A cultura de obsessão por modelar o corpo chegou ao rosto, e a mais nova vítima dessa motivação é a gordura facial. As bochechas volumosas, que dão ao rosto a forma que distingue uns dos outros, são rotineiramente podadas por bisturis e tesouras. E as convexidades - têmporas arredondadas, órbitas lisas - estão afundando sob o peso das drogas dietéticas, no que ficou conhecido nos Estados Unidos como "Ozempic Face”.

 

“A perda de gordura em suas várias formas, desde o surgimento sutil de contornos silenciosos até o início chocante de depressões severas, tem impactos futuros importantes. A gordura facial contribui para uma aparência saudável e jovem. No mínimo, ela dá volume e estrutura à pele, evitando rugas, e esconde a arquitetura subjacente da face – os ligamentos e depressões ósseas que podem parecer velhas quando expostas”, explica o cirurgião plástico, membro da Brazilian Association of Plastic Surgeons (BAPS) e da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica (ASPS), Paolo Rubez. Com a gordura, há uma suavidade na juventude, algo que um rosto fino não pode ter, porque estão expostas todas as colinas e vales.



 

Amando ou odiando a gordura facial, o tempo acabará por diminuí-la, sem permissão. Depois dos 30 anos, a pessoa perde cerca de três centímetros cúbicos de gordura facial por ano. Muitas começaram a perceber isso e a tendência de eliminar a gordura facial também criou um curioso paradoxo: há uma crescente busca de pacientes em aumentar suas reservas de gordura por meio da lipoenxertia: uma transferência de gordura envolve a retirada de tecido adiposo de uma parte do corpo e redistribuição para outra.

 

“Simplificando, a gordura é removida por lipoaspiração de áreas onde não é desejada e, em seguida, tratada para ser usada para esculpir áreas que podem ter deficiência de volume”, diz Paolo. “Através de pequenas agulhas, injetamos a gordura no local desejado, em um procedimento que é feito, quando necessário, sob anestesia local, sendo assim livre de dor ou desconforto. Mesmo sabendo que cerca de metade do material enxertado pode ser absorvido pelo organismo, a quantidade restante é repleta de células-tronco capazes de melhorar a qualidade e o aspecto da pele”, afirma o cirurgião plástico.

 

Geralmente são utilizados injetáveis como ácido hialurônico e bioestimuladores de colágeno para essa finalidade, mas a melhor opção, reforça o médico, ainda é a lipoenxertia, a injeção da gordura tratada do próprio paciente. “As transferências de gordura autóloga, ou seja, do próprio paciente, não têm risco de rejeição e oferecem um preenchimento totalmente natural, e duradouro ”, explica.

Como a gordura bucal é uma entidade única, pois possui componentes superficiais e profundos que se estendem das bochechas (perto dos cantos da boca) em direção ao ângulo da mandíbula e até as têmporas, esses diferentes tipos de gordura fornecem preenchimento macio, permitindo que uma área do rosto se misture perfeitamente com a próxima. “A perda de gordura também pode roubar a firmeza da pele. Alguns pacientes se queixam de queda após remoção agressiva de gordura bucal. Outros estão vendo uma frouxidão inesperada depois de perder peso rapidamente com o medicamento para diabetes semaglutida (também conhecido como Ozempic)”, aponta o especialista.

 

Estudos mais recentes elucidaram os poderes regenerativos da gordura, descobrindo que “algumas semanas após a transferência de gordura, as redes de elastina danificadas pelo sol são substituídas por padrões normais. Na prática clínica, sabemos que, se repormos a gordura subcutânea, vemos efeitos na pele – a pigmentação e a textura melhoram, e a pele fica um pouco mais espessa e luminosa. Este é um grande atrativo para os buscadores de gordura, na esperança de recuperar o brilho perdido”, explica o médico.

Gordura vs. preenchimento

Os preenchimentos de ácido hialurônico (AH) podem ser mais precisos que a gordura no que diz respeito aos detalhes, mas a gordura atrai os pacientes com a promessa de volume natural e definitivo. “E, em certos casos, quando é usada especificamente para tratar a perda de volume, a gordura pode oferecer uma aparência mais autêntica, porque é um pouco mais macia e flexível e tende a se mover melhor com o rosto”, diz o cirurgião plástico. Ao contrário do preenchimento, que o médico chama de “tratamento pontual”, a gordura pode corrigir áreas amplas, geralmente sem parecer exagerado.

Outro benefício? A gordura não exige retoques frequentes. “Uma vez que é colocada, em torno de 50% do que é transferido é absorvido, mas como continuamos a perder gordura facial com a idade, os pacientes podem optar por repetir o tratamento, mas com um prazo muito maior que o de outros injetáveis”, defende Paolo. “Independentemente de quanto tempo um ácido hialurônico supostamente dure, sempre resta uma pequena quantidade e ele pode continuar puxando água e causando problemas, especialmente na área do sulco lacrimal/olheiras ”, elucida.

O ácido hialurônico preenchido ainda tem outra desvantagem: com a necessidade de retoques mais frequentes, ele pode se acumular no rosto, dando “uma aparência redonda, inchada e pesada”. Por todas essas razões, alguns veem a gordura como um remédio para os sintomas de “fadiga de preenchimento” que afligem os usuários leais de ácido hialurônico.

Quanto tempo leva para se recuperar do enxerto de gordura facial?

O tempo de inatividade após o enxerto de gordura facial pode variar dependendo da habilidade e técnica do cirurgião. Com o manuseio cuidadoso dos tecidos e as cânulas corretas, os hematomas e o inchaço devem ser mínimos. “Os pacientes voltam para a casa geralmente no mesmo dia e estão bem para sair no dia seguinte”, ressalta Paolo. O paciente terá pequenos curativos cobrindo as áreas onde a gordura foi retirada. Os médicos geralmente permitem exercícios leves após algumas semanas, a fim de evitar a queima de gordura recém-enxertada e estragar seu investimento. “Consulte sempre um cirurgião plástico experiente para esse procedimento”, reforça.

 

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