Para a médica Isabel Braga, o sono não é apenas uma criação da mente humana. De acordo com ela, trata-se de um estado reversível de desligamento da atividade sensorial e motora voluntária. "Que desempenhou papel importante na proteção, formação e resiliência da espécie. Permitiu que o cérebro se desenvolvesse e se tornasse como é hoje. Mas, por que existem pessoas que despertam no meio da noite?", indaga.
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A partir de uma leitura que pode ser realizada até mesmo por leigos no assunto, Isabel sintetiza conclusões de anos de estudo ao apresentar os mecanismos formadores da orquestra dos neurotransmissores envolvidos com a biologia do dormir, as fases do sono e a forma como os genes se estabelecem diante do ritmo circadiano. A também mestre em Saúde Coletiva descreve o que pode desencadear o bruxismo, os pesadelos e a insônia, além de analisar os componentes presentes em remédios utilizados para dormir, como Clonazepam e Zolpidem.
Diversas substâncias têm ação GABAérgica, como chá de camomila (Por conter o flavonóide apigenina), valeriana, álcool, benzodiazepínicos [...] considerados a nova geração de medicamentos para insônia, embora não tratem a causa e estejam se multiplicando relatos em todo o globo de pacientes que se levantaram e executaram atividades (como abrir o Tinder e comprar um piano de cauda), quando acreditavam estar dormindo
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Noites de Renovação discorre ainda sobre como a adenosina e o café influenciam o estado de alerta e expõe as consequências do pensar para o cérebro, como o cansaço. A médica traz alguns recortes relacionados ao tema: visão evolucionária sobre o comportamento de sono dos bebês e dos pais (comparação com o dos gorilas) e autismo sob a perspectiva de genes sensoriais evolutivos.
Em 11 capítulos, Isabel discute de que modo a privação de sono pode levar a erros críticos, tais quais acidentes de trânsito e desastres nucleares (exemplo de Chernobyl) e aborda a relação entre não dormir bem e a vulnerabilidade humana, como o impacto das longas jornadas de trabalho. Para a especialista, portanto, é necessário levar em consideração o efeito na saúde, comportamento e sociedade em geral. O apelo da autora é por uma mudança de paradigma para que o sono seja reconhecido como um marcador social e cultural.
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Sobre a autora: Isabel Braga é médica pela Universidade Federal di Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em medicina pela Universidade de Lisboa e mestre em Saúde Coletiva pela UFRJ. Doutora em Saúde Pública e Meio Ambiente pela Fiocruz. Possui especializações em Medicina do Trabalho e Psiquiatria. Tem vasta experiência como concursada em diversas instituições como Inmetro e Fiocruz. Pesquisadora com foco em sono, é autora de diversos artigos científicos e agraciada com o prêmio Eric Roger Wroclawski em 2017.