadas aos avanços da genética, devem continuar impulsionando as taxas de sucesso. "O desafio é aumentar as taxas de sucesso sem elevar os riscos associados, como a multiparidade. Além disso, há grande expectativa quanto ao uso de tecnologias de edição gênica para melhorar a qualidade dos embriões", reforça a médica.

 

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