mulher, de costas, mostra que emagreceu e cintura da calça ficou larga -  (crédito:  Oleg Mityukhin/Pixabay)

Mais de 70 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam algum tipo de transtorno alimentar

crédito: Oleg Mityukhin/Pixabay

Desde os primórdios da internet, comunidades online têm sido espaço para compartilhar interesses, mas nem sempre essas conexões são saudáveis. No X, antigo Twitter, uma das recentes manifestações desse fenômeno é o EDTW (Eating Disorder Twitter), grupos que reúnem jovens ao redor do mundo para trocar técnicas de emagrecimento e compartilhar ideias distorcidas sobre o próprio corpo e a alimentação.  

 

Nessas comunidades, é comum o compartilhamento de fotos pessoais e de autolesão, memes que romantizam comportamentos prejudiciais, e a exaltação de ídolos do K-pop, como a cantora sul-coreana Jang Won-young, cujo corpo magro é tratado como meta. Os perfis costumam exibir informações como peso, altura e objetivos de emagrecimento, muitas vezes decorados com emojis e imagens fofas para mascarar o conteúdo nocivo.  

 

 

 

Em uma das postagens, há uma sequência de fotos que mostra o antes e depois de uma jovem, onde ela pergunta: “EDTWT você está orgulhosa de mim?”. Em outro, uma ilustração mostra o círculo vicioso em comer, se sentir mal porque comeu, não comer, e sentindo doente porque não comeu. 



Segundo a nutróloga Marcella Garcez, da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), os transtornos alimentares vão muito além da alimentação e estão associados a distúrbios emocionais profundos que afetam o organismo como um todo. "A anorexia nervosa, por exemplo, é o transtorno mental com maior taxa de mortalidade, seja por complicações físicas, alterações psiquiátricas ou suicídio", alerta a especialista.  


Os transtornos mais comuns incluem anorexia e bulimia, ambos marcados por obsessão com o peso e uma percepção distorcida da imagem corporal. Outras condições, como o transtorno da compulsão alimentar periódica e o transtorno da ingestão alimentar restritiva/evitativa, também trazem consequências graves à saúde física e mental, mesmo que nem sempre estejam associadas ao desejo de emagrecimento.  


De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, mais de 70 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam algum tipo de transtorno alimentar. A maior incidência ocorre entre jovens, principalmente mulheres, com destaque para a anorexia nervosa entre adolescentes de 12 a 17 anos.  


Redes sociais 


A perpetuação de hábitos que visam o emagrecimento vai na contramão de campanhas contra a pressão estética fomentada pelas redes sociais. É antiga a relação entre exposição a perfis de personalidades notórias, as quais realizam procedimentos estéticos e dietas, e a distorção da noção de corpo ideal. 

 

"As redes sociais criam bolhas onde a magreza extrema é glorificada, e isso afeta, principalmente, jovens em momentos de vulnerabilidade", explica Mara Maranhão, psiquiatra especialista em transtornos alimentares pela Unifesp.  

 

Um episódio recente, que tem sido muito discutido, é o da cantora Maiara, da dupla Maiara & Maraisa, considerado com um caso de pressão estética, já que a artista perdeu 38 kg e agora se encontra com 45 kg. Nas redes, a cantora contou sobre realizar dietas, exercícios físicos e acompanhamento médico. 


Em seus posts, fãs comentam sobre a possibilidade de um transtorno alimentar - o qual nunca foi confirmado pela cantora.  


Consequências


A busca por um corpo "ideal" pode levar à desnutrição, problemas cardiovasculares, ansiedade, depressão e até mesmo à morte. Identificar e tratar transtornos alimentares precocemente é crucial para evitar essas consequências. "Não é incomum que pacientes com esses distúrbios tenham deficiências nutricionais graves devido a padrões alimentares restritivos", aponta Marcella.  


Para além do tratamento médico, especialistas defendem a necessidade de combater a idealização de corpos irreais nas redes sociais. Promover uma relação saudável com a alimentação e o corpo, além de incentivar conversas abertas sobre saúde mental, são passos fundamentais para prevenir o desenvolvimento de transtornos alimentares. 


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