Diante da complexidade de algumas doenças, existem casos em que um ou até mais órgãos chegam a uma perda de função - afetando, consequentemente, sua capacidade vital. Esses casos são extremamente comuns, evidência disso é que, de acordo com o Sistema Nacional de Transplantes e dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), em média, cerca de três mil pessoas morrem por ano enquanto aguardam a cirurgia. Só no primeiro semestre deste ano, foram 1.793 mortes, sendo 46 crianças. 



De janeiro a junho, foram feitos 4.579 transplantes de órgãos, 8.260 de córnea e 1.613 de medula óssea, totalizando 14.452 transplantes. Já em outubro, quase 45 mil pessoas estão na lista de espera. A taxa de doadores de órgãos ficou 2% abaixo da obtida no ano passado e 7,1% menor que a taxa prevista para este ano até junho, segundo o relatório da ABTO. 

 




 

 

É seguro?

 

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil é líder global em transplantes de órgãos, tecidos e células - sendo que o Sistema Único de Saúde (SUS) financia aproximadamente 95% dessas operações no País. Em termos absolutos, o Brasil é o segundo maior executor de transplantes do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (EUA).


 

Lucas Nacif, cirurgião gastrointestinal e membro da Associação Brasileira de Transplante de órgãos, enfatiza que casos como o revelado neste mês, de contaminação por HIV em pacientes transplantados, são “atípicos” e não podem interferir ou desestimular a população na conscientização da doação de órgãos.

 

“O sistema nacional de transplante possui diversos protocolos que tornam o sistema de análise dos doadores muito seguro. Durante o processo de seleção são testados, não somente o HIV, mas vários outros vírus e doenças transmissíveis, o que tornou o processo muito seguro e eficiente durante muitos anos”, enfatiza.
 

 

Dessa forma, Lucas reforça que o Brasil possui um sistema de transplantes altamente seguro e eficaz. Casos como o mencionado acima não são comuns. O Brasil tem uma rede consolidada que salva vidas diariamente.


 

Como funciona a fila de espera ?

 

Para entender como funciona a fila de espera, o especialista explica que quando chega este momento é comum surgirem muitas dúvidas, desde as mais simples envolvendo quem pode ser doador e como doar, até questões mais graves, como um acesso mais fácil para o começo da fila. Por isso, é tão importante a orientação e informação sobre o tema.

 

 


“A lista da fila do transplante é uma lista única, séria e sobretudo criteriosa. E sim, existe um lista única relacionando todas as pessoas que precisam ser transplantadas, sejam elas oriundas de hospitais públicos, privados, com ou sem convênio médico e a ordem de prioridade acontece por meio de uma série de fatores que vão desde histórico, gravidade da doença e claro, o órgão no qual a pessoa necessita, por isso algumas pessoas parecem ‘ter mais sorte’, mas no caso, costumam ser a que estão com um quadro mais grave”, pontua.


 

Como funciona a doação em vida?

 

No caso específico de doação em vida, ela pode acontecer desde que ocorra em um órgão duplo como o rim, ou apenas parte de um órgão, como fígado ou pulmão, que são órgãos mais comumente transplantados. Outra possibilidade, ainda, é a doação de medula óssea – um dos mais realizados. É bom ressaltar que, o doador em vida, precisa estar em ótimo estado de saúde para não se comprometer a si.


 

Lucas destaca também que os números de doadores no Brasil precisam ser mantidos: “Dependemos 100% de doações e, para que o número de transplantes efetivos cresça, a educação contínua é essencial para aumentarmos uma cultura de doação e melhorarmos os índices. Um único doador falecido, por exemplo, pode ajudar até dez pessoas que estão na fila do transplante. Em resumo, a doação de órgãos representa um avanço na medicina contemporânea, permitindo não apenas a preservação de vidas, mas também a promoção de uma cultura solidária”. 


 

Quero ser um doador

 

No caso de doação pós morte, é imprescindível que haja uma conversa com os familiares, já que são eles que repassam a decisão do falecido para a equipe médica. Por fim, o cirurgião enfatiza também que o procedimento não é tão simples e para encontrar um órgão compatível, todos os doadores são pré-avaliados por equipes médicas, focadas em órgãos específicos, para conferir a disponibilidade do doador.



“Existem níveis, e geralmente, consideramos que o paciente internado até sete dias é ótimo para a prática, porém, casos que vão além deste prazo, não são necessariamente descartados. Ao contrário de alguns outros critérios piores, como pessoas com histórico de uso drogas, ingestão de bebidas alcoólicas, fumantes e com idades mais avançadas”, informa.

 

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