A radioterapia, a quimioterapia e as cirurgias utilizadas no tratamento do câncer podem levar à infertilidade e, dependendo do tratamento escolhido, podem provocar até mesmo a falência ovariana. Até julho deste ano, o número de internações no Sistema Único de Saúde (SUS), por câncer de mama, foi de 53.343 mulheres. Entre elas, 5.463 tinham entre 20 e 39 anos, período de plena fase reprodutiva, quando o congelamento de óvulos é altamente indicado para preservar a capacidade reprodutiva dessas mulheres.

 

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama é o mais incidente em mulheres no país, excluídos os tumores de pele não melanoma. Para o triênio 2023-2025 são estimados 73.610 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 41,89 casos por 100.000 mulheres. 

 



 

 

Segundo a Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), os riscos de infertilidade em pacientes com câncer são maiores conforme a idade do indivíduo avança. Isso acontece porque a quimioterapia, por exemplo, pode envelhecer o ovário em aproximadamente 10 anos e, assim, pessoas com o aparelho reprodutor feminino com idade superior a 35 anos tendem a ter mais dificuldades para preservar a fertilidade.

 

Por isso, quanto mais cedo a doença for diagnosticada, mais rápido ela poderá tomar uma decisão junto ao médico para preservar a fertilidade, dependendo, claro, do tipo e estágio do câncer.

 

Segundo a especialista em reprodução humana, Maria do Carmo Borges de Souza, diretora-médica da Fertipraxis - Centro de Reprodução Humana, é importante saber que, dependendo da indicação de quimioterapia, a medicação pode comprometer a reserva ovariana, e o índice de mulheres afetadas nesses casos pode chegar a 80%.

 

Como preservar a chance da maternidade no câncer de mama?

 

Maria do Carmo explica que o tipo de tumor e o estágio da doença podem ser determinantes para o impacto na fertilidade feminina, considerando que essas condições direcionam a necessidade e o tipo de quimioterapia, que em alguns casos provocam a menopausa precoce.

 

“O congelamento de óvulos antes do início do tratamento oncológico é uma estratégia para a preservação da chance de gerar filhos. Quando isso é feito, os óvulos são preservados dos efeitos quimioterápicos, conservando, portanto, sua qualidade ao momento da coleta, o que aumenta a perspectiva de sucesso da fertilização in vitro (FIV)”, complementa a ginecologista que também é membro do Conselho Consultivo da SBRA e ex-presidente da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida (Redlara).

 

 

Segundo a especialista, o congelamento de óvulos é hoje a técnica mais indicada. De modo geral, uma estimulação é iniciada em média até duas semanas a partir de uma menstruação. Mas, hoje pode-se fazer este procedimento em qualquer fase do ciclo, o que agiliza a disponibilidade da paciente para o tratamento oncológico em 12 a 14 dias.

 

A fertilização in vitro poderia também ser uma opção, mas a preservação dos óvulos proporciona maior autonomia reprodutiva à paciente nas decisões posteriores para a utilização. “Trabalhos sucessivamente publicados pelo grupo americano de OKTAY e colaboradores demostram que as mulheres que fazem a preservação antes de uma quimioterapia não têm comprometimento de sua sobrevida, e têm maiores possibilidades de formar sua família”, explica a médica.

 

O congelamento de fragmentos de tecido ovariano, também pode ser considerado, embora não seja a indicação primária nestes casos.

 

A esperança na medicina reprodutiva

 

Por outro lado, medicamentos como o tamoxifeno ou inibidores de aromatases, são muito usados para a prevenção de recidivas do câncer de mama, podendo ser parte do protocolo para estimular os ovários. Desta forma, além de participar do estímulo, protegem o tecido mamário dos efeitos do aumento do estradiol neste período de oito a 10-12 dias.

 

“Uma recomendação médica bastante recorrente é a espera de dois anos antes da tentativa de uma gravidez em razão do maior risco de recidiva grave nesse período. Espera-se que para as mulheres com planos de gravidez pode ser comprometedora sem a proteção de um método de preservação da fertilidade. Sonhar com a continuação da vida enquanto se encara a realidade de maneira consciente e amparada é, sobretudo, para muitas pacientes, um aumento considerável da expectativa positiva sobre a doença”, diz a especialista.

 

Como é o congelamento? 

 

O primeiro passo é a estimulação do ovário com medicações hormonais, injeções subcutâneas diárias por oito a 10-12 dias. Neste período são realizadas entre três a quatro ultrassonografias de acompanhamento e ajustes necessários nas doses.

 

Uma vez que os folículos estejam nos tamanhos adequados (maiores de 16 mm), acontece o próximo passo, que é o gatilho ou disparo da ovulação, que faz o amadurecimento final dos óvulos. Cerca de 36h depois é realizada a coleta dos óvulos, via transvaginal com sedação leve, procedimento que dura cerca de 20 a 30 minutos.

 

“Os folículos aspirados são avaliados no laboratório de reprodução, usualmente acoplado à sala de coleta dos óvulos, para a identificação dos óvulos maduros e de boa qualidade morfológica, que serão congelados em até três horas após a coleta. São óvulos que não perderão sua capacidade reprodutiva e nem envelhecerão pelo tempo de congelamento”, afirma o especialista em reprodução assistida e diretor-médico da Fertipraxis Roberto de Azevedo Antunes.

 

De acordo com os especialistas, o resultado da fertilização com o óvulo congelado depende de diversos fatores, por isso ter óvulos congelados não é garantia de gravidez e, sim uma possibilidade, visto que é preservada a idade cronológica na hora do congelamento.

 

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