Embora a menstruação seja um fenômeno natural, ela continua sendo envolta em conotações místicas, muitas vezes negativas, associadas aos desconfortos que provoca. O ciclo reprodutivo feminino, que culmina no sangramento mensal, é acompanhado de sintomas físicos e psíquicos como inchaço, cansaço, dor nas pernas, irritabilidade e cólicas, entre outros.
Recentemente, a revista "Nature Epidemiology" discutiu os principais mitos relacionados à menstruação, entrevistando seis pesquisadores de diferentes partes do mundo para compartilhar suas perspectivas sobre crenças envolvendo alimentação, humor, sangramento e dor. Entre os especialistas convidados, está Márcia Mendonça Carneiro, professora titular de Ginecologia da Faculdade de Medicina da UFMG e diretora científica da Clínica ORIGEN, em Belo Horizonte. “As cólicas menstruais atingem entre 15% e 50% das mulheres jovens e podem vir acompanhadas de sintomas como náuseas, vômitos, alterações intestinais, cansaço, tontura, sensação de peso nas pernas e dor de cabeça”, comenta.
A especialista ressalta que, em alguns casos, a intensidade das cólicas pode comprometer seriamente a qualidade de vida da mulher. Nesses casos, a avaliação médica é fundamental, pois condições como a endometriose podem ser identificadas.
A endometriose é uma doença benigna que afeta cerca de 10% das mulheres jovens, causando cólicas intensas e infertilidade. No entanto, o diagnóstico dessa condição costuma ser demorado, levando de cinco a 12 anos, com uma média de quatro a sete anos no Brasil. "Esse atraso é, em parte, devido à ‘normalização da dor’, pois muitas mulheres com endometriose relatam que médicos, incluindo ginecologistas, afirmaram que a dor era comum e aceitável. Além disso, 47% das mulheres consultam cinco ou mais médicos antes de receberem o diagnóstico correto e tratamento adequado. A jornada dessas mulheres frequentemente envolve múltiplas consultas e tratamentos, incluindo cirurgias, sem alcançar alívio da dor ou a desejada gravidez".
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A negligência com as cólicas e os sintomas menstruais podem ser atribuídos a fatores culturais, familiares e do sistema de saúde. “Pesquisas revelam que muitas mulheres consideram a dor tolerável e não buscam tratamento adequado devido a fatores como falta de acesso a cuidados médicos, preferência pela automedicação, desconhecimento das opções de tratamento, experiências negativas com profissionais de saúde, vergonha e falta de apoio familiar”.
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