Apneia do sono não é apenas um ronco incômodo, ela é uma doença grave em que a respiração para repetidas vezes, por tempo suficiente para interromper o sono e gerar danos à saúde física, mental e emocional. Sabemos que a qualidade do sono impacta na saúde em geral. Mas o que muita gente ainda não sabe é que as doenças neurodegenerativas - Alzheimer, Parkinson, demência senil - e os distúrbios do sono estão diretamente ligados.
Um estudo recente, publicado pela revista científica "Neurology", apontou a apneia do sono como fator de declínio cognitivo e possível causador de demências - incluindo o Alzheimer - que representam uma crise crescente de saúde pública global. Outro estudo publicado no "American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine" analisou as informações de saúde de 208 pessoas com idade entre 55 e 90 anos, sendo que mais da metade delas tinham apneia do sono leve ou moderada a grave.
Ao acompanhar o grupo ao longo dos anos, os cientistas constataram que aqueles com a condição eram mais propensos a ter níveis aumentados de depósitos amilóides no cérebro, um tipo de proteína conhecida por estar envolvida no desenvolvimento da doença de Alzheimer.
De acordo com a coordenadora do Serviço de Fisioterapia do Sono da Rede Mater Dei de Saúde, Renata Aurichio, para prevenir, curar ou retardar a progressão da demência, a identificação de fatores de risco tratáveis que aumentam o risco de demência, como a apneia obstrutiva do sono, pode oferecer meios promissores para modificar a ocorrência ou gravidade da doença.
“Eu vivia cansado, com sono e desanimado. A apneia estava afetando meu relacionamento conjugal, profissional e até familiar”, conta Mateus Borges, 38 anos. Ele tem apneia obstrutiva grave e é paciente do serviço de Medicina do Sono da Rede Mater Dei. “Eu estava perdido no tratamento e, desde que tive acompanhamento médico com a Renata, tenho encontrado novas perspectivas e possibilidades para melhorar minha saúde e minha vida como um todo. É verdade que estou no início do tratamento, mas tanto eu quanto minha esposa e família estamos surpresos com os resultados, disposição para atividades rotineiras, perda de peso, sem sono, sem fadiga, dormindo quieto”, relata o paciente.
Renata Aurichio, também especialista no tratamento dos distúrbios respiratórios do sono, explica que a relação entre apneia obstrutiva do sono e doenças neurodegenerativas permanece pouco elucidada na literatura, mas tem sido o foco de estudos extensivos. “A literatura mais recente sobre o tema aponta para uma relação bidirecional, com uma condição interferindo na outra e vice-versa”, afirma ela.
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A especialista explica que a apneia é uma condição potencialmente tratável e que exige uma aliança terapêutica, entre paciente e fisioterapeuta em sono. Considerando isso, avaliações e tratamentos adequados significam aumentar a expectativa de vida, reduzir a incidência de outras doenças e melhorar a qualidade de vida. “Temos estabelecido um protocolo de acompanhamento que contempla o período mínimo de três meses de acompanhamento e temos obtido sucesso terapêutico. Nossos indicadores mostram que 79,2% dos pacientes por nós adaptados ao CPAP, um dispositivo de pressão positiva contínua nas vias aéreas, indicado para manejo dos distúrbios respiratórios do sono, têm excelente adaptação e perpetuam com o acompanhamento a longo prazo”, comenta.
A apneia obstrutiva do sono acontece quando há um fechamento, um colamento da via aérea do paciente no momento em que ele está dormindo. “Essa diminuição de espaço aéreo limita a passagem de fluxo respiratório, diminuindo também a concentração de oxigênio no corpo. Isso leva à fragmentação do sono, com despertares recorrentes, prejudicando a capacidade restauradora do sono.”
“Sem contar que a apneia do sono é considerada um fator de risco independente para o desenvolvimento de hipertensão arterial e também parece estar implicada no aumento do risco de doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral, resistência à insulina, déficit cognitivo, alteração da substância branca, ansiedade e depressão”, enfatiza.
A especialista ainda explica que o fisioterapeuta, através de um plano terapêutico singular, vai avaliar os antecedentes de saúde, padrão respiratório, preferências e hábitos de sono e exames complementares, conduzirá para o equipamento de CPAP mais indicado e os ajustes finos ideais caso a caso. "O aparelho irá mandar uma pressão positiva na via aérea, como uma força mecânica, desobstruindo-a e permitindo a passagem de ar no período de sono, seja diurno ou noturno, diminuindo a fragmentação, melhorando a qualidade do sono e perpetuando com a melhor oxigenação”.
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