Estima-se que mais de 70 milhões de pessoas no mundo sejam afetadas por algum transtorno alimentar, como anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar, segundo levantamento divulgado pela Associação Brasileira de Psiquiatria. Já no Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas apresentam algum tipo de transtorno alimentar.

 

De acordo com o psicólogo Emerson Marques, que atua no  Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” (Cejam), a prevalência desses distúrbios tem aumentado consideravelmente no Brasil. É o que mostram dados do Ministério da Saúde, indicando que a anorexia nervosa, considerado o distúrbio mais comum entre mulheres jovens e adolescentes até 19 anos de idade, chega a afetar até 2% das meninas brasileiras. 

 



 

Para combater o problema, que impacta tanto a saúde física quanto o emocional dos jovens, o especialista esclarece que é crucial que pais, educadores e profissionais de saúde estejam atentos aos sinais de alerta, que podem ser diferentes para cada distúrbio.

 

A anorexia nervosa, caracterizada pela restrição severa da alimentação e medo intenso de ganhar peso, pode levar à desnutrição extrema e outros problemas de saúde graves. Já a bulimia nervosa envolve episódios de compulsão alimentar, seguidos por comportamentos compensatórios inadequados, como vômitos ou uso excessivo de laxantes. O transtorno de compulsão alimentar, por sua vez, é marcado por episódios de ingestão excessiva de alimentos sem comportamentos compensatórios, frequentemente resultando em ganho de peso.

 

O especialista explica que alguns indícios podem ser notados antes que o caso se agrave, no entanto, é importante observar o comportamento da criança ou do adolescente. Um desses sinais é a constante preocupação com o peso e a forma corporal. “A criança ou adolescente começa a se pesar com frequência, denotando preocupação com os ‘quilos a mais’, ou faz comentários negativos sobre seu corpo de forma excessiva”.

 

 

Também deve-se perceber se o adolescente começa a desenvolver restrições alimentares e/ou passa a utilizar roupas largas para esconder o corpo. Em uma evolução do problema, indicadores como a rápida perda de peso, tonturas e irregularidades menstruais servem de alerta.

 

Emerson revela que a prevalência de jejum prolongado entre adolescentes, muitas vezes motivado pelo medo de ganho de peso, tem sido uma preocupação crescente. Essa prática não só compromete as necessidades nutricionais essenciais, mas também pode levar ao desenvolvimento de distúrbios alimentares no longo prazo. Segundo ele, os jovens também podem:

 

  • Demonstrar uma preocupação maior com as calorias dos alimentos
  • Criar regras para evitar comer em algumas situações
  • Mentir ou omitir sobre comida (como dizer que não quer jantar porque já comeu algo na rua, por exemplo)
  • Ficar frustrado ao comer mais do que previa em uma refeição
  • Falar constantemente sobre seu peso
  • Apresentar falta de atenção
  • Sono excessivo ou insônia
  • Tentativas de implementar dietas restritivas por conta própria

 

Além disso, a preocupação com a imagem corporal, influenciada por padrões sociais e a mídia, bem como traços de personalidade, como perfeccionismo e controle excessivo, são fatores que contribuem para a vulnerabilidade dos adolescentes. “Os distúrbios alimentares são um problema de saúde mental e física que exige uma abordagem integrada”, afirma o psicólogo. Portanto, a identificação precoce e o apoio adequado são essenciais para ajudar esses jovens a encontrar um caminho saudável.

 

“A família e a escola desempenham um papel fundamental na criação de um ambiente que promove uma imagem corporal positiva e uma boa relação com a comida”, destaca.
 

Prevenção é a chave
 

O especialista reforça que promover uma imagem corporal positiva, educar sobre a diversidade de formas corporais e criar um ambiente de apoio e compreensão são passos importantes e necessários para prevenir o problema. “A psicoterapia, incluindo abordagens como terapia cognitivo-comportamental (TCC) e terapia do esquema, pode ser uma ferramenta valiosa para tratar e ajudar os adolescentes a desenvolver uma relação mais saudável com a alimentação e a autoestima”, orienta Emerson.

 

Nesse sentido, pais e educadores devem ser proativos em reconhecer os sinais e oferecer suporte sem julgamentos. “A abordagem empática e o incentivo à busca de ajuda profissional são vitais para a recuperação dos jovens que sofrem com esse problema.”

 

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