A pesquisa “A saúde mental do mundo em 2023”, realizada pelo projeto Mente Global, revelou que o Brasil tem o quarto pior nível de saúde mental da análise. O país é o terceiro mais estressado do mundo, com um quociente de saúde mental de 53, abaixo da média global, de 65. O estresse pode desencadear em sentimentos subjacentes, como o desânimo - sintoma que têm tirado a paz dos brasileiros. 

 

 

Segundo o neurocientista Fabiano de Abreu Agrela, o humor baixo pela manhã, que persiste ao longo do dia, está frequentemente relacionado a níveis reduzidos de serotonina, um neurotransmissor que regula o humor e o bem-estar. "A baixa serotonina está diretamente ligada a uma sensação de ansiedade e à busca por algo que nos recompense", explica Fabiano, membro da Society for Neuroscience nos Estados Unidos e da Royal Society of Biology no Reino Unido. “É nesse momento que nosso sistema de recompensa, governado pela dopamina, entra em ação, mas quando ambos os níveis estão baixos, surge a falta de motivação e o sentimento de vazio", completa. 

 

 


 

A baixa motivação diurna - aquela sensação de desmotivação que aparece já nas primeiras horas do dia - pode ser resultado de expectativas frustradas ou de uma sobrecarga mental gerada pelo excesso de pendências. Isso cria um ciclo vicioso, onde a falta de serotonina reduz a dopamina, prejudicando a capacidade de encontrar prazer e satisfação nas atividades diárias.

 

Planejamento e metas 

 

Fabiano explica que a chave para romper esse ciclo está em uma estratégia simples: criar metas e planejar recompensas. "Estabelecer metas, mesmo que pequenas, é uma forma eficaz de regular os neurotransmissores e reverter a baixa motivação. Ao criar expectativas saudáveis e organizar as pendências, conseguimos ativar o sistema dopaminérgico e restaurar o equilíbrio emocional", diz o especialista.

 

 

Ele destaca, por exemplo, a importância de combinar metas de curto e longo prazo. “As metas são o que eu chamo de ‘motivos de vida’. Planeje algo grande para o futuro, como comemorar o ano novo em outubro, mas também crie pequenas recompensas semanais, como um encontro ou uma atividade de lazer que te traga satisfação imediata", sugere.

 

A equação emocional

 

Para simplificar a compreensão dessa dinâmica neuroquímica, Fabiano usa uma metáfora matemática. "Penso nas nossas funções neuroquímicas como uma equação de potência. Se sua ‘potência emocional’ está em um coeficiente angular de -5, o que representa desmotivação, você precisa de expectativas que movam isso para -2, uma expectativa positiva moderada, e de conquistas que te levem a +7, que seria uma satisfação intensa", explica.

 

 

 

Embora esse seja um modelo fictício, a ideia por trás da metáfora é clara: nossas metas e conquistas influenciam diretamente o equilíbrio de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, regulando o nosso humor e motivação ao longo do dia.

 

A proposta do neurocientista é adotar um planejamento estratégico que envolva tanto a resolução de pendências quanto a criação de metas que alimentem a motivação diariamente. "Quanto mais organizados e focados em pequenos objetivos estamos, mais nossa química cerebral responde de forma positiva", reforça o neurocientista.

 

Por fim, ele afirma que essa abordagem é uma maneira prática de enfrentar a desmotivação e a fadiga emocional que, para muitos, marcam o início do dia. "Ao definir metas claras e recompensas, transformamos um ciclo de estagnação em um ciclo de conquistas, elevando nosso bem-estar emocional e psicológico".

 

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