O diabetes é uma das doenças crônicas mais prevalentes e um grave problema de saúde pública em todo o mundo. Estima-se que mais de 537 milhões de adultos vivem com essa condição. O Brasil ocupa a quinta posição no ranking dos países com maior incidência de diabetes mellitus, sendo o líder entre as nações da América do Sul e Central, com 17 milhões de portadores da doença.
Uma entre as diversas doenças secundárias ao diabetes é a doença renal crônica, que silenciosamente vai provocando lesões nos rins. Dependendo do nível de acometimento, pode ocorrer a falência total dos órgãos, ou seja, a perda de 85% da capacidade de funcionamento. Quando a doença atinge essa fase, também chamada de fase 5, a vida do paciente é mantida pela terapia chamada diálise, quando uma máquina faz a substituição dos rins, filtrando o sangue e eliminando líquidos em excesso, até que se possa realizar um transplante.
Atualmente, no Brasil, 155 mil pessoas estão passando por tratamento de diálise, um aumento de mais de 100% nos últimos 10 anos. E uma em cada dez pessoas, com idades entre 20 e 79 anos, sofre de diabetes, segundo dados do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF 2021).
As projeções indicam que até 2030, esse número alcançará 643 milhões, e em 2045, a estimativa é de 784 milhões de casos. Torna-se cada vez mais crucial adotar estratégias e políticas de intervenção eficazes para conter o aumento no número de casos dessa doença.
A nefrologista, Lecticia Jorge, gerente médica da Fresenius Medical Care, explica que existem dois tipos de diabetes, a do tipo 1 e a do tipo 2. “A mellitus tipo 1 normalmente surge na infância, e é caracterizada por um defeito nas células do pâncreas, que produzem o hormônio chamado insulina. Ele é responsável por levar a glicose para dentro das células. Com a falta da insulina no sangue, os níveis de glicose ficam altos. Porém, a maior parte dos pacientes diabéticos apresentam o tipo 2, que usualmente se manifesta após os 40 anos, e é caracterizado por uma resistência à insulina, o que acaba por também gerar aumento dos níveis de glicose no sangue”, esclarece.
O diabetes pode prejudicar os rins, levando a uma condição conhecida como doença renal crônica (DRC), como explica a especialista: “Em uma primeira fase os rins são afetados pelo aumento da glicose do sangue que gera uma hiperfiltração e aumento das pressões dentro do rim. Essa manifestação aos poucos vai comprometendo a barreira de filtração dos rins e os vasos renais, que passam a deixar passar por exemplos proteínas que agravam a lesão e progressivamente os rins vão perdendo funcionalidade e passam da fase de hiperfiltração para redução da filtração, que vai levando a complicações como hipertensão arterial e insuficiência renal”, ressalta.
A diálise passa a ser necessária quando essas lesões afetam 85% da capacidade de funcionamento dos rins, ou seja, pacientes nesta condição precisam realizar a terapia de diálise – que é quando uma máquina passa a fazer a filtragem do sangue - no mínimo três vezes por semana.
O diabético também é mais propenso à desidratação, a infecções e ao desenvolvimento de cetoacidose - estado grave no qual o corpo produz ácidos sanguíneos em excesso, o que o deixa mais predisposto à insuficiência renal aguda.
“Mas é importante lembrar também que a maior parte das pessoas com diabetes não desenvolvem a insuficiência renal crônica, 70% delas. E 30% desenvolvem. Mas os diabéticos precisam ter um acompanhamento médico, porque não se sabe quem vai chegar à fase terminal, o risco existe para todos os diabéticos”, lembra a nefrologista.
Dentre os sintomas mais comuns do diabetes estão:
- Aumento do volume urinário
- Vontade de urinar toda hora
- Sede exagerada
- Visão turva
Mas qualquer tipo de diabetes mellitus pode evoluir silenciosamente, sem sintomas, nas suas fases iniciais, sendo ainda mais comum que isso ocorra no diabetes tipo 2.
É preciso atenção especial na alimentação. Alimentos com alto índice glicêmico, ou seja, que geram picos de glicose no sangue, como farinhas brancas, batata e açúcar refinado são responsáveis por jogar rapidamente na circulação sanguínea grandes quantidades de glicose. Com isso, geram a necessidade de uma liberação rápida de muita insulina para colocar esse excesso de glicose para dentro das células e, muitas vezes, essa quantidade grande de insulina será convertida em gordura.
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"Importante notar que, após esse pico de insulina e a entrada da glicose para célula, essa queda pode gerar fome e vontade de comer mais carboidratos de índice glicêmico alto”, afirma Lecticia.
A glicemia, que é o nível de açúcar no sangue, quando mal controlada, aumenta o risco de morte até mesmo nos pacientes que já estão em diálise. Desse modo, renal crônico ou não, é fundamental que o paciente faça o controle do diabetes com alimentação adequada, ingestão de medicamentos e prática de atividades físicas. “O controle rigoroso do diabetes é essencial para prevenir danos aos rins e outras complicações. Medir regularmente os níveis de glicose no sangue, manter uma dieta saudável e ativa, e seguir o plano de tratamento são passos cruciais”, destaca a nefrologista.
O que as pessoas com diabetes podem fazer para prevenir a insuficiência renal?
- Controlar níveis de açúcar no sangue
- Cuidar da pressão, evitar sal e fazer exercícios físicos são medidas preventivas também essenciais
- Fazer exames para medir a proteína albumina na urina e o nível de creatinina no sangue pelo menos uma vez por ano
- Evitar ingerir bebida alcoólica
- Evitar fumar também é muito importante
Para quem já tem a insuficiência renal crônica, é recomendável controlar os níveis glicêmicos por exames de sangue de glicemia e hemoglobina glicada, ou por medidas de dextro – que consiste numa medição feita em casa, a partir de uma gota de sangue colhida na ponta dos dedos. Assim, permite o ajuste correto da medicação para controle do diabetes.
A maioria dos indivíduos em tratamento dialítico necessita usar insulina em doses fracionadas para o controle do diabetes. Muitas vezes é necessário utilizar dois tipos de insulina, uma de ação rápida e outra de ação lenta. “Alguns dos medicamentos orais, chamados hipoglicemiantes orais, não podem ser usados por pessoas que fazem diálise. Sempre tem que perguntar para o médico quais medicamentos podem ser usados”, reforça.
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