Um estudo publicado nesta semana pela revista médica "New England Journal of Medicine" concluiu que o aborto medicamentoso pode ser realizado com segurança em gestações em estado muito inicial, após a confirmação da gravidez por meio de teste e, portanto, sem necessidade de esperar um ultrassom.

 

A pesquisa, assinada por 21 cientistas associados a instituições de sete países, concluiu que o uso de mifepristona e misoprostol, as chamadas "pílulas do aborto", pode ser feito durante os primeiros 42 dias de gestação, antes da confirmação de gravidez intrauterina.

 

Hoje, o procedimento padrão é a realização de uma ultrassonografia para avaliar se a implantação do embrião está dentro do útero -quando ela acontece em outra parte do corpo, como nas tubas uterinas, é considerada "ectópica" e causa risco de vida.

 



 

 

O estudo teve participação de 1.504 mulheres em 26 locais de nove países. Elas foram separadas em dois grupos: o primeiro recebeu a medicação nos primeiros 42 dias da gravidez, e o segundo seguiu o procedimento padrão, de aguardar a realização do exame de imagem -feito normalmente entre a sexta e a sétima semana.

 

No grupo que recebeu a mifepristona e o misoprostol antecipadamente, o aborto completo aconteceu em 95,2% dos casos; entre as mulheres que esperaram para tomar os remédios, o aborto ocorreu em 95,3% dos casos. Além disso, as mulheres do grupo com acesso precoce reportaram menos sintomas de dor e sangramento.

 

A taxa de complicações ficou em 1,6% para as mulheres do primeiro grupo, e 0,7% para o segundo, ocorrendo em 12 e cinco casos, respectivamente.

 

Os cientistas concluíram que não há ganhos significativos na espera para uso da "pílula do aborto". O uso precoce, portanto, pode ser feito com confirmação da gravidez por meio de um simples exame de sangue, por exemplo. Em mulheres não grávidas, os efeitos colaterais da medicação podem incluir cólicas.

 

Agora, os pesquisadores querem testar a eficácia de uma nova combinação de medicamentos para aborto em gestação ectópica.

 

 

Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso de mifepristona e misoprostol para interrupção da gravidez até a 12ª semana de gestação intrauterina.

 

O uso precoce de medicamentos abortivos pode ser relevante porque, nos dois grupos, as mulheres expressaram o desejo de terem o aborto feito o mais rápido possível. Além disso, a possibilidade de uso precoce da "pílula do aborto" em segurança é relevante em lugares onde o direito ao aborto foi restringido.

 

Nos Estados Unidos, por exemplo, estados como o Texas possuem leis que criminalizam o procedimento após as seis primeiras semanas de gestação - tempo médio mínimo para possibilidade de confirmação da implantação intrauterina.

 

A legislação barra efetivamente quase a totalidade dos abortos legais, cenário que pode ser diferente caso seja possível acessar a mifepristona e o misoprostol antes desse marco, como aponta a pesquisa.

 

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