Quando o assunto é saúde, propalar inverdades pode ser perigoso. É o que está acontecendo em plena campanha de conscientização sobre o câncer de mama, o Outubro Rosa. A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) acaba de divulgar um comunicado no qual  expressa preocupação com a proliferação de fake news sobre a doença, no que diz respeito a diagnóstico, tratamento e prevenção.

Presidente do departamento de imagem da SBM, Henrique Lima Couto alerta que influencers e supostos profissionais de saúde propagam desinformação sobre diagnósticos e tratamentos, promovendo terapias sem comprovação científica e cursos de “cura” não regulamentados. O documento da SBM esclarece equívocos, reforça a eficácia da mamografia e convoca autoridades a agirem contra as práticas que prejudicam a saúde pública.

 



 

Segundo o texto, "as redes sociais possuem inúmeros perfis de pessoas que se dizem médicas ou profissionais de saúde que fazem afirmações sensacionalistas e mentirosas sobre o assunto".

 

Aparentemente, como elucida a SBM, o modus operandi é sempre o mesmo:

 

- Divulga-se algo absurdo e sem nenhuma comprovação científica (ou já provado o contrário), sempre baseado na opinião da pessoa ou de algum outro dito influenciador

 

- Venda de algum tratamento ou terapia milagrosa que vai curar ou evitar a doença, geralmente através de infusões sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e vendidas na própria clínica ou consultório

 

- Outra forma de lucro é através de cursos voltados para médicos, profissionais de saúde ou até pessoas sem nenhuma formação, para ensinar as tais terapias

 

"Em pleno Outubro Rosa, quando o tratamento e a prevenção do câncer de mama deveriam ser o foco principal de atenção, temos visto com tristeza o surgimento de postagens que afirmam absurdos. Dentre as maiores nulidades observadas, estão as teorias que a mamografia causa câncer de mama, que o câncer de mama não existe e que é possível prevenir ou tratar o câncer de mama através do uso de hormônios", diz o comunicado, assinado por Augusto Tufi Hassan, presidente da SBM, e Guilherme Novita, diretor-geral da Escola Brasileira de Mastologia.

 

O texto lista as principais fake news sobre o assunto, e faz considerações, entre elas:  

 

- Câncer de mama não existe: o câncer de mama é a principal neoplasia maligna entre as mulheres brasileiras, sendo responsável por mais de 70 mil novos casos ao ano no país. "Menosprezar essa doença é um desrespeito às milhares de vítimas e suas famílias, além de poder causar tratamentos inadequados em mulheres que acabaram de descobrir a doença."

 

- A mamografia causa câncer de mama: a mamografia é a principal forma de prevenção de mortes pela doença. O diagnóstico precoce, obtido pela mamografia, permite a descoberta do câncer em estágios menores, quando as chances de cura são maiores e os tratamentos menos agressivos.

 

Estudos comparativos realizados em países europeus e norte-americanos demonstraram que a realização de mamografia anual em mulheres entre os 40 e 75 anos reduz em 20% a 30% a mortalidade do câncer de mama em comparação com mulheres que não realizaram o exame.

 

- Câncer de mama pode ser tratado com o uso de hormônios: o uso de hormônios sexuais (estrógeno, progesterona e testosterona) é contraindicado em casos de câncer de mama, pois estimula o crescimento de células tumorais.

 

Inúmeras publicações científicas mostram esse efeito e a piora na evolução da doença. Inclusive, a terapia de alguns casos de câncer de mama é feita através de bloqueio destes hormônios, com resultados comprovados na diminuição da mortalidade.

 

"Vale ressaltar que o tratamento do câncer de mama teve inúmeros avanços nos últimos anos e que os casos iniciais da doença têm taxas de cura superiores a 95%, utilizando cirurgias que preservam a mama e muitas vezes sem necessidade de quimioterapia."

 

 

Ainda conforme o documento, apesar de todos os avanços, "muitas pessoas ainda têm a visão antiga da doença, que era geralmente mortal e necessitava de tratamentos agressivos como mastectomia e quimioterapia. O desconhecimento dos avanços da medicina cria campo fértil para a atuação destas pessoas mal-intencionadas, que visam desinformar para obter lucros pessoais", alertam os especialistas.

 

O texto cita artigo recente de autoria de Andrew Elder, médico consultor em medicina aguda para idosos, ex-diretor médio do MRCP e atual presidente do Royal College of Physicians of Edinburgh, publicado na revista britânica British Medical Journal, em que fala sobre as exigências atuais para a formação de médicos.

 

O artigo ressalta a importância de tratar a doença e o doente de forma correta e que não há atalhos fáceis para isso. "Infelizmente, a educação médica é algo que requer muito tempo de dedicação e nem sempre é remunerado à altura. Todavia, isso não pode ser usado como desculpa para o surgimento deste tipo de 'profissional', que usa a desonestidade para obter maior remuneração", complementa o comunicado da SBM, pontuando que a entidade se orgulha de possuir cerca de 2 mil especialistas em mastologia dentre seu quadro associativo, presentes em todos os estados brasileiros.

 

"Essas pessoas possuem formação dedicada para a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças mamárias, obtida através de anos de estudo e constante atualização em congressos e simpósios".

 

A relação desses profissionais está disponível no site da SBM (www.sbmastologia.com.br) e deve servir de orientação para pessoas que tenham dúvidas sobre a saúde mamária.

 

"Finalmente, conclamamos aos órgãos responsáveis que tomem atitudes contra essas pessoas desonestas que repassam informações mentirosas sobre esse problema tão importante na saúde brasileira que é o câncer de mama", conclui o comunicado.

 

 

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